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O
que diz o Holstee Manifesto pode parecer – e talvez seja… – um conjunto de
banalidades e frases feitas, máximas de vida tiradas de um manual de
auto-ajuda. Em qualquer caso, a história é curiosa, porque reveladora dos
tempos que vivemos. Em 2009, no auge da crise nos Estados Unidos, dois irmãos,
Mike e Dave, mais o seu sócio, Fabian, fundaram uma empresa. Hoje em dia,
ninguém funda uma empresa, com operários e investimento. De Bill Gates a Steve
Jobs, todos querem envolver o que fazem numa aura mística. Aura, o lema de Walter Benjamin & Co. Também estes jovens quiseram
criar um «projecto», um «conceito» ou, como agora se diz, construir uma
«narrativa». Mais do que uma marca comercial, ambicionaram instaurar um novo
«estilo de vida» (ou lifestyle, em Inglês
Técnico). O Holstee Manifesto tornou-se, como agora também é moda dizer-se, um
«fenómeno viral». E a empresa, claro está, prosperou nos lucros. Nas
vendas, no comércio naquilo que, deixemo-nos de tretas, dá dinheiro vivo. Ideias banais, frases
feitas, lugares-comuns, o certo é que a coisa parece ter resultado. O Manifesto talvez seja, ao
cabo e ao resto, uma self-fulfilling prohecy. Mais para quem o concebeu do que
para quem o leu. Ou, melhor, para quem o consumiu. Não consta que alguém tenha
passado a reger a sua vida pelas regras do Manifesto, como, aliás, poucos devem
ter sido os que aplicaram à letra as regras do celebérrimo If, de Kipling, penduradas nas paredes de todos os quartos de todos os
adolescentes, autor destas linhas incluído. De pouco serviu o If, de pouco serve o Manifesto Holstee.
Mas a marca parece ter prosperado. Qualquer dia desaparece, pois também faz
parte da lógica destas coisas serem um fogo-fátuo que desponta e desfalece no Império do Efémero. Tudo muito pós-moderno, em suma. This is your life, life is short, etc., etc.
António Araújo
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