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João trouxe-me mais uma história curiosa de memórias e reencontros, a história de Juan Romero. Aos dez
anos, emigrou do México para os Estados Unidos. Chegado à adolescência, o padrasto,
que trabalhava no Ambassador Hotel, desejoso de o tirar das ruas violentas de Los Angeles,
arranjou-lhe um part time como
paquete no hotel. Por lá passaram muitas celebridades, mas seria Robert
Kennedy, e a sua morte, que iriam celebrizar Juan Romero. Ao saber que o
candidato presidencial iria ficar hospedado no hotel, Juan Romero, na altura
com dezassete anos, tudo fez junto dos colegas para poder ser ele a servi-lo.
Foi nessa altura que, chamado à suite presidencial, conheceu o candidato. No dia seguinte, para fugir à
multidão no átrio do Ambassador, Robert Kennedy tentou escapar pela cozinha do hotel. Aí, foi
alvejado. Juan, que estava perto, acercou-se dele, enquanto à sua volta a multidão se afastava, em pânico, gritando «Oh, my God, another Dallas!». Ficaria célebre a imagem de
um jovem hispânico, de imaculado casaco branco, junto ao político moribundo. Juan
colocou-lhe na mão o rosário que trazia no bolso, Robert Kennedy morreria cerca de um dia depois. Após a morte, Juan tornou-se uma celebridade efémera. Dezenas de cartas chegariam ao Ambassador, muitos clientes queriam falar com ele: uns diziam-lhe que devia ter agarrado as balas assassinas com a mão (!); outros insinuavam que Kennedy não teria morrido se não tivesse parado para saudar o rapaz mexicano que o servira na véspera. Juan deixou Los Angeles e fixou-se em Santa Bárbara. Ainda estaria uns tempos no Ambassador Hotel, mas a memória daquele dia perseguia-o em excesso. Foi trabalhar para outro hotel, longe dali, no Wyoming, até se fixar definitivamente em San José. Passados muitos anos, Juan Romero foi localizado. Era operário da
construção civil em San José, casado e pai de quatro filhos. Ainda carregava a culpa
pela morte de Kennedy, vá-se lá tentar perceber porquê. Julgava que, se não se tivesse aproximado de Kennedy para o felicitar pelo triunfo nas primárias da Califórnia, talvez aquele tivesse escapado aos tiros de Sirhan Sirhan. A
culpa perseguia-o, sem que saibamos bem porquê. No dia em que Robert Kennedy faria 85 anos, Juan Romero foi ao Cemitério de Arlington, visitar a campa. E ali
esteve, na solidão de si mesmo, pensando no que acontecera naquele dia 5 de Junho de 1968. Ao deslocar-se ao Cemitério de Arlington, Juan Romero vestiu um fato pela primeira vez na vida.
António Araújo
Uma coisa me surpreende neste blogue: tantos artigos excelentes e nem um comentário para amostra! Que raio, faz represálias a quem ouse deixar aqui um bitaite?
ResponderEliminarDe modo algum, todos os comentários são bem recebidos!
EliminarAliás, muito obrigado pelo seu comentário.
António Araújo