O cadáver de um dos irmãos Collyer
|
A história dos
irmãos Collyer é conhecida e demasiado bizarra para ser contada em detalhe. Em
1947, devido a queixas dos vizinhos (é sempre o mau cheiro que espoleta a
denúncia…), a polícia de Nova Iorque tentou entrar em casa dos manos Collyer. Nem
conseguiu abrir a porta, tal era a quantidade de tralha acumulada até ao tecto.
Tiveram de penetrar naquela caverna de lixo e memórias através de uma entrada
situada ao lado. Lá dentro, acumulavam-se 130 toneladas de objectos vários,
entre quadros a óleo e pianos, fotos marotas de pin-up’s, restos de comida, ratos e baratas, larvas, muita bicharada oportunista, até ministros de
Estado e deputados da Nação. Um dos cadáveres Collyer só foi encontrado ao fim
de dezoito dias de escavações. Acumular tralha é um defeito mental que quase
todos temos. Conheço um, há muitos e bons anos, que leva a coisa ao extremo,
mas vive pelo Oriente (nos anos trinta, a vizinhança dos Collyer afirmava aos
repórteres que os irmãos viviam numa espécie de «luxo orientalista»…). Outro, que
prefere jornais velhos, é também grande amigo, até sou padrinho de uma das
filhas. Agora, muito perto de mim, e como ainda no outro dia conversava com a
minha querida amiga Fátima, defronto-me com o mesmo problema,
tropeçando em tralha diariamente. No meio do lixo, às vezes, caçam-se preciosidades.
A acumulação de tralha (a que os americanos chamam hoarding) entrou recentemente para o catálogo oficial das doenças e
das perturbações mentais. Diz-se que 2 a 5% dos norte-americanos padecem desse mal,
mas creio que, no fundo, quase todos nós (excepto a Patrícia!) temos o bichinho do lixo, sofrendo do vício, ou tara perdida, de
ir juntando o inútil, na esperança insana, justificada curiosamente por argumentos racionais, utilitaristas e pragmáticos, de que um
dia talvez aquilo seja necessário, valioso… Às vezes, é muito valioso, a ponto de o problema
do despejo destas casas com decoração hiper-maximalista ter sido analisado
num artigo recente do NY Times. Tralheiros de todo o mundo, uni-vos!
Eu, hoarder, filha de outra hoarder, me confesso. E agora?! Há hoarders anónimos? Pelo que leio, a coisa é deveras preocupante...
ResponderEliminarSocorro!
"Os Americanos chamam hoarding..." Como será que os Ingleses chamarão ao fenómeno ? E em que lingua ...? Fico curioso em saber.
ResponderEliminar