23-VIII
Isle-sur-la-Sorgue
Esta,
sim, é uma das mais míticas aldeias provençais, celebrizada ainda por nela
terem vivido algumas das grandes figuras da cultura francesa, tal como René
Char, sendo uma das encruzilhadas que não cesso de visitar quando volto ao
Midi. O seu nome é desde logo feliz, já que ela consiste, antes de mais, numa
verdadeira ilha aldeã de verdura, abraçada por dois canais do rio Sorgue, que a
envolve de frescura, de modo que em poucos locais desta região abençoada sabe
tão bem flainar, passando por pequenas pontes, ao lado de várias rodas de
alcatruzes de madeira – que agora são uma dezena e meia – que fazem circular
estas águas oriundas da fonte de Vaucluse, a poucos quilómetros daqui, umas das
águas-vivas mais atraentes da terra, com plátanos que a protegem de sombras os
que nas suas lojas de antiguidades buscam os seus tesouros escondidos. Para
mim, Isle é antes de mais uma terra com um alfarrabista que me apraz visitar,
já que encontro sempre livros que me deslumbram sem me deixarem a bolsa vazia.
Ainda anteontem aqui achei uma luxuosa edição da Odisseia em francês publicada pela Hatier, com apresentação de
Erich Lessing e diversos estudos preciosos de Michel Gall e de Henrich
Schliemann sobre Ítaca e ainda um erudito introdução ao mundo das imagens
odisseicas por Hellmuth Sochtermann. É um verdadeiro regalo folhear este livro
enorme, colorido e inteligente, dando do herói das mil astúcias um retrato ao
mesmo tempo visual, marítimo e terrestre, com esse perpétuo Mediterrâneo
obstinadamente atravessado pelo marido de Penélope no seu desejo de regressar
ao lar.
João Medina
Isso é uma autêntica ilha de antiques :-)
ResponderEliminar