segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Postais romântico-casamenteiros em estilo opulento.






 
 
Quem fala da felicidade tem muitas vezes os olhos tristes
 
Aragon
 






Pelos arredores de Lisboa - 1

 
 
 
 

Palácio do Correio-Mor
Fotografias de António J. Ramalho 


Queluz, 1907.

 
 
 
Colecção Cortez Liberato

On Bullshit.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
«Uma visão do futuro para motivar o presente
SOCIEDADE ABERTA
As respostas não surgem numa bola de cristal nem da boca de quem orienta ou partilha a reflexão. “Vamos olhar para dentro. Está tudo já cá dentro”, diz Rute Silva, especialista de visioning, uma abordagem de coaching que procura o sentido para a vida, seja na área profissional ou profissional. Para isso, na sessão são lançadas questões, a que cada um é chamado a responder: quais os valores, as motivações, o percurso feito até aqui, onde se quer chegar. Neste processo mental, as imagens do futuro desejado tornam-se reais. O objectivo é serem motivadoras para o momento presente»
 
Diário de Notícias, de 29/9/2013.
 

 
 
É extraordinário que um jornal como o Diário de Notícias se associe, promova, patrocine, publicite ou sequer ceda as suas instalações para uma iniciativa que, a pretexto de se tratar de um «Encontro de Conhecimento», com alguns nomes de prestígio, inclui um workshop de Visioning, leccionado por Rute Silva. E o que é lá isso do Visioning?, questionamo-nos.
Responde Rute:
«O Visioning permite perspectivar e materializar a visão do nosso futuro desejado, e essa visão de futuro actua como um farol através do qual orientamos as nossas acções, rumo a um destino definido por nós.
O processo de construção da nossa visão é tão importante como o resultado: envolvermo-nos num projecto de Visioning do nosso futuro desejado é, em si mesmo, um acto que esperta em nós próprios o desejo de agir» (aqui)
Assim tudo exprimido, esta conversa é o quê? Cursos de auto-ajuda patrocinados pelo Diário de Notícias? Vudu embrulhado em linguagem oca e vazia, com expressões inglesas à mistura? Propaganda à Visionlab ou à Multiópticas? Um folheto do Oculista das Avenidas?
Não, não. Isto é On Bullshit.

 
 
 
 
 


O processo de construção da nossa visão é tão importante como o resultado: envolvermo-nos num processo de Visioning do nosso futuro desejado é, em si mesmo, um acto que desperta em nós próprios o compromisso de agir.

domingo, 29 de setembro de 2013

O mundo é um lugar tonto.

 
 
 
 


Seja qual for a opinião que tenhamos sobre príncipes, touradas e gravatas, esta polémica é totalmente imbecil. Não têm nada mais importante com que se preocupar?


 


Yasumasa Morimura.

 
 
 
 
 
 






 






 


Para quem gosta de recriações e apropriações, Yasumasa Morimura (n. 1951) é um nome grande, dos maiores. No extremo do travestismo, Morimura mete-se com e em tudo o que é ícone, desde a pintura clássica até às fotografias mais famosas do século XX. Tecnicamente, o exercício n não é fácil, por mais risível e kitsch que seja o resultado final. Mas até esse foleirismo parece ser desejado, para que assim melhor funcione a suprema subversão de todas as coisas. Obviamente, Morimura não consegue subverter o que quer que seja, pelo que uma avaliação da sua arte forçosamente concluirá que tudo não passa de uma idiotia lucrativa. Daí a sua importância enquanto súmula e retrato das artes plásticas dos nossos dias. Na sua esmagadora maioria, não passam disso mesmo, uma idiotia lucrativa. Já que vivemos num vazio lancinante, tornemo-lo um modo de vida, tanto mais proveitoso quanto mais famoso. Yasumasa Morimura, Damien Hirst, Joana Vasconcelos, tudo farinha do mesmo saco.

 



sábado, 28 de setembro de 2013

HK

 
 
 
















Já é a terceira ou quarta vez que, graças a amigos, falo de Hong Kong aqui no Malomil. Umas coisas puxam as outras e o Pedro (obrigado, Pedro!), que vive por aquelas bandas, mandou-me umas imagens impressionantes de interiores claustrofóbicos. Nisto, quase em simultâneo, a Inês (obrigado, Inês!) enviou-me uma notícia do Zeit que dava conta de um livro, deste livro, que mostra a autoconstrução no topo de vários edifícios daquela metropolis saturada de fumos e cheiros. À Inês isto fez lembrar as  «ilhas» do Porto e tudo o que as cidades conseguem esconder. Há muitas cidades dentro das cidades. Uma vez, numa conversa que tivemos antes do Verão, um amigo grande falou-me da beleza da arquitectura de Hong Kong, de quanto o fascinara o skyline daquela cidade estranha. Mas, para além da opulência e do luxo exibidos em aço e cristal, há os que vivem no cimo de prédios, em barracas ou habitações parecidas com as que existem em Bogotá - ou mesmo cá.
 
 
 
 

O outro Sousa Tavares.



 


 







Há canalhas invejosos que dizem que o sucesso de Miguel Sousa Tavares se deve apenas ao apelido que ostenta, que a sua carreira foi feita à conta de ser filho do Tareco e da Sophia. Outros, com ciumenta maldade, não compreendem que alguém de bom senso tenha publicado o inenarrável Show Me Rio, de Rita Sousa Tavares, onde esta moça, filha de Miguel, alinhava meia-dúzia de linhas com tiradas originalíssimas, tais como: «a minha pátria é a língua portuguesa». Dizem mal, caluniam. Tudo inveja, o pior dos pecados.
Ora aqui temos outro Sousa Tavares. Este, coitado, enfrentou um destino diferente: não medra, não progride, não sucede no sucesso. Em suma, não sai da cepa torta. Nuno de Sousa Tavares. Digno de figurar na rubrica Perguntais, e muito bem: quem é este marreco?, que já dedicámos a outro cromo parecido, o Chagas Freitas. Este marreco Nuno, atenção, é um escritor. Escritor no sentido em que escreve letras que formam palavras, e palavras que, quando colocadas umas a seguir às outras, formam frases. Frases que formam parágrafos e por aí adiante. Mas, mais do que isso, Nuno de Sousa Tavares é um ficcionista. Com desarmante candura, afirma que começou a escrever porque alguém lhe disse que «tinha algum jeito para criar enredos». Com algum jeito ou sem ele, o certo é que já conta e canta com mais de meia-dúzia de romances, todos completamente escritos.   

Nuno de Sousa Tavares faz tudo o que mandam as regras do sucesso. Criou até um site oficial: http://www.nunotavares.com/. E o que tem ele lá no site oficial? «O site de Nuno de Sousa Tavares é o sitio do escritor onde os visitantes podem desfrutar de histórias completas e originais». Belo. Indo ao site do bicho podereis desfrutar, portanto, de histórias originais e, além disso, de histórias completas, o que, convenhamos, é muito prático. Então, porque não desenvolve públicos, não conquista audiências? As capas dos livros são apelativas, estimulantes. Os títulos, muito promissores, desde o ascético O Que o Dinheiro Não Compra até ao lamuriento latino Nunca Neva no Meu Aniversário, passando pelo manual de engate Deixa Que o Amor Seja a Tua Energia ou o pouco cómodo Dançando no Violino. Acham foleiros os títulos? Olá, Madrugada Suja não é propriamente uma beleza... Aliás, em matéria de títulos, Miguel Sousa Tavares não é bem literatura, é mais assim um compêndio de Ciências Geográfico-Naturais do 7º ano unificado. Na bibliografia de MST há um deserto (No Teu Deserto, 2010) e, consequentemente, um oásis (Um Nómada no Oásis, 1994). Há linhas imaginárias (Equador, 2003) e pontos cardeais (Sul. Viagens, 2004). Em matéria fluvial, dois rios e respectivos afluentes: O Segredo do Rio, de 2004, e o Rio das Flores, desaguado em 2007. Nesta cosmogonia de banalidades, deparamos também com um planeta (O Planeta Branco, 2005) e com um continente inteiro, tingido a negro (Ukuhamba. Manhã de África, 2010). E quanto a foleirismo? Não Te Deixarei Morrer, David Crockett… estamos conversados. Pois é, se tivesse sido este Nuno a publicar Não Te Deixarei Morrer, David Crockett, estava tudo no gozo, e até blogues idiotas como Malomil iam meter-se com o desgraçado do rapaz. Mas, como é o Miguelito Andresen, que fala para o mundo com aquele ar altivamente enfastiado de quem acabou de fazer uma colonoscopia, aí tudo se perdoa, tudo se desculpa. Tudo se explica e justifica. Injustiças... A vida é madrasta, Nuno, muito madrasta. Mas tu não ligues: força aí, homem, força nisso. Continua a dar na escrita. Grande abraço.
 
 
António Araújo
 
 

 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Memoire Photos.

 
 
 
 
 




Voz amiga fez-me chegar a notícia deste fabuloso tesouro: http://www.memoirephotos.net/.
Centenas e centenas de imagens, sobretudo francesas, belgas e alemãs, captadas entre 1865 e 1969. O arquivo guarda rostos de homens e de mulheres, adultos e crianças. Sobre a Grande Guerra, tem um acervo inesgotável, excepcionalmente organizado. Os autores pedem ajuda na identificação dos fotografados. Mesmo que a não consiga dar, passe os olhos por este baú de maravilhas de outrora.

Funchal, 1908.

 
 
 
 
 
Colecção Cortez Liberato