Andávamos pelos Açores, com vacas e
mares ao fundo, quando me falou de «uma rapariga nova que apareceu agora, a cantar
com um vozeirão». Que tenha sabido da existência de Amy Jade Winehouse através
de Armando Sevinate Pinto é coisa que não me surpreende. Apesar de ter nascido
em 1946, o Armando sempre foi muito mais novo do que eu. Aliás, era essa
sua juventude de espírito que o levava a ver o mundo com uma candura e
uma ausência de cinismo que, isso sim, são coisas que me surpreendem.
Não é fácil definir aquilo a que se
chama «um senhor», ainda que saibamos de imediato sempre que um deles nos
aparece pela frente. O Armando Sevinate Pinto era um senhor pois não precisava de fazer nada para sê-lo. Era assim, o
charme em pessoa, com uma naturalidade completa, sem ademanes mundanos nem
pretensiosismos caricatos. Foi o único homem que conheci que se comportava exactamente
da mesma maneira no meio de um campo de terra ou sob as luzes de um salão
dourado. A fleuma afectuosa, a autenticidade total.
Dele falarão melhor os que melhor o
conheceram. Por mim, resumo-o assim: era incapaz de ter sentimentos maus. Imune
à inveja e à vaidade, de nada guardava rancores ou ressentimentos, tendo enorme
complacência pelas misérias dos outros. Por isso, atravessou a vida em suave felicidade.
O
ano começa aziago: primeiro Miguel Galvão Teles, depois Manuel de Lucena, agora
Armando Sevinate Pinto. É uma geração que passa, está certo. Mas duvido que a seguinte
seja melhor do que esta. Que agora parte, aos poucos.
António Araújo