quinta-feira, 29 de agosto de 2024

São Cristóvão pela Europa (271).

 

 

 

Ainda não tinha tido ocasião de explorar o Estado austríaco da Estíria (Steiermark). Dediquei-lhe alguns dias deste Verão.

Comecei pelo distrito de Murau.

A capital do distrito é uma das mais belas cidades da Áustria.

 


A Igreja Paroquial de São Mateus, gótica, possui um magnífico altar dedicado a São João Baptista, datado de 1645. Este é ladeado por São Tiago e São Cristóvão. Acima, Santa Catarina, a Virgem Maria e Santa Bárbara. No topo, o Arcanjo São Miguel.

Um óleo representa os catorze Santos Auxiliares uma tradição muito germânica. Entre eles, São Cristóvão.

 




Na localidade próxima de Schöder, a Igreja paroquial da Natividade de Maria, igreja de peregrinação desde os tempos da peste, contem um conjunto de quadros, representando vários santos e imagens da vida de Maria. Num deles, São Cristóvão.




Nas ruas próximas, dois murais. Um no Stoffvilla Weg e o outro no Münzlerhof, outrora uma residência da família Lichtenstein.

 



 

                                            Fotografias de 30 de Julho de 2024 

                                                                               José Liberato




terça-feira, 27 de agosto de 2024

São Cristóvão pela Europa (270).

 


Friesach é um município no distrito de St. Veit an Glan no Estado austríaco da Caríntia.

Na sua praça principal, um belo edifício com brasões episcopais tem também um mural representando São Cristóvão.

 



No município de Metnitz, na aldeia de Feistritz ob Grades, a igreja matriz, dedicada a São Martinho, ostenta um fresco, do último quartel do Século XV, já em mau estado:

 


Na sede do município, a Igreja de São Leonardo tem também um mural do nosso Santo:

 

 


Em Metnitz, existe a tradição da dança dos mortos, bem descrita nos frescos que rodeiam o ossuário adjacente à Igreja. Trata-se de uma representação teatral medieval cuja mensagem é que todos são iguais perante a morte, independentemente da classe social e da idade.

 


                                        Fotografias de 30 de Julho de 2024

                                                                    José Liberato

Carta de Bruxelas - 23.




                                                                        O talentoso capital simbólico



O proselitismo da seita Bourdieu foi de tal forma eficaz que o conceito entrou na koine universitária. À trouvaille conceptual nada faltava para cair no goto de intelectuais de esquerda bem integrados. Não tinha nem os pés mascarrados de carvão nem as mãos sujas de óleo do velho proletariado da velha luta de classes – tudo isso fica para os filmes neo-realistas, que o tempo se encarregou de integrar, em grande parte, no património do kitsch de esquerda.  Daquela luta conservava o termo capital como conceito polémico, com os arrebiques modernos do simbólico. Trata-se, bem entendido, da última versão de um reducionismo velho e relho. A expressão retoma o que a sociologia tradicional designava por necessidades de prestígio (Raymond Aron, por exemplo, mas não por acaso), o que, por sua vez, não passa da declinação sociológica do conceito de sociabilidade insociável cunhado por Kant. Na sociabilidade insociável sublinhava-se a impossibilidade de pensar uma sociedade una, sem divisões, nem a montante, nem a jusante. Mostrava também a unilateralização abstracta inerente tanto ao optimismo antropológico como ao seu gémeo mau, o pessimismo antropológico. Por outras palavras, a natureza humana ficava definida como a coexistência permanente de duas condições; uma não sucede à outra na história: nem progressismo, nem decadência.

Fazendo jus às suas origens, o capital simbólico inscreve-se no optimismo antropológico. O capital como categoria económica reificadora desfigura a sociedade como ela deveria ser. Todas as distinções simbólicas constituem uma distorção da verdadeira natureza das coisas. Merecem, pois, denúncia; por exemplo, por intelectuais que, dos seus lugares de prestígio, asseguram às massas que não há prestígio; bem providos de capital simbólico nos jornais e nas televisões provam a ilegitimidade desse capital; de méritos reconhecidos, e que fazem reconhecer nos títulos académicos, decretam a ilusão do mérito. Talvez se imaginem a si mesmos como um igual aos outros. Todo o intrujão precisa dos seus intrujados. Nos casos agudos de capital-simbolicidade, a questão é saber quem é quem.         

 

                                                                João Tiago Proença


sexta-feira, 23 de agosto de 2024

São Cristóvão pela Europa (269).

 

 

A última imagem que encontrei no distrito de Wolfsberg foi em Bad St. Leonhard.

A Igreja é dedicada a Santa Kunigund (Cunegunda em português). Trata-se de Santa Cunegunda do Luxemburgo, imperatriz ao casar-se com o Imperador Romano-Germânico Henrique II. Viveu nos séculos X e XI. Existe pelo menos outra Santa Cunegunda.

A igreja, originalmente gótica foi profundamente remodelada no estilo barroco.

O Altar da Crucificação data de 1692 e insere-se nessa remodelação.

Ao alto São Vito, ladeado por São Cristóvão e São João Evangelista. Em baixo, o Imperador Henrique II e Santa Cunegunda.

 




E passemos ao distrito de St. Veit an der Glan, também no Estado austríaco da Caríntia.

Consegui finalmente que me abrissem a Igreja de São Tiago Maior e Santa Ana em Deinsberg (já o tinha tentado em outras visitas…).

O altar-mor é datado de 1699. Tem como figuras centrais São Tiago Maior e São Cristóvão. Em cima a Educação de Maria e em imagens laterais São João Evangelista e São Leonardo.


 


Muito próximo, numa oficina, na sede do município, Guttaring, um nicho com uma imagem de São Cristóvão.

 



                                    Fotografias de 30 e 31 de Julho de 2024 

                                                                                José Liberato




segunda-feira, 19 de agosto de 2024

São Cristóvão pela Europa (268).

 


Wolfsberg é outro distrito do Estado austríaco da Caríntia.

A sede do distrito tem duas povoações com imagens de São Cristóvão: St. Stefan in Lavanttal e St. Margarethen bei Wolfsberg.

Na primeira, a Igreja Matriz com um enquadramento paisagístico lindíssimo, tem uma bela imagem do nosso Santo do início do Século XVI, data da construção da igreja.

 


 

Na Klagenfurterstrasse, uma pizzeria tem um mural:

 


Em St. Margarethen bei Wolfsberg, na Weissenbachstrasse, uma casa particular possui também um mural:

 


A igreja Matriz possui uma imagem assente numa mísula e um altar dedicado a Santo André onde São Cristóvão está presente conjuntamente com São Sebastião. As estátuas do altar são do princípio do Século XVI.

 

 

                            Fotografias de 29 e 30 de Julho de 2024

                                                                       José Liberato




Um belo livro de divulgação do período sangrento das Invasões Francesas.



  

Há contracapas de livros que prendem imediatamente a atenção do leitor pela sua capacidade de incisão e pelo acicate para a leitura. É o caso daquela que acompanha Mapa Cor de Sangue, as lutas, as revoltas e as tragédias em Portugal do tempo das Invasões Francesas, por Rui Cardoso, Oficina do Livro, 2024:

“Portugal, 1808. Uma revolução social que acompanha os levantamentos patrióticos. O povo insurge-se contra a velha ordem de fidalgos e eclesiásticos e, ao mesmo tempo, contra o jogo do invasor francês.

Em Melgaço e Beja, populares lincham os magistrados, em Foz Côa, casas de famílias abastadas são saqueadas. Por outro lado, quem ousa rebelar-se contra os franceses é punido. Os habitantes de Vila Viçosa, Rio Maior, Alpedrinha e Régua são brutalmente castigados pelos soldados de Napoleão, mas nada se compara aos massacres em Leiria e Beja.

Os ingleses desembarcam e os franceses negoceiam a saída. Mas regressam menos de um ano depois. A guerrilha é espontânea, heroica e impiedosa. O general Bernardim Freire de Andrade é linchado pelo povo. E a entrada das tropas napoleónicas no Porto fica marcada pelas lutas casa a casa e pelo desastre da Ponte das Barcas, no qual milhares de pessoas perdem a vida. Fuzila-se e incendeia-se como método de contrainsurreição. Em São João da Madeira, a retaliação pela morte de um oficial francês leva à execução de 1 em cada 5 homens e rapazes da Arrifana. A resistência em Amarante exaspera franceses, que incendeiam a cidade.

Em agosto de 1810, o rio Côa tinge-se de sangue do prelúdio do cerco de Almeida, onde morrem meio milhar de defensores. Serão depois as vertentes do Buçaco a fincar juncadas de corpos dos combatentes.

Portugal entra no século XIX de forma violenta e traumática. Às invasões seguir-se-á a luta entre liberais e absolutistas, e mesmo depois da vitória dos primeiros haverá quase vinte anos de instabilidade, golpes militares e revoluções…”

É uma obra divulgativa de alto nível, faz-nos compreender como todo este período das invasões napoleónicas é o precedente sangrento do primeiro meio século do século XIX habitado pela violência político-social, as sublevações populares, as pilhagens à solta, toda esta turbulência só se acalmará com a Regeneração. Portugal irá sendo arrastado para o conflito que estalou entre a França e a Grã-Bretanha. A Corte partirá para o Brasil, fazendo-se acompanhar da Biblioteca Real da Ajuda, que não mais regressou. Os invasores saquearam e destruíram, a Bíblia dos Jerónimos será levada para França, tal com as coleções do Museu de História Natural de Lisboa; num ato de puro vandalismo, o famoso cadeiral que Olivier de Gand construiu no Capítulo da Igreja do Convento de Cristo será reduzido a lenha. O regente e futuro rei D. João VI viverá em permanente dilema, tentando negociar com ambas as partes; a Espanha, glutona, tenta juntar-se a Napoleão e ficar com uma parte de Portugal. Rui Cardoso dá conta dos efetivos portugueses, manifestamente impreparados, mas onde não faltaram comandantes com visão de futuro. A Grã-Bretanha domina os mares, a França possui um domínio terrestre. Para os britânicos, o teatro de operações ideal é Portugal. “O lado britânico vai praticar em Portugal (e acessoriamente em Espanha) um equivalente terrestre da guerra naval de corso. Ou seja, nunca procurará defender território fixo (exceção feita ao polígono Lisboa-Julião da Barra considerado vital para a retirada britânica em caso de malogro total), procedendo quase como uma força de guerrilha moderna (…) Já a doutrina napoleónica privilegiava a rapidez de movimentos, deslocando-se o exército com pouca bagagem e dispensando os lentos e vulneráveis comboios de abastecimento.” Por outras palavras, ambos os contendores esperam apossar-se dos recursos portugueses.

De forma expedita, o autor vai elencando  os acontecimentos avassaladores desde a Guerra das Laranjas (1801), em que Portugal estava teoricamente obrigado a fechar os portos aos britânicos, é um jogo dúplice até 1807, Junot atravessa o território português até Lisboa em condições penosas, vê de uma colina de Lisboa a partida da família real sob custódia da armada britânica; o jugo francês impõe-se, não faltará repressão, Napoleão impõe o pagamento de contribuição de guerra a Portugal, e no fim do ano Beresford ocupa a ilha da Madeira. Começa a resistência popular, não faltarão levantamentos, o execrado general Loison, conhecido por o Maneta, reprime com crueldade, será o caso de Évora, entre fuzilamentos e sacres há pelo menos 1500 mortos. E chegam os ingleses, o primeiro choque acontecerá a 17 de agosto de 1808, na Roliça, no Bombarral, segue-se o Vimeiro, Junot pede para negociar, sairá do país, de armas e bagagens e saque.

Meses depois, dá-se a segunda invasão, no entretanto espalha-se os ideais liberais um pouco por todo o país. É nesta invasão que se dá o desastre da Ponte das Barcas, o general Soult cedo se apercebe que não tem espaço de manobra nem meios suficientes, anda pelo norte do país à deriva, entra a ferro e fogo no Porto. O general Wellesley, que ainda não é duque de Wellington, vem-lhe no encalço, abandona Portugal pela Galiza, Soult, o duque da Dalmácia, abandona Portugal pela Galiza, um dos heróis de Austerlitz foge do país às arrecuas. A terceira e última invasão ocorrerá no verão de 1810. “A política de terra queimada decretada pelo general Wellesley, agora duque de Wellington, e aplicada quando o seu exército retirar para as Linhas de Torres Vedras, não se limitará a dificultar o avanço das tropas francesas – significará a miséria, a fome, e a devastação dos campos nas Beiras, no Ribatejo e no Oeste.”

Quem comanda a nova invasão é André Masséna, um veterano, tem palmarés, veio vitorioso da batalha de Essling e de Wagram, é valoroso, de uma bravura incontestável. A sua operação baseava-se na entrada em Portugal pela raia do Côa, seguida de um avanço sobre Lisboa utilizando os vales do Mondego e do Tejo. O invasor desconhecia totalmente as Linhas de Torres. Masséna perde tempo a cercar o resistente espanhol, cerca Almeida, segue para Pinhel, trava-se uma batalha sangrenta com o exército anglo-luso, inconclusiva. Por puro acidente, Almeida irá totalmente pelos ares, devido à explosão do arsenal, tenta acelerar a marcha ao longo do Mondego. O confronto decisivo irá ter lugar no Buçaco, os dois exércitos perseguem-se na direção de Lisboa, Masséna não sabe que o esperam as Linhas de Torres Vedras, não chega a haver nenhum ataque em forma às Linhas, Masséna vê-se obrigado a retirar em novembro. “As Linhas de Torres Vedras e a política de terra queimada tinham vencido os melhores soldados da época, mas à custa de um país devastado e dezenas de milhares de pessoas mortas de fome e de doença.” Napoleão perde condições para voltar a invadir Portugal, em 1812, o seu Grande Exército irá perder-se nas estepes geladas da Rússia, é o princípio do fim.

Rui Cardoso esboça um retrato sangrento das invasões napoleónicas, e deixa bem claro que isso dos brandos costumes é uma quase balela e que foram aqueles tempos que ajudaram a foguear os ideais liberais que se começarão a impor a partir de 1820. Excelente divulgação, não hesito em recomendar a sua leitura. 


                                                                        Mário Beja Santos

 


 

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Carta de Bruxelas - 22.




 

                                                                                            Qualquer coisa de egípcio

 

Em 1977, o filósofo Hans-Georg Gadamer, publicou a sua autobiografia intitulada Os anos de aprendizagem filosófica [Philosophische Lehrjahre, Frankfurt am Main, Vittorio Klostermann]. Como bom hermeneuta, passa em revista a sua vida e carreira com base na trama do diálogo. Entre os nomes próprios dos seus interlocutores de referência, o último é o de Karl Löwith, a quem o ligou uma amizade de mais de 50 anos. Löwith foi inclusive padrinho da sua filha Jutta. Apesar de isso, para caracterizar Löwith, Gadamer invoca nada mais nada menos do que a distância. Linhas depois, percebe-se o que queria dizer com essa palavra. Nele farejava-se sempre, conta Gadamer, qualquer coisa sem tempo, qualquer coisa de egípcio.

À primeira vista, a política invoca o oposto. Em vez da ausência de tempo, a correria imposta pelos acontecimentos, pelos humores caprichosos das vontades, pela irrupção da fortuna nos assuntos humanos, cuja roda esmaga previsões, frustra expectativas e desactualiza os pressupostos mais entranhados. Daí ser natural que a análise política tenha os seus especialistas da canelada, peritos na rasteira, e mais recentemente, no comentário televisivo, decifradores do significado oculto da coçadela na orelha ou das revelações esotéricas dos movimentos das sobrancelhas. E que tenha também os seus cientistas políticos, tantas vezes ansiosos por passarem para aquele nível primário. Crer que o torvelinho da vida não se compadece com a fixidez do conceito não esclarece, ofusca.

É, por isso, um consolo e uma alegria a publicação de um livro que pensa e pensa os conceitos fundamentais da filosofia política moderna. «Soberania popular – estudos sobre a ideia de um poder absoluto e intemporal» (Edições Húmus, 2024), de Diogo Pires Aurélio, recomenda-se por isso. Para lá do calor dos antagonismos, da febre da vitória ou da esperteza do curto prazo, a análise do conceito de soberania e das suas aporias mostra bem o que ainda hoje (espíritos subtis talvez dissessem «sobretudo hoje») faz o nosso mundo político. Com a distância necessária para uma visão límpida, perpassa nas suas páginas o abençoado vento frio do conceito – há nele qualquer coisa de egípcio. 


                                                                    João Tiago Proença

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quarta-feira, 14 de agosto de 2024

São Cristóvão pela Europa (267).

 

 

No distrito de Völkermarkt, ainda mais duas aldeias têm imagens do nosso Santo.

Um caso especial é o de Motschula que se situa na parte mais oriental dos Alpes.

A capela de São Cristóvão é privada e completou recentemente o seu 40º aniversário.

Foi construída em apenas quatro meses pela família Skubel como acção de graças pelo bom desfecho de um acidente familiar.

São várias as imagens de São Cristóvão:

 


 

Em Lind, a Igreja de São Matias tem um mural representando o nosso Santo:

 


 

                                    Fotografias de 29 de Julho de 2024

 

                                                        José Liberato