Em busca do Tosão de Ouro português:
de Bruges a Nicósia, partindo do Alto
da Ajuda
Parte II
Messire
Jehan
e a sogra assassina
Isabel
de Portugal, Duquesa da Borgonha, deu à luz um terceiro rapaz em 1433: o futuro
Carlos, o Temerário, último Duque da
Borgonha e segundo soberano da Ordem do Tosão de Ouro. A Duquesa envolveu-se de
alma e coração nos negócios do Ducado, formando um par formidável com Filipe
III[i].
As relações comerciais e artísticas com Portugal floresceram[ii].
Por
ter sido criada no momento em que se consumava este laço entre a Borgonha e
Portugal, seria expectável o reconhecimento dos soberanos portugueses com a
curiosa insígnia do Tosão. Contudo, nos primeiros lotes de condecorados
encontram-se essencialmente súbditos borgonheses, os novos argonautas. Nem D. João I, nem D. Duarte, nem D. Afonso V,
respectivamente pai, irmão e sobrinho da Duquesa, chegarão a receber a honra,
que inicia a sua abertura a soberanos estrangeiros já 15 anos depois da
fundação.
Filipe III da Borgonha e Isabel de
Portugal, rodeados por diversos membros da sua família e da corte borgonhesa.
Sobre a Duquesa estão representadas as armas da Borgonha e Portugal unidas no
mesmo escudo. (Remissorium Philippi, 1450, no Arquivo Nacional dos Países Baixos)
Curiosamente,
o primeiro português a receber foi um “inimigo” de D. Afonso V, resgatado pela
sua tia, Isabel, dos despojos da trágica Batalha de Alfarrobeira, em 1449. A
morte de D. Pedro, Duque de Coimbra e antigo Regente de Portugal, deixou uma
geração entre a fuga, o desamparo e o veneno[iii].
Cada um dos seus filhos teve uma história a que vale a pena regressar, mas
nenhuma tão singular como a que tem por condimentos uma aventura para um
destino exótico – na óptica do utilizador
do século XV – e uma sogra assassina.
D.
João de Coimbra teria uns 18 anos na Alfarrobeira e foi um dos três filhos do Infante das Sete Partidas a partir para
um exílio protegido nos territórios dos seus tios Filipe e Isabel, onde viveria
nos anos seguintes, participando ao lado do tio nos principais momentos
militares e tornando-se mais um peão na política diplomática da Casa da
Borgonha.
Numa
iluminura do Remissorium Philippi, um
manuscrito finalizado em 1450 (e preparado entre 1434 e esse mesmo ano) que se
encontra no Arquivo Nacional dos Países Baixos,
Filipe, o Bom aparece rodeado de 19 elementos da sua corte, correspondendo a cada
um escudo. Num deles, está uma representação de D. João de Coimbra[iv].
Ao
centro da iluminura está Filipe III com as vestes de soberano da Ordem do Tosão
de Ouro, sob um dossel com os escudos das suas terras. Do lado direito esquerdo
do Duque, à direita na imagem, surge o escudo de armas português, sobreposto à
cruz de Avis. D. João de Coimbra, a quem correspondem essas armas antes de 1456,
será um dos representados em primeira linha do mesmo lado, faltando pistas para
estabelecer com certeza qual dos três. A única pista é que, tratando-se de uma
iluminura feita pouco após a Alfarrobeira (1449), porventura seria o que traje
de negro e, como tal, o mais próximo do Duque.
Iluminura do Remissorium
Philippi, de 1450, representando Filipe
III da Borgonha e 19 membros da sua corte. Ajoelhado diante do Duque e
oferecendo-lhe o livro, está Pieter van Renesse de Beoostenzweene, escrivão da
corte que trabalhou na obra durante 16 anos. (Arquivo Nacional dos Países Baixos)
Pormenor da iluminura do Remissorium
Philippi, mostrando as armas portuguesas
junto ao trono de Filipe III. D. João de Coimbra, a quem correspondem as armas,
será um dos representados em primeiro plano, pela proximidade familiar ao Duque
e preponderância que assumiu na corte. (Arquivo Nacional dos Países Baixos)
Em
1456, estando vagos alguns colares do Tosão de Ouro – o número de cavaleiros
não podia então, a cada momento, ser superior a 30 –, D. João foi um dos novos
cavaleiros da Ordem investidos no 9.º Capítulo da Ordem, na Haia, a par de
Antoine, o Grande Bastardo da Borgonha,
filho ilegítimo de Filipe, o Bom,
nascido em 1421. D. João de Coimbra tornou-se, assim, o primeiro cavaleiro
português da insigne Ordem do Tosão de Ouro.
Constantinopla,
outrora um dos centros da Cristandade, caíra 3 anos antes nas mãos dos
otomanos. Os príncipes europeus bailavam entre o remorso de terem falhado no
auxílio a Constantino XI Paleólogo, o último imperador bizantino, que morreu
heroicamente a defender a sua cidade, e a angústia de quem via como os turcos
estavam às portas da Europa.
Em
1454, Filipe, o Bom, organizara um
grande banquete, dito do Voto do Faisão, para arregimentar voluntários
para uma Cruzada com vista a recuperar aos turcos não só Constantinopla mas
também Jerusalém. Foi um apelo aos cavaleiros do Tosão de Ouro para que
partissem em socorro das principais cidades da Cristandade, que acabaria por
nunca tomar forma.
Representação do banquete organizado
em Lille a 17 de Fevereiro de 1454, dito do Voto do Faisão, em que Filipe III, o Bom, enquanto
sacrificava um faisão, prometeu lançar uma cruzada para reconquistar
Constantinopla e a Terra Santa, o que nunca viria a suceder. A descrição do banquete pelos cronistas identifica a preponderância dos oficiais e cavaleiros da Ordem do
Tosão de Ouro. Na imagem, Filipe e Isabel estão à esquerda. (Anónimo, ca. 1500,
no Rijksmuseum)
A
investidura de D. João de Coimbra na Ordem insere-se na mesma lógica da nova
Cruzada e esteve associada ao seu próximo casamento com a herdeira do reino de
Chipre, Carlota de Lusignan.
Ao
relatar a sua entrada para a Ordem do Tosão de Ouro, o cronista dos Duques da
Borgonha, Georges Chastellain, não poupou nos encómios a Messire Jehan de Coymbre, como era conhecido D. João na corte da Flandres,
elogiando os seus “modos e virtudes”
e a “alta disposição da sua pessoa para o
tempo futuro”[v],
sublinhando assim a juventude com que era investido. Esta juventude,
absolutamente invulgar naquelas primeiras décadas do Tosão de Ouro, era apenas
superada pela do futuro soberano, Carlos, filho e herdeiro do Duque Filipe.
A
ligação entre a investidura e o casamento cipriota fica evidente na crónica de
Chastellain.[vi] O
cronista, além de sublinhar que foi a instâncias do Rei de Chipre – então
prisioneiro dos turcos – que os Duques consentiram na partida de D. João para
Nicósia, volta depois a sublinhar o intuito da sua entrada na ordem: “affin de lui donner souvenance à tousjours
de la maison où il avoit esté nourry”. O Tosão de Ouro seria uma memória
que guardaria por pouco tempo.
Belíssima iluminura representando D.
João de Coimbra (“Mesire Jehan de coimbre Prince dantioche regent du Royaume de
Cypre”) com o manto escarlate de cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro, no
extraordinário Statuts et armorial de la Toison d'Or da Biblioteca Nacional dos Países Baixos, que tem imagens individuais dos cavaleiros
da Ordem até 1478. (Imagem: manuscripts.kb.nl)
Terão
os tios, Filipe e Isabel, encomendado ao genial Rogier van der Weyden um
retrato de D. João de Coimbra para que também na Borgonha a sua memória fosse
perpetuada? Foi essa a tese defendida no
início dos anos 50 e 60 do século XX por José Cortez[vii]
e que em fez capa no Bulletin dos
Museus Reais da Bélgica quando Gaston van Camp a corroborou[viii].
O
famoso retrato do Real Museu de Belas Artes da Bélgica é testemunho da mestria
de van der Weyden. Chamou-se durante muitos anos e muito prudentemente “Retrato
de um cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro”, tal era a dificuldade em
identificá-lo sem margem para dúvidas. Muito embora lhe chamem hoje Antoine, o Grande Bastardo da Borgonha, os
argumentos que levaram à certeza de Cortez não podem ser facilmente
desconsiderados.
Van
der Weyden pintou pelo menos três retratos de família, todos eles célebres. O
de Filipe, o Bom; o de Isabel
de Portugal, com um extravagante toucado e ricamente vestida; e o do seu
jovem filho Carlos,
então Conde de Charolais e futuro Duque. O quarto retrato, de outro jovem
segurando uma flecha, é o que suscita a dúvida.
“Retrato
de um cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro”
ou “Antoine, «Grand Bâtard» de Bourgogne”, de Rogier van der Weyden, como apelidado mais recentemente pela
historiografia de arte, da colecção dos Museus Reais da Bélgica. José Cortez
defendeu a tese de que se trata, na verdade, de D. João de Coimbra, sobrinho de
Filipe III e de Isabel de Portugal.
Pela
proeminência que Antoine, mesmo sendo ilegítimo, tinha na corte do seu pai,
seria natural van der Weyden pintar o filho do Duque. Contudo, a aparência
jovem é um dos principais argumentos contra a identificação do cavaleiro como
Antoine, que teria nessa altura já mais de 35 anos. A dissemelhança física com
os de outros retratos do Grande Bastardo
é outro forte argumento, embora não definitivo.
Em
contraponto, a proximidade de D. João de Coimbra aos seus tios, que será
particularmente notória nas palavras emocionantes proferidas na sua partida
para Nicósia, e a importância do seu casamento para os objectivos diplomáticos
do tio na salvaguarda da Cristandade também o tornam um óbvio candidato a ser
retratado. A idade que teria em 1456, cerca de 23, 24 anos, seria consentânea
com a do retratado por van der Weyden.
Embora
permaneça – sem esperança de esclarecimento – uma incógnita absoluta em relação
a quase todas as figuras pintadas por Nuno Gonçalves nos Painéis de São Vicente
(para
cada figura há pelo menos 2, quando não 4 ou 5 identidades atribuídas), há
uma proximidade fisionómica entre algumas das figuras e o misterioso cavaleiro
do Tosão de Ouro. Cortez destacou a parecença com a figura que se assume ser D.
Afonso V, mas não será menor a semelhança com as figuras no Painel dos
Cavaleiros que alguns identificam como o Infante D. João ou o Infante D. Pedro,
pai de D. João de Coimbra. Parece haver qualquer coisa de português na
fisionomia do cavaleiro da flecha.
O retrato da colecção dos Museus
Reais da Bélgica, de Rogier van der Weyden, ao lado do outro retrato conhecido
de Antoine, o Grande Bastardo da Borgonha, atribuído a Hans Memling.
O retrato da colecção dos Museus
Reais da Bélgica, de Rogier van der Weyden, ao lado de algumas das figuras dos
famosos Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves. À esquerda, a figura mais
consensual, que a maioria dos autores identifica como D. Afonso V. À direita do
retrato belga, as figuras que alguns autores identificam como o Infante D. João
e o Infante D. Pedro, respectivamente tio e pai de D. João de Coimbra.
A
escolha do barrete de veludo carmesim pelo pintor flamengo é igualmente
curiosa. Dito caraminhola no
manuscrito do Rio de Janeiro que descreve os Painéis de São Vicente e corrobora
o seu uso na corte portuguesa ao tempo da Ínclita Geração, a sua representação
na Flandres não é caso único[ix]
mas é pelo menos caso raro. A parecença do estilo de barrete com os dos
retratados por Nuno Gonçalves nos Painéis é notória – o que reforçaria a tese
joanina.
Por
fim, o elemento mais invulgar: a flecha, que o cavaleiro segura com a mão
direita, junto ao coração. Cortez não é conclusivo no seu estudo, dizendo que
poderia indicar uma forma de recordar o pai de D. João, o Infante D. Pedro,
trespassado por uma flecha na Alfarrobeira. Contudo, uma vez mais surge
Antoine, o Grande Bastardo, como
estando ligado à Guilda dos Arqueiros, o que permitiria apontar no seu sentido.
Gaston
van Camp, ao terminar o seu artigo de 1953 foi, contudo, muito claro: sem que
se chegue a certeza, seria difícil encontrar um alinhamento histórico,
cronológico e físico tão convincente quanto o da tese de Cortez.
*
* *
O
pai de Carlota de Lusignan, o Rei João II (ou III, segundo outras contagens) de
Chipre, era igualmente herdeiro dos antigos estados que os primeiros cruzados
tinham fundado no Oriente e que entretanto tinham caído em mãos muçulmanas.
Intitulava-se, de jure, rei da
Arménia, rei de Jerusalém e príncipe de Antioquia. Na sua obra sobre D. João de
Coimbra de 1959, o Marquês de São Paio descreveu espirituosamente o Rei de
Chipre como “indolente e fraco, sibarita
e femieiro”[x],
além de dominado pela mulher.
À
Rainha de Chipre, Helena Paleóloga, São Paio descreveu como “astuta, ambiciosa e varonil”. Era neta
do Imperador Manuel II Paleólogo e sobrinha do último imperador de
Constantinopla – e à sua chegada a Nicósia mostrara aliás toda a incandescência
do seu sangue bizantino, quando
mandou cortar o nariz à amante do marido, dizendo alguns historiadores,
exagerando-lhe certamente os méritos, que teria arrancado o dito nariz com os
próprios dentes.
O Rei João II de Chipre, sogro de D.
João de Coimbra, numa gravura do século XVI. (Rijksmuseum)
Por
causa da Rainha Helena Paleóloga, Chipre tornara-se um destino privilegiado
para os cristãos ortodoxos refugiados de Constantinopla[xi]
– e esta circunstância viria a revelar-se crucial no futuro de D. João de
Coimbra.
Chastellain
dedica um capítulo inteiro à cena comovente da partida de D. João de Coimbra
para Chipre[xii],
começando por sublinhar que a embaixada do Rei do Chipre já o esperava há
muito. Nas palavras que dirige ao seu tio, registadas pelo cronista, perpassa
um enorme dramatismo, um sentimento que baila entra a contrariedade e a
resignação, pontuado por algum desespero e angústia, que se traduz fisicamente
numa torrente de lágrimas.
D.
João dirigiu-se ao tio[xiii]
recordando que chegou à sua casa como “um
pobre órfão”, “expulso da sua herança
e parentela”, para concluir que foi acolhido como um filho e acabou “mais venturoso de chegar por infortúnio à
vossa casa do que teria sido de permanecer na casa de meu pai sempre próspero e
tranquilo”. Referiu-se à sua investidura na Ordem do Tosão de Ouro como a
mais subida de tantas honras que o tio lhe fez, “da qual me orgulho mais do que da coroa, e não satisfeito de tanto me
ter feito, ainda me deu um reino e nome de príncipe.”
O
filho do Infante D. Pedro referia-se ao título de Príncipe de Antioquia, um dos
antigos títulos dos cruzados, que passara a usar a partir da conclusão do
casamento por procuração. O sentimento era de profunda aflição:
“Todas as minhas veias se convertem em
lágrimas e amargas lamentações, quando percebo que a hora da minha despedida
chegou, e que sou forçado, para obedecer aos vossos nobres prazeres, a ir-me a
um país longínquo e desconhecido, no fim do mundo, entre gente de natureza
perversa.”
Afirmando
preferir a Borgonha aos dez reinos prometidos e entre “lágrimas duras”, na
expressão do cronista, D. João entrega-se, qual bíblico cordeiro levado ao matadouro, ao seu tio com uma certa brutalidade:
“Alimentastes o corpo e havei-lo feito
cavaleiro. Tomai e recebei esse corpo alimentado entre as vossas mãos, e tal
como está, valha muito, valha pouco, será vosso até ao fim dos seus dias.”
Perante
tão avassalador discurso, cheio de gratidão mas sobretudo de mágoa e até
recriminação, o Duque da Borgonha elogiou o “bom sangue, do qual todos os que partiram foram gente de bem”, numa
clara alusão ao malogrado Infante D. Pedro, e disse estar certo de que D. João
seria “um bom cavaleiro e um valente
príncipe para os tempos vindouros”.
Protestando
ao sobrinho afecto idêntico ao que teria por um filho, Filipe, o Bom, sentiu a necessidade de proclamar
que “não fosse pelo vosso progresso e
pelo bem da Cristandade, por mim não partiríeis para ir tão longe”,
exortando-o à fidelidade a Deus. Caindo nos braços um do outro, tio e sobrinho
começaram as despedidas regadas com rios de lágrimas e que terminaram na
Duquesa Isabel, que se despedia do sobrinho que acolhera seis anos antes para o
não voltar a ver.
D.
João partiu para Nicósia, onde casou com a herdeira e foi feito regente de
Chipre. As representações de D. João de Coimbra nos códices da Ordem do Tosão
de Ouro mostram que passou a usar umas armas esplêndidas e verdadeiramente
únicas, combinando a sua herança luso-inglesa com as armas dos reinos para os
quais estava destinado (Jerusalém, Arménia e Chipre) e as armas da família
Lusignan. Tudo rodeado pelo colar do Tosão de Ouro.
Belíssimo desenho das armas de D.
João de Coimbra, com o Tosão de Ouro pendente, no Armorial
de la Toison d'or que se encontra na Biblioteca Municipal de Dijon.
Armas de D. João de Coimbra na obra Éloges
et blasons des chevaliers de la Toison d'or, dont les armoiries sont au haut
des stalles du chœur de la Sainte-Chapelle de Dijon, de Jean Godran, que se encontra na Biblioteca Municipal de Dijon.
Armas de D. João de Coimbra na obra Le
Blason des Armoiries de tous les chevaliers de l'Ordre de la Toison d'or depuis
la première institution, jusques à présent
(Biblioteca Nacional de França).
Pormenor das armas de D. João de
Coimbra no secção dos ‘feitos dos primeiros cavaleiros’ no precioso Statuts
et armorial de la Toison d'Or (Cópia na British Library).
A
glória heráldica de pouco lhe serviu. As fontes da época não divergem muito
quanto ao seu triste destino. Antes da chegada do jovem Príncipe de Antioquia,
o poder era exercido pela Rainha Helena Peleóloga e pela ama da Rainha, que
exercia enorme influência sobre a soberana, cujo filho tinha sido alçado a
Camareiro-Mor.
A
destituição de oficiais da corte cipriota por parte de D. João ao assumir a
regência, assim como a correcção da administração religiosa e o afastamento
padres ortodoxos terá feito crescer as tensões mas terá também tornado o
português popular entre os cipriotas[xiv].
A concessão da administração da Diocese de Paphos, na Ilha de Chipre, a D.
Jaime, irmão do Príncipe (já Arcebispo de Lisboa e Cardeal, aos 24 anos...[xv])
em 1457, terá sido parte da estratégia do regente português para reordenar o
culto religioso.
Nesse
mesmo ano e no meio da luta pelo poder, alguns cavaleiros de Malta, partidários
do Príncipe de Antioquia, foram acusados da morte de um próximo da Rainha
Helena. A altercação que se gerou, com mortes à mistura, terá feito cair doente
o príncipe português, que morreu ao fim de uns dias. Na sua Crónica
de Chipre, Florio Bustron narra a zanga com mortos contados de ambos os
lados[xvi].
Mas não atribui a D. João outra causa de morte que não o desgosto. A crónica de
Strambaldi também não adianta nada sobre a morte.
Mas
nos seus Commentarii em jeito de
memórias, o Papa Pio II – Enea Silvio Piccolomini, também prolixo poeta e autor de
best-sellers proto-eróticos do século XV – fez questão de deixar a sua
leitura do que aconteceu em Nicósia: D. João, Príncipe de Antioquia e Regente
de Chipre, terá morrido envenenado por ordem ou com o consentimento da sua
sogra, a Rainha Helena:
“O filho da ama, tendo medo do estilo do novo
príncipe, retirou-se para Famagusta. Deste lugar convenceu a sua mãe de que, se
quisesse ficar a salvo com o filho, teria de matar João com veneno, porque, com
este vivo, ela não poderia estar segura pela própria vida. E a história não foi
contada a um surdo!
Uma mulher conhecedora de venenos –
com o consentimento da rainha, como corre a fama – despachou o mui nobre
príncipe com um veneno, e assim regressaram as antigas seduções e as condenadas
ordens de Helena.”[xvii]
Na
sua crónica borgonhesa, Chastellain não culpa directamente a Rainha Helena do
envenenamento mas antes “alguns
governantes da ilha de Chipre” que se mostravam agastados pela forma “virtuosa e útil ao dito reino” de
governar de D. João, dando conta de que não foi o único a morrer envenenado.
A
morte ter-lhe-á chegado em forma de remédio trocado por veneno, o que nos faz
recuar às suas proféticas palavras em Leiden, onde antecipou que partia para
junto de “gente de natureza perversa”.
Anos mais tarde, ao apresentar-se ao Papa em Roma, exilada do reino que perdera
para o meio-irmão, a Rainha Carlota do Chipre, lamentando toda a sua desgraça,
referia-se assim a D. João: “O marido que
tomei de Portugal perdi-o para uma morte súbita e prematura.”[xviii]
Chorado
pela viúva e pelo seu povo, o primeiro cavaleiro português da Ordem do Tosão de
Ouro acabou sepultado com todas as honras na Igreja de São Francisco na capital
da ilha[xix].
Terá
morrido entre Julho e Outubro de 1457. Aos pretensos assassinos a vida tampouco
correria bem. Helena Paleóloga morreria meses depois[xx],
em Abril de 1458, quando o filho bastardo do marido e da desnarigada tentava ocupar o poder – o que acabaria por acontecer
uns anos mais tarde, depois do reinado de Carlota.
Certamente
corroído de remorsos pela morte de “um
dos príncipes do mundo mais bem talhado para vir a ser um grande homem”,
nas palavras de Chastellain, Filipe, o
Bom, recebeu com profundo pesar a notícia da morte do sobrinho que enviara
para salvar a Cristandade contra os turcos e que acabara ceifado pelas divisões
entre cristãos. Mandou-lhe rezar um soleníssimo ofício de defuntos em Bruges,
ao qual compareceram os Cavaleiros do Tosão de Ouro, substituindo o escarlate
dos mantos pelo negro do luto.
Os cavaleiros do Tosão do Ouro com os
mesmos mantos negros que terão envergado no ofício de defuntos rezado em
memória de D. João de Coimbra, Príncipe de Antioquia, em Bruges. Nesta
ilustração, mostra-se como se deveriam apresentar no ofício em memória de Santo
André, padroeiro da Ordem. (Le Miroir de l'ordre du
Thoison d'or, século XVI, Biblioteca Municipal de Besançon)
*
* *
No
seu Itinerario da Terra Sancta e suas
particularidades, publicado em
1593, Frei Pantaleão d’Aveiro dá conta da sua passagem por Chipre trinta anos
antes e de como os ódios entre gregos e latinos, ou ortodoxos e católicos como
hoje diríamos, eram manifestos.
Nicósia,
diz-nos o frade franciscano, “era muy
desconcertada, & mal povoada” mas foi
ali que visitou as principais igrejas e relatou que “no mosteyro dos nossos padres conventuaes está hua muy rica &
suntuosa sepultura, & nella sepultado o Inffante Dom Ioão”, que o
viajado frade coloca erradamente como filho de D. João I. Mais importante que o
lapso genealógico é a descrição do que viu:
“Na sua sepultura estão as armas de Portugal
esculpidas; & assi mesmo estão em hum riquissimo ornamento de brocado muy
acabado em tudo com seu pano de pulpito, & de estante, que os frades tem em
muyta estima na Sacristia”.
Frei
Pantaleão confessava então o seu “grande
contentamento, vendo aquellas Reaes insignias, que excedem a quantas tem todos
os príncipes do mundo, por serem dadas em batalha campal, não contra Christãos,
mas contra Mouros inimigos de nossa sancta fè”[xxi].
Ignorava, porventura, que as belas armas haviam sido tolhidas pelos cristãos e
não pelos mouros...
Esta
memória de um Portugal além fronteiras haveria de se perder nas guerras entre
venezianos e otomanos das décadas seguintes, sendo destruída a sepultura, a
igreja (que, segundo alguns autores, situar-se-ia no local da actual Igreja da
Santa Cruz[xxii])
e certamente também a memória local deste príncipe português destinado a ser
Rei de Jerusalém reconquistada pela cruzada que nunca chegou.
A
ofensiva diplomática de Filipe da Borgonha e Isabel de Portugal, que conseguira, no mesmo ano, um Príncipe de Antioquia
e um príncipe da Igreja, acabaria frustrada pelas circunstâncias. Tudo no
legado de Filipe e Isabel seria profundamente efémero, com excepção da própria Ordem
do Tosão de Ouro. O destino da Borgonha “independente” estaria, a prazo,
condenado. Duas gerações depois, a herança borgonhesa ficou foi atribuída aos
Habsburgo, pelo casamento de Maria da Borgonha, neta de Filipe e Isabel, com Maximiliano,
futuro Imperador do Sacro Império, de cujo cenotáfio e família já falámos.
Se
os territórios que Filipe, o Bom, se
empenhou em juntar foram integrados na França após a morte de Carlos, o Temerário, a chefia da Casa da
Borgonha seria ferozmente reivindicada pelos séculos seguintes pelos herdeiros
de Filipe e Isabel, com um propósito claro: a chefia da Ordem do Tosão de Ouro
era pertença do chefe da Casa. Passou, assim, dos Habsburgo imperiais para os
Habsburgo espanhóis, onde permaneceu até ao dealbar do século XVIII.
A
Ordem do Tosão de Ouro tem, pois, a particularidade de ter ficado associada não
a um Estado, o que teria levado ao seu rápido desaparecimento, mas aos
herdeiros da dinastia, que a assumiram como a principal condecoração do Sacro
Império e, depois da divisão dos territórios por Carlos V, da Espanha, onde
ficou a varonia dos Habsburgos.
Por
isso, quando, após a Guerra da Sucessão Espanhola, um Bourbon francês passou a
reinar em Madrid como Felipe V e reclamou o Tosão de Ouro como ordem nacional
espanhola, os Habsburgo austríacos reclamaram a varonia da Casa da Borgonha e mantiveram
a sua própria Ordem, porventura a original, com o
magnífico Tesouro e os preciosos Arquivos, que mantêm até hoje uma peculiar
autonomia, muito depois do fim dos impérios.
Subsistiram,
pois, de 1700 e até 1918, quando no fim da Grande Guerra caiu o Império
Austrohúngaro, duas Ordens ou dois ramos da Ordem do Tosão de Ouro outorgadas
por soberanos distintos e com numerações distintas para os seus cavaleiros. A
cobiça pela chefia da Ordem era tal que ao sempiterno Napoleão ocorreu criar em
1809 a Ordem
dos Três Tosões de Ouro – sendo o terceiro um francês a juntar ao austríaco
e ao espanhol. A Ordem, com insígnias desenhadas e estatutos publicados, não
saiu do papel e foi extinta em 1813, antes de ser outorgada.
Mesmo
após a ‘nacionalização’ da Ordem por Espanha, esta não abandonou o seu carácter
dinástico. Os Reis de Espanha continuam a reclamar o título de Duque da
Borgonha. De resto, o Conde de Barcelona, pai do Rei Juan Carlos, atribuiu
alguns colares no seu exílio, durante o longo reinado de Franco. Da mesma forma, os herdeiros dos imperadores
austríacos continuam a atribuir o Tosão de Ouro até aos nossos dias.
Na
longa história do Tosão de Ouro e após o trágico caso de D. João de Coimbra, houve
vários cavaleiros portugueses. Após a divisão, quase todos do ramo espanhol. Sobretudo
reis e príncipes, mas também três Presidentes do Conselho de Ministros: o Duque
de Palmela (feito cavaleiro muito antes de ser Duque ou Presidente do Conselho),
Fontes Pereira de Melo e Hintze Ribeiro.
O
ramo austríaco permaneceu restrito à realeza e à aristocracia, mas com menos
portugueses. O único soberano português a recebê-lo foi o Rei D. José, em 1721.
Entre os actuais cavaleiros conta-se o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança, e
contaram-se no passado apenas o seu avô, D. Miguel de Bragança, o seu pai, D.
Duarte Nuno, e o Conde de Saldanha da Gama, a quem o Arquiduque Otto conferiu o
Tosão em 1951, em reconhecimento pelos serviços aos seus pais, o Imperador
Carlos e a Imperatriz Zita.
Armas e divisa do Rei D. Manuel I,
“roy de Portugal et des Indes”, segundo cavaleiro português da Ordem do Tosão
de Ouro, no Armorial de la Toison d'or que se encontra na Biblioteca Municipal de Dijon.
D.
João VI, por cuja fabulosa insígnia começámos este périplo, recebeu o seu Tosão
de Ouro enquanto Infante em 1785, ao mesmo tempo que o seu irmão D. José,
Príncipe do Brasil e Herdeiro do Trono (que morreria sem descendência três anos
depois). Os dois filhos de D. Maria I foram, à época, os primeiros portugueses
a receber o Tosão espanhol em mais de 250 anos, um hiato explicado pela União
dos Reinos em 1580, pela Guerra da Restauração e pelo apoio ao lado perdedor na
Guerra da Sucessão Espanhola.
Não
deixa de espantar que, no tempo do vício do
efémero, se continuem a publicar livros, a escrever teses de doutoramento e
a organizar
exposições sobre uma Ordem deliciosamente arcaica, com quase 600 anos, criada
em honra de uma infanta portuguesa. Há apenas dois anos, o
Governo Espanhol comprou um precioso Códice do Tosão de Ouro por 500.000 euros,
destinado a figurar noutro sempre adiado Museu das Colecções Reais, a inaugurar
um dia em Madrid.
E
que num país como Portugal, eternamente
em busca da canela – seja em forma de especiarias, de ouro do Brasil ou de
fundos europeus agora em vestes de bazuca, lucro fácil para consumo imediato e
se possível eleitoral –, se tenha podido investir num equipamento como o Museu do Tesouro Real, que celebrará o
legado de um regime que ainda hoje se
procura desvalorizar de forma tão insensata como irracionalmente insegura, é
ainda mais notável e digno de louvor.
Ademar
Vala Marques
Outubro
de 2021
Agradecimentos
Um
agradecimento especial ao Professor Marcos Helena, pela tradução do texto do
Papa Pio II. Agradecimento também ao Embaixador Manuel Côrte-Real, ao Lourenço
Correia de Matos e à Debbie Rodrigues Sabino pela bibliografia disponibilizada,
e ainda ao António Araújo e ao António J. Ramalho.
[i] “Assim pela magestade d’el-rei seu sogro como pelas excellencias da nova
princeza, que foi de tão valeroso animo, e de basta prudencia dotada, que sem
seu parecer não fazia o duque seu marido cousa alguma, tudo ela governava e
regia”. Mariz, Pedro de, 1550?-1615, Dialogos
de varia historia... Em Coimbra : na Officina de Antonio de Mariz, 1594.
[iv] Embora identificado por
Mario Damen como o seu irmão, D. Jaime (futuro Cardeal), tal faz pouco sentido
tendo em conta que era D. João, mais velho, que acompanhava o tio de acordo com
as múltiplas referências nas crónicas de Georges Chastellain. Cf. Damen, Mario, De staat van dienst: de gewestelijke ambtenaren
van Holland en Zeeland in de Bourgondische periode (1425-1482), pág. 111.
[v] “Jeune chevalier de vingt ans,
neveu de le duchesse de Bourgongne, auquel par regard que l’on avoit à ses mœurs et vertus et à la haute disposition de sa personne
pour le temps futur, fut député cest honneur, car plus bel commencement de
jeusne prince que luy n’avoit en la terre.”
Chastellain, Georges, Chronique, Tome III 1454-1458, publiées par M. le Baron
Kervyn de Lettenhove, Bruxelles, 1864.
[vi] “Or avoit esté conclu de
l’envoier en Cypre mesmes à la requeste du roy de Cypre qui en vouloit faire
son héritier et lui donner sa fille, et à quoy le duc et la duchesse sa tante,
à la très-longue et grant instance dudit roy, s’estoient consentis pour le bien
de la cristienté.” Chastellain, op. cit.
[vii] Cortez, José, Dom João de Coimbra – Retrato por Rogier van
der Weyden, in Colóquio – revista de artes e letras, N.º 7, Fundação
Calouste Gulbenkian, Fevereiro 1960.
[ix] Encontra-se, nomeadamente,
nas iluminuras do livro L'instruction
d'un jeune Prince, mais ou menos contemporâneas do retrato de van der
Weyden.
[x] São Paio, Marquês de, Messire Jehan de Coymbre, in Armas e
Troféus, 1959.
[xi] O Papa Pio II nos seus Commentarii conta-o desta forma
eloquente: “Esta, quando depois do
casamento se apercebeu da loucura do marido, comportou-se mais como rei do que
como rainha. Governou ela própria o reino, depôs e nomeou magistrados,
organizou os sacerdócios segundo o seu arbítrio e, eliminado o rito latino,
impôs o rito grego, ditou leis de guerra e paz. Ao marido bastou passar a vida
entre banquetes e abundar em prazeres, mas desta maneira toda a ilha [de
Chipre] regressou para o poder dos Gregos. Junto da rainha era influentíssima a
sua aia, e junto da aia o seu filho em quem parecia estar na realidade o cume
do poder, porque ele mandava na mãe, a mãe na rainha, e a rainha no rei.”
(Eneas Silvio Piccolomini [Papa Pio II], I
Commentarii Rerum Memorabilium: Quae Temporibus Suis Contigerunt, Tradução
de Marcos Helena.)
[xii] Chastellain, op. cit., Chapitre
XXV - Comment messire Jehan de Coymbre prist congé au duc de Bourgongne pour
aller au royaume de Cypre.
[xiii] Pela relevância e
profundidade do discurso, reproduz-se na íntegra o texto original: “Monseigneur, je vins un povre orphelin en
vostre très-noble maison, jà grant pièce a, et estoye un enfant expuls dehors
de mon héritage et parenté, dont si Dieu ne m'eust adressié devers vous,
monseigneur, je fusse allé waucrant par le monde, povre et désert le plus
qu’onques fit noble homme. Mais grâces à Dieu et à mon bonheur, tant m’en
est bien pris que je me répute plus heureux d’estre venu par infortune en
vostre maison qu’avoir demoré en celle de mon père toujours prospère et
transquille. Monseigneur, je vins bien jeusne cy-ens et enfant et en
soefve nourriture; sous vous, suis venu jà à vigoureux eage: sy ne sçay
quel grâce vous en rendre. Je y vins tout povre et sans attente en nullui,
et vostre grâce m’y a recueilly comme fils, et là où je n’estoie en nulle
disposition de jamais pouvoir essourdre, vostre haute noble bonté m’a
eslevé en honneur et en gloire. Cy-ens ay pris et de vostre main l’ordre de
chevalerie; maints honneurs et bienfais y ay reçu aussi plus qu’en maison de
père, et ce qui plus est, après que me suis trouvé en tout rebout de fortune,
vous m'avez fait chevalier de vostre ordre, dont je me grandis plus que d’avoir
couronne en chief, et non assouffi encore de m’avoir tant fait, vous m’avez
pourvu de royaume et de nom de prince sous vostre ombre. Que benoîte soit
l’heure que vous naquistes et la terre, benoîte, qui vous porte et soustient,
et sans que j'en desplaise à Dieu, maudite soit l’heure après, quant je ne
vous en puis regrâcier ainsi qu’il appartient, et qu’il faut que j’abandonne et
délaisse vous, monseigneur, et vostre noble maison qui tant me gist en cœur,
que toutes mes veines se convertissent en plours et en amers regrès, quant je
perchoy que l’heure de mon département sy est venue, et que je suis constraint,
par obéyr à vos nobles plaisirs, de m’aller rendre en pays loingtain non
cognu, au bout du monde, entre gens de perverse nature, dont les dix royaumes
ne me seroient si agréables comme la demeure droit-cy, jà-soit-ce que l'honneur
m'y est trop grant et trop plus qu’à ma valeur. Monseigneur, je ne vous puis grâces
rendre, qui soient condignes aux bienfaits reçus. Ce petit que j'ay et que je
vaulx, me vient de vous. De ma povreté, je n’ay que je pusse offrir. De ma
richesse, je ne vous puis complaire, ne servir. Vous avez nourry le corps et sy l’avez fait chevalier.
Sy prenez et recevez vostre nourriture entre vos mains, et telle qu'elle est,
vaille peu, vaille point, elle est et sera vostre le ramanant de ses jours.” Chastellain, op. cit..
[xiv] Du Cange, Charles du Fresne, Les Familles d'outre-mer, p. 94. No
mesmo sentido o Papa Pio II, nos Commentarii: “Chegando João e celebradas as núpcias, tudo foi entregue nas suas mãos
e, corrigido o tipo de governo, as questões divinas e humanas foram resolvidas:
o rito romano da Igreja foi restabelecido, o poder foi arrebatado à rainha e à
ama.” (No original, em latim: “Adveniente
Portugallensi celebratisque nuptiis cuncta in eius manu posita sunt: forma
regiminis correcta, divina et humana reformata negocia, Romane Ecclesiae ritus
instauratus, reginae ac nutrici adempta potestas.” (Eneas Silvio
Piccolomini [Papa Pio II], I Commentarii
Rerum Memorabilium: Quae Temporibus Suis Contigerunt, Tradução de Marcos
Helena.)
[xv] O Papa Pio II refere nos
seus Commentarii que a idade dos três
cardeais criados no consistório de 1456 não chegava para um.
[xvi] Bustron, Florio, Chronique de l'Île de Chypre. Publiée par
René de Mas Latrie, 1884.
[xvii] “Nutricis filius novi principis faciem veritus Famagustam concessit, quo
ex loco matri suasit: si se cum filio salvam vellet, veneno ut Portugallensem
extingueret, quo vivo vitam ipse diu servare non posset. Nec surdo cantata
fabula: venefica mulier consentiente regina - ut fama fertur - nobilissimum
principem thossico substulit, atque ita priores illecebre et damnata Helene
imperia rediere.” (Eneas Silvio Piccolomini [Papa Pio II], I Commentarii Rerum Memorabilium: Quae
Temporibus Suis Contigerunt, Tradução de Marcos Helena.)
[xviii] “Virum, quem duxi ex Portugallia, repentina et immatura mors abstulit”.
(Eneas Silvio Piccolomini (Eneas Silvio Piccolomini [Papa Pio II], I Commentarii Rerum Memorabilium: Quae
Temporibus Suis Contigerunt).
[xix] Bustron, Florio, Chronique de l'Île de Chypre. Publiée par
René de Mas Latrie, 1884, pág. 374.
[xx] Fontes mais recentes atribuem
a alguma misoginia e sobretudo à aversão aos “gregos” por parte dos latinos
(cuja versão predominou) o tratamento negativo que a historiografia atribui a
Helena Paleóloga. Com o argumento de que não há fontes isentas, há quem defenda
que não há provas contundentes do seu envolvimento no assassinato de D. Joã.
[xxi] PANTALEAO, de Aveiro,
O.F.M., Itinerario da Terra Sancta e suas
particularidades / compostos por frey Pantaliam Daueiro. - Em Lisboa : em
casa de Simão Lopez, 1593.
[xxii] Michalis Olympios, Institutional Identities in Late Medieval
Cyprus: The Case of Nicosia Cathedral, Nicosia, 2014.