“Desde
a morte do principe consorte, essa viuva é viuva como é rainha –
magnificamente. Tem a tranquillidade de um ser indifferente a tudo, excepto ao
dever.”
Branco e Negro – Semanario Illustrado,
27 Junho 1897
“Only the passage of time can filter out the
ephemeral from the enduring.”
Isabel
II, Discurso ao Parlamento na ocasião do
Jubileu de Ouro, Abril 2002
No
meio do declínio moral que atinge, sem distinção alguma entre repúblicas e
monarquias, todos os países e até a sua própria família, a Rainha Isabel II
permanece como um farol de dignidade, um exemplo de entrega a uma causa, expoente
máximo de serviço público e de dedicação.
Será
porventura porque o carácter de Isabel de Inglaterra foi traçado numa forja irrepetível
em que se juntaram dois acontecimentos de proporções históricas, a Abdicação de
Eduardo VIII e a Segunda Guerra Mundial, cada um deles traumático à sua maneira:
o primeiro pela singularidade absurda de um rei que abandona o seu dever para
com o seu país, colocando em risco a instituição que estava obrigado a
preservar; o segundo pela dimensão avassaladora da violência, da destruição e
do horror, misturados com o inspirador sentido de coragem e resistência que os
então Reis Jorge VI e Isabel, pais de Isabel II, representaram para o seu Reino
e para todo o Mundo livre.
Estas
duas experiências históricas, vividas na década em que a jovem princesa passou
de criança a adulta, foram determinantes na formação do espírito de serviço e
de resistência às adversidades de que Isabel II tem dado provas ao longo do seu
longuíssimo reinado.
Se
é verdade que, em cada tempo, haverá uma tendência para considerar que as
mudanças foram radicais em relação às décadas anteriores, será seguro afirmar
que diferença entre 1952 e 2022 é mais extraordinária, por exemplo, do que a
diferença entre 1837 e 1901, os anos de início e fim de reinado da Rainha
Vitória. As mudanças sociais, políticas, religiosas e tecnológicas nunca foram
tão profundas como no actual reinado.
Quando,
a 6 de Fevereiro de 1952, a vida de Jorge VI se extinguiu tranquila mas
inesperadamente, o mundo ocidental era ainda profundamente reverencial. A
barbárie bolchevique triunfara na Rússia apenas 35 anos antes ceifando a vida
dos Romanov, mas até ali já se havia transformado o antigo respeito pelos
czares numa nova devoção pelos mártires vermelhos. Estaline, que morreria no
ano seguinte, era um dos vencedores da Guerra e não apenas o monstro carniceiro
de tantos povos.
Aos
25 anos, Isabel II tornou-se rainha no topo de uma árvore no Quénia, então
colónia britânica. Longe estaria de imaginar que em breve seria erguido um muro
à volta de parte Berlim, que o Homem chegaria à Lua uns anos depois, que uma
espécie de confederação económica europeia vingaria por longas décadas, que a
vida da sua família seria cruelmente devassada pelos tablóides, que os e-mails suplantariam as cartas e que os
telemóveis trariam uma impensável rapidez e devassa à vida, que veria um
afro-americano chegar a Presidente dos Estados Unidos da América, que um Papa
renunciaria ao pontificado, ou que tendências seriam ditadas por jovens influencers sem méritos conhecidos, para
citar apenas alguns dos muito extraordinários acontecimentos destes 70 anos.
Churchill regressara ao poder apenas 4 meses antes, numas eleições em que, pela terceira vez, perdeu o voto popular, ficando com menos 230.000 votos do que os Trabalhistas (em 1945 e 1950 perdera por mais...), mas em que o sistema eleitoral deu aos Conservadores uma curta vantagem em número de deputados. O ancião herói da Guerra, sempre impecavelmente vestido e polido, terá sido uma ajuda providencial para Isabel II nos primeiros anos do reinado. E, também nesse aspecto, a Rainha estaria longe de imaginar que em 2022 teria como Primeiro-Ministro um louro desgrenhado chamado Boris ou que um dos seus putativos sucessores e Chanceler do Tesouro seria um jovem de 41 anos, de pais indianos, chamado Rishi Sunak.
Jorge
VI fora, genuinamente, um herói. Vencedor da sua própria timidez e gaguez
profunda, foi um dos grandes símbolos da resistência ao recusar-se a abandonar
Londres e ao ter a sua casa – Buckingham – bombardeada como tantos milhares de
londrinos, escapando por pouco à Luftwaffe. Isso fez dele um dos vencedores da
Guerra e um rei amado pelo seu povo. Mas tal não impediu que, naquele dia 6 de
Fevereiro de 1952, uma das extravagâncias das monarquias voltasse a acontecer.
Ao choque pela perda de um rei amado, de um herói, sobrepôs-se rapidamente a
excitação do início de um novo reinado, uma nova era isabelina, com uma rainha
jovem e bonita, o dealbar do tempo novo que permitiria esquecer os horrores da
Guerra.
*
* *
O
último monarca a celebrar 70 anos no trono, dito agora Jubileu de Platina, foi o anterior Rei da Tailândia, Bhumibol Adulyadej.
Chegou à admirável marca em 2016, hospitalizado há muito, morrendo no mesmo
ano. Já neste mês de Janeiro de 2022, Margarida II, a especialíssima Rainha da
Dinamarca, que herdou um país convictamente republicano e o transformou num
reino cosmopolita onde ainda impera a tradição, assinalou de forma discreta – covid oblige – os seus modestos 50 anos
no trono, o Jubileu de Ouro, adiando
as comemorações para mais tarde.
Um
jubileu assinala uma data redonda e
marcante. Com origem no Livro do Levítico, que manda santificar o quinquagésimo
ano e institui uma série de regras (Lev 25, 8-28), o primeiro jubileu
instituído para o futuro e com periodicidade fixa de 100 anos, terá sido o do
Ano Santo de 1300. Como as Escrituras falavam em 50 e todos gostamos de
alegria, os Papas logo se apressaram em reduzir a periodicidade –passando primeiro
de 100 para 50 anos e encurtando depois para metade. Assim, a Igreja Católica
celebra a cada 25 anos um aniversário especial do nascimento de Cristo, com
anos e portas santas, indulgências e peregrinações. O último foi o Grande Jubileu do Ano 2000, proclamado
pelo Papa São João Paulo II e que mobilizou a Igreja Universal para assinalar
os dois milénios desse momento marcante da nossa civilização – até na forma
como situamos, no tempo, a História.
Outras
instituições passaram a assinalar os seus jubileus e os monarcas viram nessas
celebrações a ocasião para renovar a sua aliança com o povo. A Rainha Vitória de
Inglaterra celebrou os seus 50 anos no trono em Junho de 1887, uns anos depois
de ter assumido o título de Imperatriz da Índia – e as comemorações tiveram um
marcado travo indiano, com a chegada de vários rajás e marajás, mas também de
dois criados indianos, um dos quais haveria de acompanhar a Rainha-Imperatriz
até ao fim dos seus dias, numa relação não isenta de polémica.
Ao lado dos representantes de muitos outros tronos que desapareceriam nas décadas seguintes, os Príncipes D. Carlos e D. Amélia representaram Portugal nas cerimónias descritas na imprensa internacional como magníficas empompa,
circunstância e entusiasmo popular. N’O Occidente
(n.º 307), Manuel Pinheiro Chagas exaltava então o imobilismo de Victoria,
“uma estatua”, como a maior das suas virtudes:
“Victoria representa a inamovibilidade das
instituições britannicas, e representa-as bem porque parece tambem inamovível.
O inglez tenaz, afferrado aos seus habitos, pouco propenso a mudal-os, tem uma
grande sympathia pela rainha que foi tão amavel com o seu povo que resolveu
conservar-se firme como uma estatua no seu posto. (…) No seu imperturbavel
afferro á existencia representa por tal fórma a tenacidade ingleza, que os seus
subditos adoram-n’a como um symbolo. (…)
“A perturbação que a morte da rainha
Victoria produziria na Inglaterra é incalculavel. Nem nos atrevemos a suppôr
sequer como é que a Inglaterra poderá atravessar essa crise. (…)
“Ora imaginem o que resultará do funesto acontecimento
que obrigue os inglezes a deixarem de cantar God save the queen para passarem a cantar God save the
king! É caso para produzir um abalo
medonho na solidez da monarchia britannica.”
Dez
anos depois, em 1897, o Jubileu de
Diamante assinalou os 60 anos de um reinado que já não entusiasmava, mas até
Vitória ficou impressionada com as comemorações: "No one ever, I believe, has met with such an ovation as was given to
me, passing through those 6 miles of streets . . . The
cheering was quite deafening & every face seemed to be filled with real
joy. I was much moved
and gratified." – escreveu no seu diário.
A
imprensa portuguesa não poupou, novamente, nas loas à Rainha:
“O ser immaterial accentuou-se sob a
experiencia da vida e as canceiras do governo. A aurora de 1837 é hoje um
crepusculo sumptuoso.
“Decana das rainhas e das
imperatrizes, se não tivesse muitas corôas, seria ainda a maior mulher das
Ilhas-Britannicas.
“Robusta como um carvalho, apezar dos
seus 78 annos, a Rainha tem esse rosto severo que as grandes funcções e as
grandes dôres cinzelam. Desde a morte do principe consorte, essa viuva é viuva
como é rainha – magnificamente. Tem a tranquillidade de um ser indifferente a
tudo, excepto ao dever.”
Deste
texto publicado no Branco e Negro –
semanario ilustrado (n.º 65), perpassa uma certa antecipação de fim de
ciclo, o crepúsculo robusto que antes
foi aurora imaterial.
Isabel
II ultrapassou há muito o recorde britânico da sua trisavó Vitória, que morreu
em Janeiro de 1901, após 63 anos e meio de reinado. E se o recorde de Luís XIV
de França – 72 anos e 110 dias de reinado – parecia há uns anos irrepetível,
tendo em conta que reinou desde os 4 anos de idade, ninguém se surpreenderá se a
Rainha de Inglaterra lá chegar, em finais de Maio de 2024... Tal como, durante
o século XX, a sua trisavó, a Rainha Vitória, foi sinónimo de longevidade,
Isabel II prepara-se para ser uma referência para muitas décadas, provavelmente
para vários séculos, um caso de estudo genético e de ciência política.
*
* *
Desligado
dos contextos familiar, político e social, o reinado de Isabel II pode parecer
uma ladainha monótona: as Aberturas Solenes do Parlamento, os desfiles do Trooping the Colour e os cortejos da Ordem
da Jarreteira, os Natais em Sandringham e os Verões em Balmoral, as visitas de
Estado e as tours pela Commonwealth,
tudo com uma cadência quase perfeita.
E
é, contudo, na singular circunstância de esta ladainha não se ter alterado
substancialmente que está um dos segredos do sucesso de Isabel II enquanto
soberana. Não propriamente por se fingir uma estátua, na expressão de Pinheiro Chagas, mas por ter presidido a
uma evolução serena e discreta, num país que foi um turbilhão de acontecimentos
e emoções mas continuou a ser o Reino Unido. Como a própria referiu em 2002, “Change has
become a constant; managing it has become an expanding discipline.”
Do
ponto de vista político, a intervenção política mais arriscada da rainha terá
ocorrido precisamente a propósito do tema que, historicamente, mais divisão
causa nas ilhas britânicas: o da união. Em 1977, quando celebrava o seu Jubileu de Prata, a
Rainha dirigiu ao Parlamento palavras muito fortes contra a devolução de
poderes e em defesa da união do reino, assumindo-se como herdeira dos reis de
Inglaterra, dos reis da Escócia e dos príncipes de Gales, mas sublinhando que
fora coroada rainha do Reino Unido:
“I cannot forget
that I was crowned Queen of the United Kingdom of Great Britain and Northern
Ireland.”
O
tom firme usado pela Rainha surpreendeu o grande Westminster Hall, a parte
medieval que resta do antigo Palácio de Westminster. O trabalhista James Callaghan
era o Primeiro-Ministro e Margaret Thatcher a Líder da Oposição e travava-se um
debate aceso sobre a criação de um parlamento próprio para a Escócia. A rainha
entrava a pés juntos num assunto constitucional muito delicado. O referendo escocês
que teve lugar em 1979 deu uma vitória estreita aos que queriam a devolução de
poderes, mas a participação eleitoral invalidou-o, acabando por fazer cair o
governo de Callaghan que dependia do apoio dos nacionalistas escoceses e por
levar Thatcher a Downing Street em 1979.
O
assunto regressou no consulado de Tony Blair, eleito com a promessa de
regressar ao tema. O referendo escocês teve lugar apenas 12 dias depois do morte
de Diana, Princesa de Gales, num dos momentos mais duros do reinado, em que Isabel
II parecia ter perdido o apoio do seu povo. O resultado foi avassalador, com
74% dos escoceses a favor da devolução de poderes. Uns dias depois também o
País de Gales aprovou, por margem mais estreita, a devolução. A criação de
parlamentos e de governos nacionais aconteceu dois anos depois. A união não foi
quebrada mas, pelo menos no caso escocês, ficou abalada.
A
hegemonia do Partido Nacionalista Escocês parecia conduzir irremediavelmente a
Escócia à independência. Não estava, no imediato, em causa a chefia do Estado,
uma vez que a Rainha passaria a ser Rainha da Escócia, recuperando a união
pessoal que existiu até 1707. A Rainha apelou, discretamente, a que todos “pensassem muito bem na decisão”,
sublinhando o carácter potencialmente definitivo. E, para grande frustração dos
nacionalistas, o “não” à independência venceu no referendo de 2014, permitindo
muito provavelmente a Isabel II terminar o seu reinado sem desfazer o legado
dos seus antepassados.
O
Reino Unido reverencial de 1952 transformou-se, em 2022, num país cosmopolita,
símbolo orgulhoso de uma diversidade cultural e religiosa que espelha aquilo
que foi outrora a sua glória imperial e que hoje muitos pretendem transformar
numa perpétua cruz. Ter conseguido transformar essa herança colonial numa
celebração – ainda que inconsequente – da diversidade é, provavelmente, uma das
vitórias pessoais de Isabel II. A Commonwealth
of Nations é a sua marca pessoal nesse legado de várias gerações de
conquistadores.
Isabel
II é ainda rainha de 15 países independentes. É Rainha do Canadá, Rainha da
Austrália e Rainha da Nova Zelândia. Há 70 anos era também Rainha da África do
Sul, do Paquistão e de Ceilão, que depois optaram pela via republicana. A
atitude de respeito pela opção de independência das antigas colónias foi um
aspecto que favoreceu o espírito da Commonwealth.
O efeito isabelino será, em parte, o responsável pela surpreendente derrota do
republicanismo no referendo feito na Austrália em 1999, com participação de 95%
dos eleitores e que ditou uma opção de cerca de 55% pela continuação da
monarquia constitucional – contrariando as sondagens que, consistentemente,
indicam a república como favorita dos australianos.
A
capacidade extraordinária para, com absoluta dignidade, “gerir a mudança” e reinar
em dois países afinais tão distintos, o de 1952 e o de 2022, é sem dúvida um
dos aspectos centrais da análise das sete décadas, num reinado pródigo em
dificuldades e insucessos familiares. A sucessão de escândalos ocupou demasiado
espaço mediático e a obsessão frívola – que faz correr mais tinta sobre os
vestidos do que sobre os fins – diminuiu e continua a diminuir a percepção da
dedicação da Rainha e da sua Família às causas sociais, caritativas,
assistenciais, ecológicas e militares.
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* *
Em
Abril de 1947, cinco anos antes de subir ao trono, a Princesa Isabel fez uma
comunicação radiofónica aos povos da Commonwealth
Britânica e do Império para assinalar os seus 21 anos, a maioridade. Fê-la a
partir da Cidade do Cabo, na África do Sul, onde se encontrava a acompanhar os
seus pais na primeira grande viagem real do pós-guerra. Foi o seu primeiro
discurso e falou, com a sua jovem voz estridente, da experiência de crescer nos
“anos terríveis e gloriosos da segunda
guerra mundial” e das dificuldades vividas pelos jovens da sua geração.
Foi
aos jovens que se dirigiu para se vincular expressamente à divisa dos Príncipes
de Gales: “Ich dien.” ou “Eu sirvo.” A mensagem não podia ser mais
clara: apesar de, por ser mulher, não ostentar o título dos herdeiros do trono
(só em 2015 passou a haver direitos de sucessão iguais para homens e mulheres),
a futura rainha fez ali, em directo para milhões de pessoas, um voto de serviço
tão ou mais sagrado que o da sua própria coroação:
“I declare
before you all that my whole life whether it be long or short shall be devoted
to your service and the service of our great imperial family to which we all
belong.”
A
este voto de dedicação e de serviço, com valor de juramento ancestral, se
voltou a referir em diversas vezes ao longo do seu reinado, para o renovar e
reafirmar – aproveitando, em especial, os jubileus de Prata (1977), de Ouro
(2002) e de Diamante (2012). É absolutamente notável que uma jovem de 21 anos
se tenha comprometido de maneira tão dramática e definitiva há quase 75 anos e
pareça não ter hesitado num só momento no cumprimento desse voto, mesmo quando
o fez com sacrifício pessoal e familiar.
Num
dos momentos difíceis do seu reinado, em 1992, perante o clamor intolerante de
jornais e políticos, Isabel II reconheceu a necessidade de mudança e de
adaptação de todas as instituições, incluindo a Monarquia, naquele que é
certamente um dos mais
relevantes discursos da sua vida porque feito num momento de especial
fragilidade. A Rainha fez uma reflexão profunda sobre o tempo, sobre “a
inestimável vantagem da perspectiva”, para pedir moderação, compaixão,
tolerância e gentileza:
“Distance is
well-known to lend enchantment, even to the less attractive views. After all,
it has the inestimable advantage of hindsight.
“But it can also
lend an extra dimension to judgement, giving it a leavening of moderation and
compassion - even of wisdom - that is sometimes lacking in the reactions of
those whose task it is in life to offer instant opinions on all things great
and small.”
Vinda
de outro tempo, Isabel II traz até nós os valores dessa era já desvanecida, em
que a palavra dada tinha um valor quase sagrado – e que contraste produz com o
nosso tempo, em que pretendem imperar a moda e o efémero e em ninguém se
preocupa sequer em exigir o valor facial
da palavra.
A Magnífica, a Imortal, a Constante? Que cognome melhor definiria a Rainha que hoje celebra
70 longos anos de reinado? Porventura nenhum lhe faz suficiente justiça. Porque,
sendo magnífica, se destaca sobretudo pela sua discreta e coerente constância;
sendo mortal, se destaca pela intangível continuidade que representa. E se este
é o crepúsculo do seu reinado, em nada é menos digno de admiração do que foi o
seu dealbar.
A
ditadura do efémero (“an era when the regular, worthy rhythm of
life is less eye-catching than doing something extraordinary”) impõe que a celebração do feito
extraordinário de terem passado 70 anos de reinado seja mais relevante do que o
serviço constante e regular – e como tal absolutamente extraordinário – ao longo
desses 70 anos. Mas é essa dedicação sem falhas que, independentemente da
duração que o reinado vier a ter, distingue Isabel II, vincando a utilidade da monarquia
e o seu papel pessoal como modelo, possivelmente irrepetível e como tal eterno, de serviço público e de lealdade
para com os seus povos.
Ademar Vala Marques
Fevereiro
2022