Pulcinoelefante é a editora de Alberto
Casiraghi (Casiraghy nas letras). Nasceu em Osnago (Cantù, Como, Itália) em
1982, numa tarde ventosa. Nesse ano saiu apenas o livro inaugural, Una
Lirica. Una Immagine de Marco Carnà. Em 1983 foram lançados quatro livros, três
com textos do próprio Alberto Casiraghi, e o outro da autoria de Gaetano Neri.
Os três ilustradores de 1983 foram de novo Marco Carnà, Pierluigi Puliti e
Gianni Maura. Em 1984 foram lançados sete Pulcini, nove em 1985. Enfim, os
primeiros dez anos viram nascer 236 Pulcini.
Logo em Janeiro de 1992 surgiu o primeiro
Pulcino de Alda Merini, o n.º 237. O texto é dela, Il Poeta, os desenhos originais são de Marco
Carnà. A amizade e consequente colaboração com Alda Merini conduziram a um
aumento alucinante no número de livros produzidos: 4377 até Dezembro de 2001,
cerca de 3900 até Dezembro de 2012, mais de 300 em 2013, cerca de 160 neste ano
de 2014.
Alberto Casiraghi apresenta-se como um
padeiro de livros, o único padeiro que trabalha durante o dia, e de facto,
desde 1992, em média, tem feito mais de um livro em cada 24 horas...
Os livros de Alberto são quatro ou seis
folhas de papel Hahnemühle tamanho A4 dobradas em A5. Contêm um aforismo ou um
pequeno poema impresso em caracteres móveis, e uma ilustração: uma impressão
digital dos desenhos de Alberto, uma xilografia de Adriano Porazzi,
águas-fortes, litografias, fotografias, colagens, desenhos e pinturas com todas
as técnicas, ready-mades, esculturas, as intervenções mais variadas. As
tiragens vão de 15 exemplares a 30 ou 35. Os livros são numerados
sequencialmente.
Os autores dos textos são perfeitos
desconhecidos (como eu) e grandes poetas como Alda Merini ou o próprio Alberto,
este em nome próprio ou usando os seus variados pseudónimos. De entre os
mortos, ou os vivos inacessíveis, Alberto e os outros intervenientes nos livros
escolhem citações, ou dedicam-lhes aforismos e outras homenagens.
Não saindo da minha colecção, encontro
Santo Agostinho, Dante, Casanova, Leonardo da Vinci, Proust, Thomas de Quincey,
Barak Obama. E
Adonis, Patrizia Cavalli, Franco Manzoni, Jack Hirschman, Arturo Schwartz,
Allen Ginsberg, Franco Loi, Vito Riviello.
Os ilustradores são igualmente famosos
(Ugo Nespolo, Claudio Parmiggiani, Maurizio Cattelan) ou perfeitos
desconhecidos. Figura tutelar é Adriano Porazzi, gravador de xilogravuras,
criador dos seus motivos ou transliterador dos motivos de outros, incluindo os desenhos
de Alda Merini e de Alberto. Há amigos constantes: Adalberto Borioli, Alberto Rebori, Carlo Oberti, Enzo
Eric Toccacelli, Gaetano Orazio, Pietro Piedeferri, Luciano Ragozzino. Pierluigi
Puliti acompanha Alberto desde o Pulcino n.º 3, Luigi Mariani desde 1991
(n.º 183), Roberto Bernasconi desde 1994 (n.º 721).
Portugal é uma presença antiga nas
Edições Pulcinoelefante, com Fernando Pessoa (n.º 414, Abril de 1993, com um
monotipo de Alberto; e n.º 1142, de Outubro de 1995, com um desenho de Salvatore
Carbone). Em Março de 2013 essa presença foi reforçada: Alberto Casiraghy havia
decidido publicar Manuel Alegre (A Sombra,
n.º 8840) e publicou ainda o poema de Hélia Correia e Jaime Rocha Para Manuel Alegre (n.º 8848), uma
homenagem a Fernando Pessoa (Roberta Rocca, Diario:
Omaggio a Fernando Pessoa, n.º 8845), e um aforismo meu ilustrado pela
Isabel Baraona (A vida, o Mundo, n.º 8841).
No mesmo mês de Março de 2013 em que
estes livros foram publicados, o Alberto veio a Portugal. Fez um workshop no
Homem do Saco, explicando como deveriam ser feitos bons Pulcini. Dessa colaboração
resultaram os Pulcini portugueses, os n.ºs 8855 a 8858.
E do encontro feliz do Alberto com Vasco
Graça Moura nasceram mais quatro Pulcini, os n.ºs 8864, 8865, 8869
e 8877, feitos ainda em Março, e em Abril de 2013.
Para a exposição na Biblioteca Nacional, patente até 31 de Janeiro, o Alberto fez expressamente três livros, com
aforismos de Vasco Graça Moura, Paulo Teixeira Pinto e Rui Moreira. O livro de
Paulo Teixeira Pinto, Mascella, é o n.º
9283. Como foi terminado no Domingo dia 19 de Outubro, ter-se-lhe-ão seguido uns
10. Por isso o título da exposição já deveria ter sido actualizado para 9300
formas da felicidade. E até encerrar, em Janeiro de 2015, poderão ser já
9500...
Os livros expostos integram a minha
colecção. Com esta escolha, procuro revelar a variedade, a riqueza, a alegria
quase sempre, que estes livrozinhos (os libricini do Alberto) encerram e
desvendam. Há um núcleo de livros de Alda Merini, outro de Pulcini escritos e
ilustrados apenas pelo Alberto. Mas há sobretudo a poesia e a beleza
intrínsecas a umas quantas palavras, a uns traços no papel, palavras ou traços
de que apenas conheço esta materialização, sendo apenas devido a ela que estão
aqui.
Alberto Casiraghi é um artista: é poeta,
pintor, músico e construtor de violinos, impressor. O seu amor ao próximo e à
vida está traduzido nos milhares de livrozinhos Pulcinoelefante que fez e
ajudou a fazer e espalhou pelo mundo. E estes, fiéis ao seu criador, fizeram e
fazem amigos.
Catarina Figueiredo Cardoso