sexta-feira, 31 de maio de 2024

Carta de Bruxelas.

 







                                                                                                               Marte despolitizado


 

O direito da guerra não deixa margem para dúvidas. Os beligerantes identificam-se pelo uniforme. Estes comunistas, no entanto, despem o soldado do que faz dele um militar, e, desse modo, alguém que pode matar sem que isso constitua um crime. Na imagem, porém, nada liga o soldado a um Estado. Tudo se passa como se o soldado não tivesse amarras de qualquer espécie. Sem deixar de aparecer como soldado – atestam-no a arma, o uniforme neutro e, insidiosamente, o facto de apontar a metrelhadora a um civil inerme. À não identificação do soldado responde a evidência do civil. O Palestiniano é transfigurado no bem absoluto – a Humanidade por antonomásia. Sem armas. Realiza-se nela o estádio final do comunismo, na medida em que libertação implica o tornar-se rossa. Depois do proletariado, depois dos movimentos de libertação do terceiro mundo, a revolução anichou-se na pequena Faixa de Gaza. Na ausência de ligação a uma ordem estatal, o soldado torna-se a figura do mal, mas de um mal apolítico, um mal moral, um mal metafísico. Sem Estado, a guerra dissolve-se conceptualmente como actividade humana, inerente à pluralidade das comunidades políticas. Sobra a violência como forma de relação intrinsecamente imoral. É o não-dever-ser por excelência. Como tal, a sua supressão restaura metafisicamente a ordem perturbada. Assim se chega à paz. À paz dos cemitérios. Mas nem neles existirão judeus. Erradicados da História, regressarão sem nome à natureza.

        Como cinza?            


                                                                                    João Tiago Proença




Conhecer o património alimentar português dentre o carrossel da globalização.

 



 

A globalização alimentar é inelutável, vemo-la nas gôndolas e arcas frigoríficas e escaparates dos supermercados. É um processo tecnológico e económico irreversível, facilitado pela descoberta da indústria do frio, os métodos de conservação de média e longa duração, os transportes velozes em contentor, o complexo sistema do agrobusiness, o fabrico de fertilizantes, o mais que se sabe, a ponto de ninguém questionar de onde vem a perca do Nilo, a matéria-prima das delícias do mar, e é dado assente que os apaixonados pela alimentação multiétnica têm razões nas suas escolhas que as palavras não explicam (isto blasonando Pascal). Os regimes alimentares são diversificados, em torno do que comemos há polémicas inenarráveis, mas a par dos defensores acérrimos do conjunto de preceitos onde não cabem proteínas animais, começa a pesar a tendência do retorno a patrimónios que constituem identidades, com práticas que chegam a ter séculos (para não dizer milénios).

Tenho sérias dúvidas que haja alguém mais bem preparado que Maria Manuel Valagão para escrever este maravilhoso ensaio intitulado Património Alimentar de Portugal, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2024. A promoção dos patrimónios alimentares tem vindo a ser acalentada em sucessivas etapas entre nós, a própria Comissão Europeia estimula estes alimentos cuja tipicidade escapa à economia da escala gigante; um fenómeno cultural que alastrou com a criação dos museus regionais onde estes produtos tradicionais ganharam história e são matriz cultural; e a própria sociedade de consumo desencadeou a apologia de que a qualidade alimentar depende intrinsecamente de um património de sabores e cheiros, enfim, consolidou-se a imagem de que o nutritivo, o alimento seguro, bem apaladado e de valor organolético tem a primazia do local de origem, como escreve a autora, “Denominador comum da nossa espécie, o prazer de comer e saborear é indissociável, o prazer de recordar a tradição alimentar em que nos inserimos. O conjunto de produtos e de pratos específicos de uma família, de uma região, bem como de criações gastronómicas, é tecido por imperativos e necessidades que se foram resolvendo, adaptando e incorporando nos usos e costumes.”

O ensaio  desta socióloga da alimentação concentra-se em Portugal continental, vamos vê-la a discorrer sobre este património com ligação ao mar, à terra e à natureza, uma viagem à nossa identidade alimentar mediterrânica, às oralidades e patrimónios das tradições culinárias, dos caldos à doçaria, o leitor terá um tapete vermelho para percorrer quanto à importância do determinismo geográfico, o que é a variedade de um regime alimentar mediterrânico, como, a despeito da globalização, estamos conformados pelo bacalhau e pela sardinha, pelas salgas, pelas plantas e pelos animais das diferentes regiões; como o lugar e a paisagem nos podem definir a celebração à mesa, bem como a importância das estações do ano: “Em cada época do ano, as cambiantes e os matizes da paisagem mudam – com o despontar dos favais, com o amanho das hortas, na primavera; com a colheita dos frutos e as vindimas, no verão; com a apanha da azeitona, no outono. De acordo com o ecossistema, ao longo deste ciclo anual de produções, despontam plantas espontâneas, muitas das quais, são comestíveis. Também após as primeiras chuvas despontam os cogumelos silvestres, recurso precioso do sob-coberto de matas e florestas e também do montado do Sul.” A autora profere uma exultação de pão, vinho e azeite, do que nos vem da horta, os frutos secos, frutos secados e mel, daqui passamos para as carnes, um grande ecrã onde cabem bovinos, suínos, caprinos, ovinos e aves, não faltam os enchidos, e até se enfatiza e põe no seu lugar a tão destratada banha.

Mostrado o que dá o mar e a terra, é tempo de se saber o que constitui a prática culinária, abre-se espaço para os temperos, uma infinidade: gorduras, alho ou cebola, condimentos fortes ou picantes, ervas aromáticas, limão ou vinagre ou calda de tomate. Temperos que podem ser vazados em caldos, sopas e papas, é aqui que reside o segredo das açordas à portuguesa, as migas, as papas de milho, depois o arroz, os cozidos, os estufados e guisados.

O comer solitário é hoje produto de um viver familiar e de um quadro de relações em que o tempo conta e a convivência e a celebração à mesa podem ser exceção à regra. Daí a autora explorar um fenómeno social de crescente dimensão, o encontro com petiscos, onde as iguarias tradicionais reinam. E a autora escreve: “Petiscos há muitos: do mais elementar ao mais sofisticado. Do pica-pau ao salpicão e às taliscas, de presunto por todo o Norte, Entre-Douro-e-Minho e Trás-os-Montes, à muxama e estupeta de atum de Vila Real de Santo António, cujo consumo se alargou geograficamente, ou à moreia frita de Vila do Bispo, no Algarve, passando pelos biqueirões albardados de Olhão, pela caça e pelos enchidos, pelas azeitonas, pelos cogumelos silvestres, e outras infindáveis iguarias da terra e do mar que são património gastronómico português.” E haverá também menção da chouriça frita, as moelas e os pipis, a morcela de arroz assada, as saladas de polvo e de ovas – lista inumerável, há que ter orgulho neste património.

Era inevitável, a doçaria é também pedra angular destas ocasiões de convívio e celebração, a multiplicidade de espaços onde a encontramos impressiona, não se cinge à pastelaria ou confeitaria, alarga-se por toda a restauração, permite altos voos na vida doméstica, e há os doces da terra, dos múltiplos pastéis de feijão à queijadinha de Serpa, há quilómetros de coisas doces.

É preciso saber muito e relacionar-se bem com a escrita pedagógica para escrever estes primores sobre o património alimentar de Portugal com tão tocante simplicidade, e com tal poder de comunicação. E damos concordância a uma das considerações finais da autora depois desta aliciante viagem:

“O património alimentar faz parte da nossa memória de sabores e da nossa história agrícola. Contém harmonias de relação com a terra e com a natureza que devem ser preservadas e valorizadas. Os conhecimentos intemporais sobre as tradições, a sua transmissão através do ensinamento de práticas agrícolas, de conservação e culinárias, o caráter familiar e oral desse saber, devem ser recuperados, reavivando uma parte do património alimentar, um dos alicerces da herança cultural portuguesa.” E, mais adiante: “O património alimentar português pode tornar-se o contributo decisivo para a dinamização da economia e do desenvolvimento sustentável das regiões, com base nos valores e nas tradições que importa redescobrir e dar continuidade. O regaste da nossa história e identidade alimentar tem permitido alargar experiências culturais.”

De leitura obrigatória, um belo ensaio de divulgação que deve ter acolhimento a vários níveis do sistema educativo.


                                                                Mário Beja Santos

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Argélia: o tempo da fraternidade? (24).


 

São inúmeros os monumentos notáveis da cidade de Tlemcen.

Destaco apenas o Palácio El Mechouar, a Mesquita Sidi Boumedienne e a Fortaleza de Mansourah.

O Palácio El Mechouar foi edificado originalmente em 1145, destinado à residência dos governadores almorávidas e depois almóadas. Os sultões zianidas transformaram-no em Palácio Real.

 





  

A mesquita Sidi Boumedienne homenageia um grande iniciado do sufismo nascido em Sevilha em 1126 e é objecto de numerosas peregrinações. Aí se encontra o seu túmulo.

 




Finalmente a fortaleza Mansourah do Século XIII, uma cidade posteriormente abandonada onde avulta a ruína do minarete da mesquita:

 





 

 

 


A finalizar duas reflexões ainda.

A primeira é o profundo impacto que a colonização francesa tem ainda em França e na própria Argélia.

Os retornados da Argélia são conhecidos em França como os pieds noirs (pés negros). Existem várias teorias para a origem desta expressão, mas nenhuma se impõe. Curiosamente, e ao contrário do que eu pensava, não se trata de um termo pejorativo. Existem mesmo associações de antigos residentes da Argélia que autodefinem como pieds noirs.

A segunda é sobre a evolução geoestratégica na África subsariana. Em vários países da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África do Oeste) têm ocorrido golpes de Estado militares como uma consequência muito evidente: a substituição da presença de forças armadas dos antigos países colonizadores pela dos novos países colonizadores, em especial a Rússia.

A Argélia que ambiciona muito aceder ao Grupo dos BRICS, mantem uma política externa equívoca que lhe permita manter um equilíbrio entre a relação com a Europa e com aqueles países de África, nomeadamente o Níger.

Assunto a seguir com atenção.

Assim termino esta digressão pela realidade argelina. Espero que os leitores tenham encontrado motivos de interesse nestas crónicas.

 

                                        Fotografias de 23 de Outubro de 2023

                                                                            José Liberato


quinta-feira, 16 de maio de 2024

Argélia: tempo da fraternidade? (23).

 

 

 

Tlemcen fica a 60 quilómetros da fronteira com Marrocos e a mais de 500 de Argel.

Considerada a capital da arte andaluz da Argélia. Desempenhou um papel crucial na invasão islâmica da Península Ibérica. Tárique esteve por aqui, antes da invasão em 711. Foi a segunda cidade da dinastia Almorávida no Século XI. A dinastia Almóada construiu as muralhas da cidade no século seguinte.

No refluxo, na sequência da Reconquista, muitos dos foragidos da península concentraram-se em Tlemcen.

A vista do Promontório de Lalla Setiti é impressionante:

 


A praça emir Abdlekader e a Grande Mesquita Almoravida

 

 

No coração da cidade o mercado e as suas ruas. Um marabout ou marabuto (professor muçulmano e líder religioso) deixa-se fotografar com gosto:

 



 

As muralhas dos Almóadas:

 


E finalmente um contacto com a música e a poesia soufi ou sufista com o seu misticismo e esoterismo e os seus trajes tradicionais

 



 


                                        Fotografias de 22 de Outubro de 2023

                                                                              José  Liberato

 

No tempo em que se acreditava nas raças superiores e inferiores…







 


 

Quando o livro As Raças Humanas, de Louis Figuier, foi editado em Lisboa, em 1881, já tinha conhecido quatro edições em França. É obra profusamente ilustrada, com elevada qualidade gráfica, o tema das raças estava no auge, as doutrinas evolucionistas, o pensamento filosófico positivista, os ideais republicanos laicos tinham entrado em colisão, daí a pergunta o que é o homem, de onde vem, se tinha ou não o papel de centro único da criação, como se tinham processado ao longo da História as migrações dos povos, etc. Figuier concluirá que a ciência não pode explicar a diferença existente entre os principais tipos da espécie humana, dirá mesmo que os homens são todos irmãos pelo sangue, que as diferentes raças eram derivadas de uma espécie única pelas modificações que o clima imprimiu no tipo positivo, competia à antropologia classificar as raças e Figuier acha que tal classificação se baseia na cor da pele, é uma apreciação de um valor secundário mas com ele pode formar-se um quadro exato e metódico dos povos habitantes da Terra. E dá um sentido à sua análise com apreciações que são hoje completamente dadas como erróneas: as medidas antropométricas constituíam a chave esclarecedora para distinguir o que essencialmente diferencia a raça branca da raça amarela, a raça amarela da raça parda, a raça parda da raça vermelha e a raça vermelha da raça negra.

E vamos viajar a partir da raça branca, um tal ramo europeu onde destacam as famílias teutónica, latina, eslava (do Norte do Sul), fino-húngara, grega; passa-se para o ramo aramaico e o leitor permitir-me-á que avance para a raça negra. Escreve Figuier: “A raça negra distingue-se pelos seus cabelos pouco compridos e lanosos, pelo nariz achatado, pela maxila saliente, pelos lábios grossos, pelas pernas arqueadas, pela cor preta ou cinzenta carregada. Estes povos vivem nas regiões centrais e meridionais da África, nas partes meridionais da Ásia e da Oceânia.

Os habitantes da Guiné e do Congo são muito pretos, mas os Cafres são apenas cinzentos-escuros e parecem-se com os Abissínios. Os Hotentotes e os Bosquímanos são amarelados comos os chineses, posto que tenham as feições e a fisionomia dos negros.” Figuier enuncia os Cafres e os Hotentotes e assim chegamos aos negros:

“Os negros ocupam uma grande parte da África Central e Meridional, a Senegâmbia, a Guiné, uma parte do Sudão Ocidental, a Costa do Congo, assim como a extensa região que ainda há pouco quase completamente desconhecida entre a Costa do Congo a Oeste e a Este da Costa de Moçambique e do Zanzibar, são os lugares habitados pelos negros propriamente ditos.

A Guiné e o Congo são as terras clássicas dos negros. É ali que vivem os representantes desta raça com as feições mais características e repelentes. Julga-se que a invasão na África dos povos asiáticos e europeus, tendo-se sempre feitos pelo istmo do Suez e pelo Mar Vermelho, os negros foram empurrados para o Oeste do continente africano. Os habitantes da Guiné e do Congo serão, pois, os descendentes e os representantes contemporâneos dos negros primitivos.

(…) A fisionomia do negro é de tal modo característica que é impossível o não reconhecer à primeira vista, mesmo quando o indivíduo tivesse a pele branca. Os seus lábios proeminentes, a fronte curta, os dedos salientes, os cabelos lanosos, a pouca barba, o nariz largo e achatado, o queixo retraído, os olhos redondos dão-lhe um aspeto particular entre todas as demais raças humanas. Muitos têm as pernas arqueadas, quase todos pouca barriga de perna, os joelhos flexionados, o corpo inclinado e o andar preguiçoso. Podemos acrescentar que nesta raça o tronco tem menos largura que nas outras raças, que os braços são proporcionalmente um pouco mais compridos, que as pernas têm uma curvatura assaz sensível e que a barriga das pernas é um pouco achatada. A cavidade óssea da bacia é muito mais estreita no negro do que no europeu, mas é mais larga no sentido do osso sacro, o que torna para as negras fáceis os partos. Segundo medidas exatas, a bacia superior é 1/4 mais larga no europeu do que no negro. Também as coxas dos negros diferem das dos brancos: no primeiro são sensivelmente achatadas. O pé participa desta fieldade das formas. O vício de conformação que entre nós isenta do serviço militar, o pé chato, não só para o negro não é uma deformação, mas é também um caráter constante.

(…) A cor da pele tira à fisionomia do negro toda a beleza. O que dá graça à cara do europeu é cada parte do rosto ter o seu colorido próprio. As maçãs do rosto, o nariz, a fronte, o queixo, têm, no branco, tons particulares. Na fisionomia do negro tudo é negro. As sobrancelhas, negras como o rosto, perdem-se na cor geral. Apenas há um tom diferente na linha de contacto dos lábios. A pele dos negros é muito porosa e tanto que os poros se apresentam de modo visível. Nem todos os negros têm a pele dura, pelo contrário, pelo contrário, alguns têm-na macia e acetinada. O que há de desagradável na pele do negro é o cheiro nauseabundo que exala suando. Estas emanações são tão difíceis de suportar como as que são exaladas de certos animais.

A natureza apropria o negro às regiões em que vive. Em geral, o seu temperamento é linfático. O seu andar vagaroso, a sua preguiça invencível, impacientam o europeu, que não pode compreender tanta indolência. Os negros são menos sensíveis que os europeus à influência de excitantes. A aguardente, a mais forte, o rum, a pimenta, os mais irritantes condimentos francamente excitam a inércia do seu palato.”

Chegámos agora à contundente questão da inteligência e da inferioridade racial. Socorrendo-se de argumentos antropomórficos hoje dados como anacrónicos, Figuier refere o ângulo facial, a fronte muito inclinada para trás, as maxilas muito proeminentes e classifica: “Aproximava-se do macaco, cujo ângulo facial, nos macacos antropomorfos, tais como o orangotango e o gorila, é de 50º. Esta fraqueza relativa de inteligência que nos é revelada pela pequenez do ângulo facial dos negros vai ser confirmada por nós, examinando-lhe o cérebro. (…) A inferioridade intelectual do negro é evidente na sua fisionomia sem expressão nem mobilidade. O negro é uma criança e como uma criança é impressionável, inquieto, sensível ao bom tratamento suscetível de dedicações, mas, em certos casos, sabendo também odiar e vingar-se. Os povos da raça negra que existem no interior de África, os estados de liberdade mostram-nos pelos seus hábitos e pelo estado do seu espírito que não podem passar de além da vida de tribo. Além disso, em muitas colónias custa tanto tirar bom resultado da educação dos negros, a tutela dos europeus é-lhe de tal modo indispensável para lhe manter os benefícios da civilização, que a inferioridade da sua inteligência, comparada com a do resto da humanidade, é um facto incontestável.”

Instituiu-se assim a inferioridade do negro, a plena dependência do civilizado, a fatalidade da sua anatomia, a sua indolência masculina pondo a mulher a trabalhar como escrava, as suas crendices em divindade secundárias, a crença no poder do acaso. E, de repente, Figuier descobre que os negros possuem muitas vezes uma extraordinária memória, uma extrema facilidade para aprender as línguas, o seu enorme talento nas imitações. Os negros, enfatiza Figuier, são rebeldes às artes plásticas, mas são muito sensíveis à música e à poesia. E conclui dizendo que a família negra tem menos inteligência que qualquer outra família humana e que é preciso dar muito tempo aos negros libertos para viverem numa igualdade com outras raças.

Era esta a doutrina que alimentava o pensamento colonialista e que efetivamente só se começou a desmoronar no fim da Segunda Guerra Mundial. O racismo mudou de figura, está associado a uma religião eleita, a certos fundamentalismos monoteístas, à emergência do nacionalismo de base racial e ao terror das migrações que assolam a Europa e a América do Norte; mas não sejamos ingénuos, os chineses não querem contaminações com outros grupos populacionais… O racismo diminuiu, tem uma face muito obscura, mas está muito longe de se ter extinguido.

 

                                                                    Mário Beja Santos

 


segunda-feira, 13 de maio de 2024

Carta de Bruxelas - 13.

 


 

 

                                                                              Chapéus há muitos

 


Já eram bastantes. Havia o idiota desinformado, que aprecia lenços, cerveja, convívio e um protestozinho contra qualquer coisa que imagina vagamente ser o sistema. Julga-se de esquerda. Havia o engagé, que milita e milita e continuará a militar. Por isso já foi militante, hoje é activista. Sempre de esquerda, sempre de boa consciência moral, sempre atrás do progresso. E lá vai ele pela arreata da História. Na versão sonsa, emite uns sim, mas; por um lado, por outro lado; compreende as duas partes, mas dá razão sempre à mesma. Uma espécie de quod erat demonstrandum, envergonhadito -- na melhor das hipóteses. Havia o repugnante, costuma ser comunista, que toma partido assolapadamente, justifica todas as violências contra Israel e os israelitas com grande fausto de palavras e indignação -- depois janta bem e ceia melhor. Para compor o ramalhete anti-semita, faltava o maluquinho, de obediência neo-fascistóide. Agora já não falta.

 

                                                                        João Tiago Proença





Argélia: o tempo da fraternidade? (22).

 

 

 

A cidade antiga de Oran mostra-nos como a História deixou as suas marcas.

Ruas estreitas, velhos monumentos, um certo charme de decadência. E os gatos, como em todas as cidades argelinas…

 



A Porte du Santon, construida pelos espanhóis em 1754, a fim de controlar a entrada do porto:


A Catedral de São Luís de França, que já foi mesquita:

 



 

A mesquita Iman el-Houari foi mandada construir pelos otomanos. Na paisagem, impõe-se o seu minarete:

 

 

O velho Hospital Baudens. No romance A Peste de Albert Camus, o seu principal personagem, o médico Dr. Rieux, trabalhava aqui:

 


 

Um antigo cinema e um marco de correio:

 




                                            Fotografias de 22 de Outubro de 2023

                                                                             José Liberato

terça-feira, 7 de maio de 2024

São Cristóvão pela Europa (263).


 

 

Ao terminar a minha digressão de Março pela Alemanha passei por “pontos extremos” dos Estados da Baviera e de Hessen nas cercanias de Frankfurt.

Na Baviera, em Amorsbrunn existe uma capela construída junto a uma fonte cujas águas são consideradas miraculosas. Para a gota, para o s olhos, para a dor de dentes, mas sobretudo para a infertilidade.

A imperatriz Maria Teresa da Áustria não terá bebido a água, mas tendo feito um generoso donativo foi mãe de 16 filhos…

O culto existe neste local desde o Século VIII. Aqui se fizeram peregrinações, chamadas as feiras imperiais, até à extinção da monarquia em 1918.

No exterior um grande mural representando São Cristóvão pintado em 1535.

 


  

Belíssimo o altar gótico representando a Árvore de Jessé.

 


Finalmente em Gravenbruch (Estado de Hessen), a Igreja de São Cristóvão da autoria do arquitecto checo Helmut Bilek é considerada um exemplo da arquitectura alemã do pós-guerra.

Foi consagrada em 1967.

Na fachada, um mosaico de 1978 da autoria do padre católico polaco Claus Kilian (1928-2022). No interior uma estátua de madeira.

O logotipo da comunidade tem naturalmente a imagem do nosso Santo.

 




 

                                    Fotografias de 31 de Março de 2024

                                                                        José Liberato