A queda de Cecil Rhodes, o homem por
trás do Ultimato Britânico
“A duffer funk wiles
Portuguesy—tuguesy.”
Cecil
Rhodes não é um nome que a maioria das pessoas consiga identificar como
relevante para a história recente. O facto de ter dado nome a uma região, a
Rodésia (Rhodesia), que
compreende os actuais Zâmbia e Zimbabué, talvez elucide sobre a sua relevância
na história de África e sobre as razões pelas quais as suas estátuas, em
Inglaterra e não só, incomodam tanto.
"The Rhodes Colossus" –
cartoon de Edward Linley Sambourne, publicado na revista Punch em 1892.
A
campanha de reescrita da história através da tentativa de apagar da memória
colectiva aquilo que, aos olhos de hoje, se tornou inaceitável, é um encore contemporâneo e globalizado de
uma tradição própria das mudanças de regime.
Não
precisamos de ir longe: Pombal também foi proscrito das laudes públicas depois
da sua queda e, para salvar a carreira, o pobre
Duque de Saldanha quase teve de negar ser neto do velho Marquês. Salazar e tudo
quanto lembrava Estado Novo sofreu igual tentativa de obliteração logo depois
do 25 de Abril – antes de passar a ser o seguro de vida de alguns partidos que
o evocam como se o Estado se mantivesse Novo.
Nesses
momentos de mudança política, reluz esta busca de redenção que se confunde
perigosamente com uma sanha incontrolável de desforra, de ajuste de contas –
uma irreprimível necessidade de levar à prática o “olho por olho, dente por
dente” do Antigo Testamento. E como, na maioria dos casos, já não se podem
vingar nos olhos e nos dentes, vingam-se nas estátuas, nas pinturas, nas
evocações toponímicas e em tudo aquilo que vagamente se lhes recorde o regime
deposto.
Com
o pretexto da luta contra o racismo, surge agora uma campanha que pretende
erradicar as homenagens a todos aqueles que não foram perfeitos, pelo menos aos
“imaculados” olhos de hoje – mas que no seu tempo, por algum motivo, mereceram
o reconhecimento da sociedade.
Ponto
prévio: negar que hoje há racismo é tão ridículo como querer fazer esquecer que
foi muito pior no passado, que a escravidão foi aceite por demasiado tempo, que
houve segregação – e que naturalmente houve pessoas que, no tempo em que
viveram e que não é o nosso, viveram com essas realidades, as aceitaram e até
activamente as promoveram.
A
evolução das consciências tem permitido corrigir muitos erros em todas as
sociedades, ao longo de muitos séculos. Outros erros poderemos estar hoje a
cometer que venham a ser considerados também atrocidades aos olhos dos que cá
estiverem no futuro. Não saberemos agora, talvez só o venham a saber os
vindouros.
Sem
pretensões inquisitórias devemos ter a capacidade de, em relação a cada
assunto, separar hagiografia (ou exaltação) de historiografia – e reconhecer
que, na maioria dos casos, o mal e o bem convivem no conjunto de acções
promovidas por determinada pessoa – mas que em qualquer circunstância essas
acções devem ser aferidas no contexto em que foram tomadas.
Mesmo
nos casos em que o mal prevaleça de forma inexorável, não devemos querer
erradicar a memória da sua existência, para que não regresse como fruto do esquecimento.
Como
bom exemplo de recordação de uma má memória, o centro de uma das magníficas
tapeçarias Gobelins (desenhadas por Bjørn Nørgaard e concluídas no ano
2000) no Palácio de Christiansborg, em Copenhaga, é ocupado pela figura de
Hitler, pequena
em relação a todos as demais, a preto e branco ao lado de uma suástica
anulada com um “X” – a tapeçaria retrata o século XX, de que o facínora foi uma
figura tragicamente incontornável.
Muitos
furos abaixo da malvadez inquestionável de Hitler está esta figura muito menos
célebre que dá título a esta prosa e que, nas últimas semanas, voltou a ser
recordada: Cecil Rhodes.
Cecil Rhodes (desenho de Mortimer
Menpes)
Rhodes
foi instrumental no estabelecimento firme da soberania britânica no sul do
continente africano. Homem do negócio dos diamantes, fundador da De Beers, veio a ser Primeiro-Ministro da
Colónia do Cabo – depois União Sul-Africana e, hoje, África do Sul – entre 1890
e 1896.
Distinguiu-se,
sobretudo, pelo ardor das suas convicções imperialistas e pela forma
beligerante como as atingiu. Foi substituído por Londres como Primeiro-Ministro
precisamente ao tentar gerar artificialmente uma revolta na República do
Transvaal. Ainda que formalmente apartado do poder, viu eclodir logo depois a
Segunda Guerra dos Bóeres que levou à anexação dos territórios de influência
holandesa e cumprindo assim o objectivo que motivara a sua demissão.
A
British South Africa Company,
liderada por Rhodes, começou a ocupar a área circundante do rio Zambeze no
final da década de 1880, através de tratados com os chefes locais. A designação
Rhodesia, em honra do fundador, foi
adoptada primeiro informalmente e a partir de 1895 passou a ser a designação
formal de duas regiões.
A
norte, a zona economicamente menos interessante destinada sobretudo a ampliar a
área de influência britânica para o centro do continente, foi designada de Rodésia
do Norte e veio, em 1964, a tornar-se a Zâmbia. A sul do Zambeze, a zona mais
rica, a Rodésia do Sul, veio a ser o Zimbabué a partir da independência em 1979.
A
ocupação ocorreu através de forças paramilitares que se impuseram a muitas
tribos nativas pela força. Mas não só. É ali que a história de Rhodes se cruza com
a história imperial portuguesa. Na verdade cruza-se com todas as histórias
imperiais do final do século XIX, em que a rivalidade na apropriação de África
foi total.
Rhodes
foi o grande impulsionador da estratégia de ligar o Cabo ao Cairo por uma área
de influência britânica. O ardor que colocou nesta estratégia fê-lo ser
profundamente ridicularizado no seu tempo, em especial com um cartoon trocista que se tornou célebre e
que ia acompanhado de versos satíricos que jocosamente o evocavam como
substituindo a
antiga maravilha, em pose idêntica: o Colosso
de Rhodes foi publicado na revista PUNCH, Vol. 103, em Dezembro de 1892. Rezava assim:
THE
World's Seven Wonders are surely outshone!
On Marvel World's billows 'twill toss
us—'twill toss us,
To
watch him, Director and Statesman in one,
This Seven-League-Booted Colossus—Colossus!
Combining
in one supernatural blend
Plain Commerce and Imagination—gination;
O'er
Africa striding from dark end to end,
To forward black emancipation—cipation.
Brobdingnagian
Bagman, big Dreamer of Dreams.
A
Titan of tact and shrewd trader—shrewd trader!
A
diplomat full of finesse and sharp schemes,
With
a touch of the pious Crusader—Crusader!
A
"Dealer" with despots, a "Squarer" of Kings,
A
jumper of mountain, lake, wilderness, wady,
And
manager 'cute of such troublesome things
As
Lobengula or the Mahdi—the Mahdi.
Well
may Abercorn wonder and Fife tootle praise,
His
two thousand hearers raise cheering—raise cheering.
Of
wild would-be Scuttlers he proves the mad craze,
And
of Governments prone to small-beering—small-beering.
Sullen
Boers may prove bores to a man of less tact,
A duffer funk wiles Portuguesy—tuguesy;
But
Dutchmen, black potentates, all sorts, in fact,
To
Rhodes the astute come quite easy—quite easy.
The
British South-African Company's shares
May
be at a discount—(Trade-martyrs!—trade-martyrs!)—
But
he, our Colossus, strides on, he declares,
Whether
with or without chums or charters—or charters.
Hooray!
We brave Britons are right now to the front—
Provided
we've someone to boss us—to boss us;
And
Scuttlers will have their work cut out to shunt
This
stalwart, far-striding Colossus—Colossus!
Pelo
menos um dos versos (“A duffer funk wiles
Portuguesy—tuguesy;”) diz claramente respeito a Portugal, numa tradução que
dará algo como: “O trapaceiro medroso
enganou os Portugueses”. Como está bem de ver, remete para a questão que
ficou conhecida como a do Mapa Cor-de-Rosa.
O Mapa Cor-de-Rosa, na sua versão
original.
Convenhamos
que a pretensão portuguesa de reclamar a ocupação de uma tão grande faixa
longitudinal entre as costas de Angola e de Moçambique era juridicamente
insustentável – o domínio efectivo luso não passara muito da costa, sem
prejuízo de campanhas ocasionais para o interior. Mas o mesmo era verdade para
qualquer outra potência europeia em relação aos seus domínios africanos e para
os britânicos em relação àqueles territórios.
Mais
do que a questão do embate com a pretensão de ligar o Cabo ao Cairo, o Mapa Cor-de-Rosa
apresentado por Portugal em 1885 colidia com os interesses económicos de Rhodes,
que tinha identificado o sul do Zambeze como uma zona interessante para os seus
negócios. Rhodes urdiu com o apoio de Londres a forma de impedir que os
tratados que Portugal assinara com a Alemanha e com a França resultassem no
reconhecimento da soberania sobre a faixa longitudinal que unia Angola e
Moçambique. A criação da British South
Africa Company em 1889 foi parte desse plano e os métodos agressivos de
ocupação acabariam por ser bem sucedidos.
Os
territórios que Portugal pretendia incorporar no seu Império eram justamente os
da futura Rodésia e do Nyasaland (hoje Malawi). A ofensiva diplomática
portuguesa para conseguir o reconhecimento correu a par de uma ofensiva de
fixação territorial, através de campanhas científicas
de reconhecimento e de acordos com os chefes locais. Embora mais tardia, as
ofensivas britânicas correspondentes vieram a gerar a situação de confronto que
motivaria, em concreto, o célebre Ultimato.
Em
Janeiro de 1890, o Primeiro-Ministro britânico, o 3.º Marquês de Salisbury, entregou
o memorando que exigia a retirada das tropas portuguesas que Alexandre de Serpa
Pinto fizera avançar para zonas alegadamente sob influência britânica. O Ultimato
fez de imediato cair o Governo de José Luciano de Castro.
O
Rei D. Luís morrera em Outubro de 1889 aos 50 anos. Jovem de 26 anos no trono
há apenas 3 meses, o Rei D. Carlos ficou com o problema nas mãos e foi incapaz
de se desembaraçar dele, apesar das diligências dos governos que nomeou. Para o
resto da sua vida e do seu reinado, mas sobretudo para a história que é
ensinada numa simplificação patusca, o Ultimato aparece como um falhanço e
humilhação nacional associado à Monarquia quando na realidade se tratou da
aplicação da lei do mais forte, que não conhece regimes, nem formas de Estado.
Contra
o Rei e “contra os bretões” se
escreveram canções, se desenharam cartoons
e se fizeram tentativas de revolução logo no ano seguinte. O episódio do
Ultimato foi de tal forma marcante para o espírito republicano que o cântico de
revolta do movimento passou a ser A
Portuguesa (letra de Henrique Lopes de Mendonça, 1890, música de Alfredo
Keil, 1891), que veio a ser adoptada pelos revoltosos de 1910 como hino nacional.
Se,
como ilustra a letra d’A Portuguesa,
a vontade nacional era a de acorrer “Às armas, às armas!” contra “os bretões”, a verdade é que as Finanças
da pátria não permitiam tais aventuras. De resto, como diferentes episódios nos
mostram ao longo da história mais recente, a lei do mais forte (ou do mais
rico) continuou e continua a aplicar-se, mesmo no seio da União Europeia,
independentemente dos reis, dos presidentes e dos chefes de governo – que ainda
hoje se vergam perante o poder estrangeiro.
Cecil
Rhodes, o homem por trás do Ultimato, impôs a sua vontade ao Rei português,
porventura uma das razões por que no poema satírico transcrito é descrito como “Squarer of Kings”. De resto, em 1895,
num discurso aos accionistas da British
South Africa Company, Rhodes tem uma referência curiosa aos Portugueses:
“The
difficulties with the Portuguese are also over. We had different views as to
where our boundaries were situated ; but now I may say that our relations with
them are on the most friendly footing, and we must always remember, with
reference to the Portuguese, that they were the original civilisers of Africa.
They had the bad luck, if I may say so, to get only the coast, to be on the fringe,
and never to have penetrated to the high healthy plateau at the back. Their power
is not what it was; but we must respect them, and we must remember that the man
who founded the Portuguese Colonial Empire – that is, Henry the Navigator - was
of our own blood.”
O
reconhecimento de os Portugueses serem os “civilizadores originais” de África
(referência que aos referidos movimentos de libertação póstuma causará espasmos)
vem acrescido da “má sorte”, num tom algo sarcástico. Mas a reivindicação mais
curiosa é a do Infante D. Henrique como inglês (filho de D. Filipa de
Lencastre, por suas vez neta do Rei Eduardo III e irmã do Rei Henrique IV de
Inglaterra).
Londres
não ficou satisfeita com o facto de a Rodésia não lhe estar submetida e antes
depender de uma empresa que, apesar de ter administradores na metrópole, era efectivamente controlada
por Rhodes, já Primeiro-Ministro da Colónia do Cabo. A quase todos os níveis a
Rodésia era tratada como um território particular e não como uma colónia.
Ambicioso,
polémico, arrojado, Cecil Rhodes foi um dos nomes mais marcantes do tardo-imperialismo
britânico, porventura um dos últimos a contribuir para o crescimento do
Império. Não por acaso, quando em 1947 o Rei Jorge VI, acompanhado pela mulher
e pelas filhas (a actual Rainha Isabel II e a Princesa Margarida), viajou
durante várias semanas para a África do Sul, a Rodésia e o Nyasaland para
agradecer o esforço de guerra e tentar evitar o desmoronamento do Império, uma
das paragens foi precisamente o túmulo de Rhodes.
Não
casou, nem teve filhos e viveu depressa. Morreu aos 48 anos, escolhendo fazê-lo
como um filantropo. Deixou a sua enorme fortuna ao futuro da Academia, a mesma
que agora – certamente sem renegar o dinheiro, lhe quer retirar a estátua no Oriel
College. Rhodes deixou muito dinheiro para ser investido na renovação do Oriel
College, razão pela qual terá sido homenageado em pedra. Mas sobretudo, a
Bolsa que Rhodes fundou com o seu testamento tem permitido, desde 1902, que
anualmente uma centena de alunos de todo o mundo – pelo seu mérito e sem outra
distinção – estude em Oxford, onde ele próprio cursou os seus estudos.
Numa
versão inicial do seu testamento, Rhodes tinha exibido de forma mais exuberante
o seu militantismo imperialista, indo ao ponto de defender a criação de uma
sociedade secreta inspirada na Companhia de Jesus, destinada a promover o
Império Britânico e a cultura anglo-saxónica. A evolução levou-o às bolsas de
estudo, cujas premissas tinham como objectivo a perpetuação do Império e da
supremacia britânica ou anglo-saxónica – e aos olhos de hoje são uma afronta à
soberania africana.
Mas,
pelos padrões da época, Rhodes dificilmente poderia ser considerado um opressor
racial. O mesmo
testamento, em relação às bolsas refere: “No
student shall be qualified or disqualified for election to a Scholarship on
account of his race or religious opinions.” Certamente não
haveria muitas pessoas a defender isto em 1902, quanto mais a escrevê-lo.
Parece,
aliás, que o próprio Rhodes foi percebendo que a evolução correcta era nesse
sentido. De facto, escreveu
que o seu mote era “Equal rights for
every civilised man south of the Zambezi. What is a civilised man? A man,
whether white or black, who has sufficient education to write his name, has
some property or works, in fact is not a loafer.” Mas o relevante é que o
mote original era apenas “Equal rights
for every white man south of the Zambezi.” Ou seja, Rhodes
percebeu o erro e alterou, se não a forma de pensar, pelo menos aquilo que
deixou para a posteridade.
Deixou,
além disso, terras e dinheiro para que os seus testamenteiros criassem as
instituições que considerassem adequadas “para a instrução do povo da Rodésia”.
A
sua magnífica propriedade na Cidade do Cabo, Groote Schuur, deixou-a para ser a residência oficial do
Primeiro-Ministro e assim foi até 1984, quando passou a residência presidencial.
Foi aliás nesse local que o recém-libertado Nelson Mandela e o Presidente F. De
Klerk assinaram em 1990 um acordo para pôr fim à violência e intimidação na
África do Sul. Mandela e o Fundo Rhodes instituíram, em 2003, The Mandela Rhodes Foundation, com o
objectivo de atribuir bolsas de estudos pós-graduados a licenciados na África
do Sul, num espírito de concórdia e conciliação que entretanto parece ter
evaporado.
A
morte, em 1902, não foi uma surpresa e Rhodes teve tempo de escrever várias
versões do seu testamento. A versão final,
que foi publicada em livro juntamente com uma antologia do pensamento do
estadista logo após a sua morte, começa pela escolha do túmulo – um local
sagrado para as diferentes tribos que dominaram aquele território e a que Cecil
Rhodes chamara “World's View” numa visita.
Embora
houvesse, à época, a consciência de que eram mais os que não gostavam dele do
os que gostavam, tal não impediu que milhares de pessoas lhe prestassem
homenagem na longa
e derradeira viagem até à sua Rodésia. Três câmaras-ardentes, milhares de
quilómetros de comboio, centenas de paragens para ser homenageado. E no
derradeiro momento, a homenagem – única, segundo as descrições da época – dos
chefes tribais com que lidara ao longo da sua vida, que o saudaram como um dos
seus.
O
túmulo continua a ser um local visitado por milhares de pessoas. As campanhas
para repatriar o corpo de Cecil Rhodes para Inglaterra têm sido frustradas –
afinal, muita gente no Zimbabué vê-o como parte essencial da história do país,
que teria sido outra sem a acção determinante de Rhodes para cortar a velha
ambição lusa.
Cento
e vinte anos depois, o mundo é muito diferente. Como 120 anos antes certamente
teria também sido muito diferente. De pouco valerá invocar que uma das
justificações dadas pelas potências europeias para a vaga imperialista do
século XIX foi a de terminar com o tráfico de escravos, que a Europa já considerava
inaceitável.
Se
em vez de se preocuparem os problemas da África de 1890, os activistas se
preocupassem com os problemas da África de 2020 – incluindo não apenas as
privações económicas mas as perseguições políticas e religiosas que se continuam
a viver – porventura a utilidade das suas causas seria mais universalmente
reconhecida.
Não
sabemos, ainda, se a estátua de Rhodes vai deixar a fachada do Oriel College. O
#rhodesmustfall parece avançar imparável
nesse sentido, o da reescrita da história pelos que não a viveram, pelos que
não estiveram lá – e ignorando a opinião dos que, estando lá, julgaram que a
estátua devia existir, mesmo para um homem que era então já controverso.
“Seja o eco de uma afronta, o sinal
do ressurgir”, escreveu Lopes de Mendonça na terceira
estrofe do hino. Se Rhodes cair, estando nós por cá tão afrontados pela
quarentena turística britânica e necessitados de desforra, talvez seja de tomar
a sua queda como revanche nacional.
Aos republicanos mais encarniçados talvez ocorra até voltar a reclamar a
soberania lusa sobre a ex-Rodésia. O Rei D. Carlos, pelo menos, estará vingado.
Ademar
Vala Marques
Julho
de 2020