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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Portugal Diplomático.





Um grupo fantástico de antigos alunos – o Bruno Oliveira, a Margarida Melo e o grande Dario Vargas – lançou no ano passado uma revista não menos fantástica, o Portugal Diplomático. Gratuita e online, actualidade da diplomacia e das relações internacionais. Já vai na 15ª edição, e agradece – e merece – a sua visita.

 

                                                                                    António Araújo 



quarta-feira, 21 de maio de 2025

Canal de Corinto, uma obra de loucos.


 

 



 

O canal foi pensado na Grécia antiga, no século VII a.C., por Periandro que, perante a enormidade da tarefa, buscou outra solução para o problema - em vez de os navios terem de navegar uns 700 quilómetros para dar a volta à península de Peloponeso, e a construção de um canal no istmo ser uma impossibilidade, dados os meios técnicos da época, o governante de Corinto implementou o Diolkos, uma espécie de calçada, com cerca de 6 km, para transporte sobre carretas, puxadas quer por escravos, quer por animais, de navios de pequeno porte e de mercadorias desde o golfo Sarónico, a leste, até ao golfo de Corinto, a oeste; a viagem durava entre 3 e oito horas e o serviço era pago - a palavra Diolkos, em grego antigo, é composta por διά (através) e ὁλκός (portagem). O Diolkos foi usado desde o ano 600 a.C. a metade do século I da nossa era, não havendo quaisquer referências escritas sobre esse sistema de transporte a partir de então, talvez porque em 67 AD o imperador romano Nero ordenara o início dos trabalhos de abertura de um canal, usando os prisioneiros judeus capturados na 1.ª guerra romana-judaica; após a morte de Nero, a construção parou, não voltando a ser retomada senão no século XIX, apesar de haver quem mostrasse interesse no projecto, por exemplo o ateniense e senador romano Herodes Atticus (101-177) e os venezianos após terem conquistado o Peloponeso no século XVII. Em 1881, na onda de entusiasmo resultante da abertura do canal do Suez, no Egipto, em 1869, o governo grego emitiu uma lei autorizando a construção de um canal no istmo de Corinto - a primeira empresa a tentar o empreendimento entrou em falência e foi outra companhia, francesa como a primeira, a ganhar a concessão para construir o canal e explorá-lo durante 99 anos; em 23 de Abril de 1882,  foi iniciada a obra com a presença do rei da Grécia. Ao fim de oito anos, a companhia faliu, assim como o banco que tentou angariar fundos adicionais para o projecto, que foi transferido para uma empresa grega e foi concluído a 25 de Julho de 1893, após onze anos de trabalho. Após a sua conclusão, funcionamento do canal enfrentou dificuldades operacionais e financeiras: a navegação é difícil devido à sua pouca largura, as suas altas paredes que afunilam o vento, e a diferença horária das marés nos dois golfos provocam fortes correntes no canal - por esses motivos, os armadores não estavam dispostos a arriscar os seus navios e a utilização do canal ficou muito abaixo do previsto; a perturbação causada pela Primeira Guerra Mundial também não ajudou. Por outro lado, o canal foi aberto através de rocha sedimentária com muitas falhas, numa zona sísmica activa, pelo que os deslizamentos de terra são constantes e os escombros têm de ser dragados; a a esteira dos navios que passam pelo canal escava as paredes, provocando novos deslizamentos de terras, o que obrigou à construção de muros de contenção ao longo da borda de água em mais de metade do comprimento do canal. Na Segunda Guerra Mundial, o canal foi obstruído pelas tropas alemãs em retirada, que destruíram as pontes e despejou locomotivas, destroços de pontes e outras infraestruturas, e provocaram deslizamentos de terras para dificultar as reparações, e só em Setembro de 1948 foi reaberto ao tráfego marítimo, depois de mais de 9 meses de trabalhos do Corpo de Engenheiros do exército norte-americano. Com o crescimento do tamanho dos modernos navios de carga e de passageiros, o canal é sobretudo utilizado por barcos recreativos mais pequenos e o ocasional navio de cruzeiro.


O canal de Corinto tem 6.343 m de comprimento, 8 m de profundidade e 24,5 m de largura à superfície e 21,3 m no fundo; as paredes têm uma altura máxima de 90 m e uma inclinação de 80º. Os navios navegam em sistema de comboio em cada direção e os maiores são puxados por rebocadores.

                                             

                                                                                        Esteves Oliveira






terça-feira, 29 de abril de 2025

Usbequistão, encruzilhada de civilizações (25).

 

 

 

 

Concluo hoje esta série de crónicas suscitadas pela minha visita ao Usbequistão, país pouco conhecido, mas cheio de interesse e desafios.

Um aspecto que achei curioso e que é transversal às várias cidades aqui mencionadas, é encontrar em cada local fluxos de turistas de outros países da Ásia Central. O que proporciona sempre fotos interessantes que deixei para o final.


 

 

 

 

A terminar, deixo algumas reflexões sobre a economia do país e a geopolítica da Região.

A economia usbeque baseou-se durante muitos anos na produção intensiva de algodão. No período soviético, os órgãos de planeamento económico fixaram metas extremamente exigentes para a produção que levaram a consequências ambientais dramáticas. O caso mais conhecido é o do Mar de Aral que está hoje reduzido a cerca de 10% da área que tinha cinquenta anos antes.

Além das disfunções ambientais por si provocadas, a cultura do algodão desenvolveu-se, até recentemente, com apoio desmedido de trabalho escravo e infantil.

Hoje há um esforço para diversificar a economia através do ouro e dos produtos petrolíferos. Também através de privatização.

O Produto Interno Bruto per capita não atinge ainda 3000 dólares.

Mas a cultura do algodão continua bem presente:

 

 

  

Durante o Século XIX, a Rússia conquistou toda a Ásia Central, instituindo um regime de tipo colonial, assenhoreando-se de extensas áreas agrícolas, estimulando a cultura do algodão e interligando os territórios através de uma rede de caminhos de ferro.

A revolução bolchevique não renegou em nada este sistema. Antes o actualizou através da política soviética das nacionalidades e da instituição das repúblicas socialistas soviéticas, processo conduzido por Estaline.

O embaixador francês Pierre Andrieu, antigo embaixador da França em Moscovo, analisa estas realidades num artigo muito interessante publicado pela Fundação Robert Schuman, intitulado Um actor ainda demasiado desconhecido na Europa: a Ásia Central, analisa com profundidade esta realidade.

Refere que a Federação Russa mantém uma forte influência na Região, nomeadamente através do facto de a língua russa se manter como língua franca na Região.

Não obstante as organizações de segurança colectiva terem perdido relevância desde a invasão da Ucrânia, Putin quer manter a sua influência na Região. Andrieu faz uma estatística dos contactos telefónicos entre o Presidente da Rússia e os presidentes dos países da Ásia Central no ano e meio que se seguiu à invasão d Ucrânia. Falou 16 vezes com o Presidente do Usbequistão, 10 com o Presidente do Cazaquistão, 6 com o Presidente do Tadjiquistão e 5 co0m o Presidente da Quirguízia e o Presidente do Turquemenistão. Revela a relevância do Usbequistão.

Estes países têm conseguido manter um equilíbrio no filho da navalha sem condenar nem a Rússia nem a Ucrânia. Até quando?

Temur Umarov, do Carnegie Russia Eurasia Center, escreve em 2024 que os países da Ásia Central procuram um equilíbrio entre a Rússia, a China e o Ocidente, conciliando uma cooperação com a NATO com uma presença nos desfiles do 9 de Maio em Moscovo e a permissão de bases nas fronteiras da Polícia Popular Chinesa.

O Usbequistão ousou não aderir à Comunidade Económica Euro-asiática mantendo-se apenas como associado não obstante as fortes pressões russas.

O Embaixador Andrieu conclui, talvez de forma optimista, que a Ásia Central se transformou num actor autónomo e activo na cena internacional. Conscientes da sua localização complexa, reencontrando progressivamente o seu passado glorioso, os cinco países tentam libertar-se com cuidado da dupla pressão de Moscovo e Pequim e aplicar uma diplomacia que atraia outras potências. Com um certo sucesso até agora.

Uma coisa é certa: a Região deixou de ser uma terra incognita.

Obrigado pelo vosso interesse por estas 25 crónicas.

 

 

                                         Fotografias de 3 de Outubro de 2024

                                                                               José Liberato