“Lembra-se um de falar no leilão do diplomata Zéa
Bermudez, o qual reunia às qualidades do mais excelente homem uma pequena
colecção de arte com quatro potes
etruscos.
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Ao ouvir falar pela primeira vez durante toda a sua
longa carreira parlamentar em quatro potes etruscos, mas recaindo imediatamente
em si com maravilhosa presença de espírito, Câmara e Governo menearam as
cabeças familiarmente, como se cada um dos legisladores não tivesse feito desde
muito pequeno outra coisa senão jogar a púcara com potes desses.
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Houve um assentimento geral na assembleia, e os
gestos e as vozes exprimiram com unanimidade:
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-
Oh! Sim !...
os potes etruscos... conhecemos perfeitissimamente !
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-
O país, Sr.
Presidente, não pode consentir que preciosidades de tão inestimável valor
artístico saiam do Reino para ir enriquecer os museus estrangeiros.
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-
Apoiado !
apoiado ! – opinou o Sr. Presidente do Conselho, convicto, e subitamente
iluminado pela providência como um vidente da Etrúria em potes.
..
E a Câmara em peso, por todos os votos menos um, votou
um crédito suplementar de 5 contos de réis. Para quê, senhor? Para proteger a
arte nacional, que nem escolas tem, nem mestres, nem discípulos, nem modelos,
nem livros, nem coisa nenhuma, alem do Sr. Conde de Almedina, e a qual a
Câmara, ao cabo de vinte anos de esquecimento ou de desdém, se lembra de
patrocinar afinal com 5 contos extraordinários ! Cinco contos por quatro cacos feiíssimos,
meu rico Senhor!...”
(Ramalho Ortigão, As
Farpas, 1883)
Exemplar.
ResponderEliminarSe acaso aconteceu, os potes ainda estão para aí, por outro lado se tivessem gastos os 5 contos noutra coisa qualquer por insignificante nada teria ficado.
É o que vai acontecer caso os Mirós sejam vendidos.
O Estado gastará num minuto os milhões como sempre o soube fazer.
E a história dos vasos gregos que estão em exposição na reitoria da UP? Também é exemplaríssima, pois, como os mirós, também os vasos entraram na posse do estado 'derivado a' um roubo colossal e desavergonhado.
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