Altura do ano fértil em balanços e contabilidades. Jornais,
rádios, revistas, por todo o mundo se elege o pior e o melhor do que passou no
ano transacto. Fazem-se previsões, muitas antevisões, quase todas frustradas
pelos acasos da vida e as loucuras dos homens. Listam-se os que morreram,
escolhem-se os filmes, os livros, as fotografias mais marcantes.
Na
Time, e muito bem, elegeu-se esta como uma das fotografias de 2018.
Um rinoceronte-branco em agonia, confortado pela compaixão do seu jovem
cuidador. Um macho enorme de 45 anos, de nome Sudan, a quem para obviar o sofrimento atroz
tiveram de matar por piedade ou, como agora se diz, «eutanasiar». Sudan distinguia-se
por uma razão singela e trágica: era o último rinoceronte-branco do Norte do
planeta, o derradeiro macho. Depois dele, não
há mais nenhum. Agora que lê estas linhas não há mais nenhum. Nem um só. Acabou, desapareceu para
todo o sempre. Desde Março de 2018 deixaram de existir machos desta espécie. E
fêmeas restam duas, como pode ver aqui.
Tenho falado muito de rinocerontes nos últimos tempos. Talvez mais do que a paciência dos leitores aguenta, peço perdão pelo abuso. Mas, se outra coisa não conseguem, espero que os meus textos sejam capazes de mostrar a profunda e ancestral ligação entre os rinocerontes e os seres humanos, quanto eles fazem parte da nossa história e da nossa cultura, da nossa alma comum, humana e animal, forjada em milénios de convívio – um convívio que, no caso do rinoceronte-branco do Norte, terminou para sempre no passado dia 19 de Março de 2018. Obviamente, os rinocerontes têm valor em si mesmos e como tal devem ser respeitados. Não merecem ser respeitados apenas pelo seu valor instrumental para os humanos, pois valem muito mais do que meros adornos da nossa cultura (de uma «cultura» que foi incapaz de os preservar e de lhes salvar a existência). A morte de Sudan é um fracasso para a Humanidade inteira, um falhanço nosso, de todos, enquanto espécie dominadora do planeta, a quem caberia evitar que tragédias como esta ocorressem.
Tenho falado muito de rinocerontes nos últimos tempos. Talvez mais do que a paciência dos leitores aguenta, peço perdão pelo abuso. Mas, se outra coisa não conseguem, espero que os meus textos sejam capazes de mostrar a profunda e ancestral ligação entre os rinocerontes e os seres humanos, quanto eles fazem parte da nossa história e da nossa cultura, da nossa alma comum, humana e animal, forjada em milénios de convívio – um convívio que, no caso do rinoceronte-branco do Norte, terminou para sempre no passado dia 19 de Março de 2018. Obviamente, os rinocerontes têm valor em si mesmos e como tal devem ser respeitados. Não merecem ser respeitados apenas pelo seu valor instrumental para os humanos, pois valem muito mais do que meros adornos da nossa cultura (de uma «cultura» que foi incapaz de os preservar e de lhes salvar a existência). A morte de Sudan é um fracasso para a Humanidade inteira, um falhanço nosso, de todos, enquanto espécie dominadora do planeta, a quem caberia evitar que tragédias como esta ocorressem.
No site da Time que traz a notícia da morte de Sudan vejo ao lado
uma outra notícia sobre um tweet qualquer de Ivanka Trump, que amanhã será esquecido mas certamente terá
despertado mais atenção e furor do que o desaparecimento irreversível, e para todo o
sempre, do último rinoceronte-branco do Norte. Às vezes pergunto-me se sabemos
mesmo o que andamos a fazer neste mundo.
Muitos parabéns pelo seu post.É seguramente um murro no estomago.
ResponderEliminarAs vezes, há histórias tristes que tornam a ser felizes, como esta do link aqui https://www.lastampa.it/2019/01/04/societa/adottare-il-baby-rinoceronte-davide-per-dare-speranza-allafrica-jaKPS99snLkhQmAsJKeNVO/pagina.html
ResponderEliminar