Eleito
pelos povos do círculo de Santarém, este parlamentar da nação apresenta-se na
fotografia com um ar bastante compenetrado. Líder de uma juventude partidária na época tauromáquica
2010/2012, no seu currículo académico apresenta, quanto a habilitações
literárias, uma «frequência» do clássico Mestrado em Relações Internacionais/Assuntos Europeus.
Abençoado país em que a frequência de um curso confere logo uma habilitação,
ademais literária. Na profissão indica «Consultor», ou seja, uma
pessoa que dá consultas, à semelhança dos otorrinos da laringe ou dos mestres da astrologia. Como compete numa democracia transparente, informa o país, no registo dos seus interesses, ser titular de 5% do capital social da irrequieta empresa Mosca – Agência de Publicidade, cuja área de
actividade é «Publicidade e Criatividade».
Nas páginas do Expresso, publicou
hoje este parlamentar uma densa crónica de comentário político. Com arguta subtileza
e não menor profundidade analítica, apresenta-nos a seguinte tese, prenhe de
pensamento e reflexão teorética: «António Costa é o Nené da Política
Portuguesa». Além de muito bem pensada, a crónica do jovem deputado encontra-se
redigida numa prosa cuidada, escorreita e límpida. Simplesmente, quando ia a sair de
casa apareceu-lhe à porta uma família muito numerosa de vírgulas (da espécie virgula virgulae). Desciam elas a rua em ordeira fila
indiana, formando um carreirinho disciplinado de vírgulas-formiguinhas. O senhor
deputado-cronista, que é um coração de ouro, achou por bem hospedá-las todas no seu texto,
semeando-as aqui e acolá. Era assim que Jackson Pollock pintava as suas telas.
O parlamentar escalabitano limitou-se, pois, a seguir o cânone da arte abstracta norte-americana da segunda metade do século XX. O
resultado final é um valha-me-deus para a língua portuguesa, deixando-nos maravilhados quanto à literacia de alguns dos nossos parlamentares e, já agora, dos nossos jornais de maior prestígio. Se esta é a imprensa «de referência», imagine-se a outra.
Aqui vai prosa:
«Era inevitável escrever sobre a
novela atual do Partido Socialista. Uma autêntica "casa dos segredos"
como lhe chamou Carlos Zorrinho, ou melhor ainda, Marco António Costa "a versão portuguesa da Guerra dos
Tronos". Toda esta fábula tem demonstrado, com notável clareza, o que é na
realidade o partido socialista do
"friso socrático"... que
começou em Mário Soares e termina em
António Costa.
Jamais um combate político
interno tinha sido tão violento, onde tanta gente perdeu a cabeça e disse os
mais duros disparates,
sobre colegas de partido,
sem qualquer lealdade política e institucional. O PS pagará caro, tanto esta
fatura como esta fratura. Logo, num período em que a abstenção é tão alta, em
que os partidos estão em crise, esta polémica, este lavar de roupa suja, não ajuda em nada a combater o deficit de credibilidade do sistema político.
O país precisa, de
um PS forte, credível e respeitado, como alternativa de poder, o que de facto, também não tem
conseguido ser.
Mas esta novela teve já duas
consequências positivas para Portugal. Permitiu a Seguro assumir um papel
reformista, propor uma mudança do sistema político democrático e, espero eu,
esperamos todos, discutir importantes
reformas em Portugal. Seguro que
rejeitou que o PS integrasse a Comissão Parlamentar para a Reforma do
Estado, que recusou discutir a reforma da Segurança Social, que rejeitou o
Acordo de Concertação Social, entre tantas outras reformas, quer agora, afinal discutir todo o
sistema.
Seguro reforma por taticismo e não por convicção
Por outro lado, e apenas por uma questão tática, Seguro defende as
primárias, para a
escolha do candidato a Primeiro-Ministro, o voto preferencial para a eleição
dos Deputados, a redução do número de Deputados, tudo iniciativas de rutura com atual sistema, tal como defendi recentemente na Assembleia da República,
mas das quais... Seguro discordava. Ou seja, Seguro, o moralista líder do PS,
assume estas bandeiras, não por
convicção, mas por oportunismo e
tacticismo. Tacticismo que tanto crítica, que tanto atira contra António
Costa. Com isso conseguiu "ganhar" alguns meses de
"oxigénio" na "sala de cuidados intensivos" do partido
socialista. Seguro acha que,
António Costa trai a democracia, do seu partido ao tentar
uma "entrada" suja no PS, mas, trai as suas convicções para conseguir uma saída limpa desta novela.
Mas olhemos também para António
Costa, que abandonou o Parlamento Europeu, logo após um ano de mandato, que foi
o braço direito de Sócrates no
seu primeiro Governo e que depois abandonou,
e que agora, apenas um ano depois de ser eleito como edil da capital, quer trocar os votos e confiança dos lisboetas
pela ambição de liderar o PS. Haverá
maior machadada que esta,
na confiança das pessoas nos políticos? Onde está a indignação habitual?
Se fosse Santana Lopes ou qualquer outro
do PSD, caía o "Carmo e Trindade". Quando Durão Barroso trocou
o Governo português pelo cargo de maior prestígio que um português já alcançou, levantou-se uma guerra,
ainda hoje sem "armistício", em Portugal, pelo pouco sentido de
oportunidade da decisão, mas também por alguma
inveja e pelo que se seguiu.
António Costa é o Nené da política portuguesa
Mas, há perguntas, que é útil fazer: quem
tem medo do voto preferencial, ou da redução do número de Deputados? Quem teme
a reforma dos partidos? O status quo existente e que, dominou o país nos últimos 40 anos. António Costa é o rosto dessa geração que tem
"dominado" o país mas com um dom que o distingue de muitos
outros, é uma espécie de Nené da política... não
suja o fato, não se esforça muito e fica sempre à espera que os outros ganhem a
bola, para depois
poder brilhar. É por isso que agora quer "roubar" a bola a António
José Seguro, porque "cheira a
poder". Mas não, não "cheira a poder", tresanda sim, a irresponsabilidade. Fede a falta de memória. A
Troika, já se foi embora, mas as reformas exigem responsabilidade.
Sendo favorável à redução do número de Deputados, alerto que isso
prejudica sobretudo os pequenos partidos, que representam franjas da população
como o PCP, o BE ou o CDS ou agora o MPT, ou as regiões menos populosas. Será
isso prioritário? Não me parece. Quanto às primárias são uma forma de
responsabilização dos cidadãos quanto à vida dos partidos. Hoje, e, porque vivemos em
alternância política,
entre PS e PSD, são uma minoria de
portugueses, as distritais, os militantes do PSD e do PS, que escolhem os
primeiros-ministros. Parece-me pois, o único caminho a seguir, depois de termos
adotado o sistema de eleições diretas.
O voto preferencial é talvez a mais importante das reformas do sistema
eleitoral, com diversas vantagens e desvantagens, que em breve aqui, explorarei. Esta, é talvez a mais
profunda e imediata transformação que se pode concretizar no sistema eleitoral,
provocando um brutal choque no status quo dos partidos, da relação dos
Deputados com o Governo e sobretudo, no reforço da legitimidade de todos os
eleitos. Apetece perguntar, quem teme
esta mudança?... os que
controlam o jogo,
há décadas!»
Pior, muito pior - e mais ridículo - do que o excesso de vírgulas é a utilização do abjecto «acordês».
ResponderEliminar... De que, aliás, a frase «o PS pagará caro, tanto esta fatura como esta fratura» é um exemplo eloquente e... «espetacular».
ResponderEliminarPior, muito pior, é o estado a que o expresso chega... Não fazem correcção de texto caralho?!! um nojo
ResponderEliminarDesculpe, mas tenho que o corrigir. Devia ter escrito: "Não fazem correcção de texto VÍRGULA caralho"
EliminarEsta é a versão corrigida do texto. A original e melhor começava:
ResponderEliminar«Era, inevitável escrever, sobre a novela atual do Partido Socialista.»
O mestrado Duarte Marques está correcto no seu belo texto.
ResponderEliminarFoi-lhe ensinado que as vírgulas e pontos finais devem ser usadas quando se respira ao ler um texto ou quando é necessário uma pausa dramática.
Claro que se a pessoa for asmática pode haver uma ou outra vírgula a mais.
São ossos do ofício.
Este apontamento não precisou delas porque respiro muito bem graças a Deus.
O Saramago morreu com falta de ar?!
Eliminarsim, o texto original puxava logo do travão de mão à segunda palavra
ResponderEliminar«Era, inevitável escrever, sobre a novela atual do Partido Socialista.» é para gravar na pedra...francamente. Não há mais nada a fazer se não esquecer isto tudo... Depois lá se surpreendem, que o povo é muito inteligente e tal... é claro que é, comparativamente... um nojo esta clique de lisboa
ResponderEliminar:-)
ResponderEliminarAposto que foi a empresa deste senhor que fez a publicidade de Olá...
ResponderEliminarOnde está o Wally? Dá-se um doce a quem descobrir no texto deste jovem ambicioso, a falta de concordância na "crítica"...
ResponderEliminarEste não é o texto original. O original tinha mais vírgulas: https://cld.pt/dl/download/56476be6-4d70-41cb-8a75-7830663c3acb/expresso_sapo_pt_seguro_rejeita_entrada_suja_e_tenta_saida_l.pdf
ResponderEliminarFace à notória e injusta incompreensão de que tão ilustre plumitivo está ser alvo aqui alguém que o acoselhe a escrever o texto sem vírgulas e no fim junte uma molhada delas e cada um que as distribua como quiser (, , , , , , , , , , ).
ResponderEliminarÉ o que eu acabo de fazer e se alguma sobrar podem ficar V. Exas. com ela de boa vontade .
Puta, que, o, pariu.
ResponderEliminarNem li o texto, mas... o Expresso não tem revisores? Ou alguém que leia o texto antes de o publicar?
ResponderEliminarSim, há vírgulas a mais. Sim, o Expresso devia ter feito revisão do texto. Mas é ridículo fazerem disto notícia / falatório / post. Vão lá ver o trabalho do deputado antes de criticarem prosas. Fossem todos como ele.
ResponderEliminarAHAHAHA, AHAHA, LOLOLO, AH, AHAHAH, ahahah.
EliminarSe o deputado não sabe escrever nem deputado devia ser, olha que merda
Eliminar> Vão lá ver o trabalho do deputado antes de criticarem prosas.
EliminarOra ainda bem que alguém defende o analfabetismo dos aristocratas.
nem devia escrever num jornal, como é evidente
ResponderEliminareles não se enxergam
EliminarJá foi ler o blogue Chez George Sand? Intitula-se escritora/poeta. O Duarte Marques está perdoado.
ResponderEliminarO bípede, se tivesse um mínimo de mioleira, podia ter seguido o exemplo das redacções da Guidinha, na "Mosca de Poche"...
ResponderEliminarPois, também acho, tratam-se de virgulas a mais.
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