(recordando Daniel Cohn-Bendit, Maio
68 e a última barricada erguida
no Quartier Latin de Paris)
“La vraie vie est ailleurs.”
Rimbaud
Em Abril de 2014, Daniel
Cohn-Bendit, o famoso e jovial Dany le
rouge”, o rebelde franco-alemão de Maio 68, no final da sua longa carreira
de deputado despediu-se do Parlamento Europeu, recordando que, tendo nascido em
1945 em Montauban, filho de alemães exilados, quando era menino, se tivesse
dito aos pais que dali a 50 anos teria deixado de haver fronteiras entre a
França e a Alemanha, aqueles decerto lhe teriam respondido que a sua criança
falava demais e dizia patetices. [1]
Concluía Daniel o seu discurso acrescentando que aquela profecia seria, afinal,
a sua própria história e também a de toda a Europa. Esta despedida de
Cohn-Bendit recordou-me sobretudo que, para a minha geração e para aqueles que
tinham vivido os acontecimentos de Maio-68 em França – eu vivera-os na
província, na pacata Estrasburgo, onde então preparava, graças a uma bolsa da
Fundação Gulbenkian, uma tese de doutoramento em Sociologia –, Dany o Ruivo
fora um dos chefes da revolta estudantil, iniciada em Nanterre – Nanterre-la-Folie – com o Movimento do 22 de Março, que havia
de despoletar, no Quartier Latin, com
a primeira barricada erguida no dia 10/11 desse mês e, depois, com um milhão de
manifestantes desfilando no dia 13, da praça da Bastilha à praça
Denfert-Rochereau, prodigioso movimento de protesto amplificado depois no resto
da capital e, por fim, em várias cidades francesas, como foi o caso daquela
plácida e conservadora Alsácia onde eu então residia, transformando-se numa
crise política, sindical e de civilização que abalou todo o hexágono, a ponto
de toda a França ter paralisado com as greves de 6 milhões de trabalhadores e a
interrupção de todos os transportes devido ao fecho das bombas de gasolina.
A crise estava para ficar,
apesar do contra-ataque do general, primeiro com os acordos celebrados com as
diversas organizações sindicais, em Grenelle (27-V) [2] e
ainda com a súbita e dramatizada ida de Gaulle a Baden-Baden (29-V) para se
avistar com o general Massu, comandante das tropas francesas estacionadas na Alemanha
Federal, e a triunfal manifestação de apoio à V República (30-V), seguida da
eleição duma chambre introuvable (Junho
de 68) em que a nova maioria gaulista obtinha 358 lugares num parlamento de 485
deputados. Vitória de Pirro pois, na verdade, ocultava o facto de que o regime
autoritário, começado dez anos antes com a crise argelina, saíra tão abalado
dessa crise que o próprio chefe de Estado, perante o resultado negativo do seu referendo
de 28-IV-1969, abandonaria o poder, retornando a Colombey-les-Deux-Églises,
onde faleceria em 1970.
No meio de todo este inesperado
vendaval, estava um estudante ruivo cujo rosto trocista diante dos polícias da
CRS seria difundido pelas fotos dos jornais e, em breve, pelos cartazes
produzidos pela frenética contestação sessenta-e-oitentista, inesperada
revolução que usava de uma linguagem onde havia tantas reminiscências e
influências de Rimbaud, Artaud e outros dissidentes e revolucionários do século
XIX e XX como Marx, Bakunine e Trotsky, passando pelos surrealistas, além de um
punhado de pensadores coevos como Herbert Marcuse, autor d’O Homem Unidimensional (1964, traduzido em francês em 1968), Raoul
Vaneigem, autor do Traité du Savoir-vivre,
ou Guy Debord com La Société du Spectacle, editados ambos em 1967,
além de outros autores dos anos 30, subitamente redescobertos, como Wilhelm
Reich, com A Revolução sexual (1936),
e Paul Nizan, com Les Chiens de Garde (1932). Compreende-se,
assim, que um dos panfletos do grupo de Nanterre se intitulasse Pourquoi des sociologues?
Lendo aquele discurso de
despedida do político ecologista e federalista que fora antigo estudante de
sociologia de Nanterre e fizera tremer as instituições político-sociais da
França, agora no termo duma longa carreira como deputado franco-alemão europeu
e co-presidente do grupo ecologista, [3] recordei
como eu mesmo, estudante de Sociologia na Alsácia, me sentira fascinado há
tantos anos pelo Gavroche de 68 em Paris, pois algo do seu incandescente rosto jovial
acabara, aliás, por se misturar com a minha vida pessoal, antes de mais porque
a minha mulher e eu escolhemos o nome do nosso filho varão – o Daniel, nascido
em 1969 em Estrasburgo – a partir do nome próprio desse irrequieto anarquista. [4] E ainda
porque o seu caso nos levou, estudantes da universidade alsaciana, a levantar-nos
quando Cohn-Bendit foi interdito de regressar a França (21-V) por ter
pronunciado, em Amesterdão, palavras ofensivas do brio francês: dissera que se
devia rasgar a bandeira francesa e substituí-la pelo estandarte vermelho… A interdição levara estudantes de todas as universidades
francesas a manifestarem-se ao grito de “Somos todos judeus alemães!”, estribilho
a que, uma vez mais, alguns cartazes deram expressão visual, com a ligeira
alteração para “Somos todos judeus e alemães” ou “Somos todos indesejáveis” –
com o irrequieto ruivo a rir-se na cara dum CRS. Uma gaffe de Georges Marchais, o futuro secretário-geral do PCF, ao
classificar Cohn-Bendit como “um anarquista alemão” (L’Humanité, 3-V), levaria ao paroxismo este slogan. A verdade é que, a 28 de Maio, Dany reaparecia clandestina
e inesperadamente na Sorbonne (28-V) ocupada pelos estudantes, aparição que
incendiou ainda mais os ânimos. Acrescente-se que o Partido Comunista francês
nunca estimara o movimento gauchista nem o seu líder Cohn-Bendit ou os seus
inspiradores ideológicos, como Marcuse ou Vaneigem. Compreende-se, assim, que o
PCF, aferrado ao estalinismo genético que lhe ficara desde o pré-guerra,
tivesse criticado com azedume Maio 68 desde os seus começos, considerando-o um
movimento contra-revolucionário, sendo hostil a Cohn-Bendit, tido este como um
anarca que, ainda por cima, era alemão. Como sintetiza Michel Onfray no volume
8º da sua Contre-Histoire de la Philosophie ,
intitulado Les Consciences Réfractaires: “Maio
68 envelheceu dum só golpe esse Partido abandonado pela História. Mal os
primeiros brilhos da primavera de Maio incendiaram o céu de Paris, o PCF deixou
de viver – e os seus intelectuais orgânicos com ele. Doravante será preciso
contar com uma nova geração.” [5]
Foi então, no meio desta
celeuma, que nós, os estudantes da capital alsaciana, solidários desde o
primeiro dia com os colegas enragés
de Paris, decidimos apoiar o nosso colega Dany, atravessando juntos, a
correr, a ponte Estrasburgo-Kehl sobre o Reno, para protestarmos contra a
medida policial aos gritos de “Somos todos judeus alemães!” E durante essa
corrida, feita por muitas centenas de estudantes, a ponte oscilava e dançava como
se fosse de borracha, o que, na altura, me deixou inquieto. Chegados a Kehl,
soltámos mais uns gritos de apoio a Daniel e tornámos, em passo normal, de
regresso a Estrasburgo. Os CRS, sombrios e imóveis, de bastão na mão, assistiam
a todos estes desmandos fronteiriços sem deterem ninguém. Em 22-V, os
estrasburgueses – que o diário alsaciano dizia ser “une population où la
tradition est fortemente enraciné” – sofreram um desgosto ao descobrirem indignados
que, na noite anterior, o monumento de mármore branco aos Mortos das Duas Guerras
tinha sido pintado de vermelho ou, como dizia o mesmo acaciano jornal, fora
“maculado por vândalos”… [6] E, a UFAC (Union Française
des Associations de Combattants et de Victimes de Guerre) do Bas-Rhin convocava
para o dia 28-V, às 18h30, uma manifestação diante do monumento profanado a
tinta vermelha, para desaprovar esse “acto odioso”, solicitando a toda a
população para participar nessa “cerimónia
de recolhimento”.[7]
Em
11 de Junho, aproveitei uma boleia de automóvel e fui a Paris na esperança de
que ainda por lá houvesse quem fosse capaz de levantar uma derradeira barricada
– e, por extraordinário acaso, na noite que, entrando eu no Bairro Latino, me
dirigia a pé para o meu hotel no Quartier Latin, vi um bando de jovens atarefados
numa rua junto do Boulevard Saint-Michel, já não me lembro exactamente qual, a
erguer uma barricada, com uma rapidez que muito me impressionou. Primeiro, cortavam
o asfalto com enormes tesouras de alfaiate, dobrando, em seguida, o asfalto
como quem enrola um tapete pesado e, em seguida, começavam a levantar com
barras de ferro os cubos de granito branco que lhe serviam de base e –
nobilíssima visão! – aparecia por baixo, no final da operação que me lembrava
as velhas gravuras das barricadas de 1830 ou de 1848, uma fina camada de areia
amarela, o que deu origem à poética metáfora (realista) de que, “sous les
pavés, il y a la plage!”: ela lá estava, debaixo das pedras brancas e do
alcatrão escuro, a praia escondida, porque há uma praia oculta em cada rua duma
grande cidade viva, revolucionária!
A verdade é que, estando eu,
com uma pequena mala na mão, a assistir tranquilamente a um começo de barricada,
ocorreu-me, a dada altura, que a polícia, se me detivesse ali, não tardaria, em
seguida, a expulsar-me de França como um estudante subversivo que viera sem
razão nenhuma da Alsácia a Paris, alegando que preparava em Estrasburgo um
doutoramento na universidade local, mas na verdade para dar uma ajuda aos enragés saudosos de Maio 68. De modo que
me levantei e fui até ao hotel, onde me instalei no meu quarto, feliz por ter
presenciado o histórico espectáculo de uma barricada em Paris durante a
Revolução de 68. Na manhã seguinte, pelo noticiário da TV, ouviria o relato do que
fora essa noite de agonia final dos alegres distúrbios de Maio-Junho de 1968
que acabariam por deitar abaixo De Gaulle e restaurar a direita do general pelas
mãos do seu pompidoliano sucessor, espécie de Ubu educado na banca Rotschild e
não nos maquis do Vercors: esta transição
marcava, no fundo, o fim histórico do gaulismo
heróico, nascido em 1940 como um acto de suprema rebeldia patriótica, recusando
o governo de demissão e colaboração de Pétain com o ocupante hitleriano,
regressado, por fim, ao poder com a crise argelina de 1958 e a instauração da V
República, e por fim, passados dez anos de regime autoritário sob aparências
democráticas – aquilo a que Mitterand chamara o sistema do “golpe de Estado
permanente” –, degenerara numa insuportável modorra que Pierre Viansson-Ponté
resumiria num título profético do seu artigo em Le
Monde : “Quand la France s’ennuie…” (15-III-68). A revolução
singular de Maio 68 seria, dest’arte, a resposta explosiva e frenética a este
profundo enfado que durara uma década desde que o antigo autor do apelo do 18
de Junho de 1940, iniciada no exílio inglês a redenção da França, a transformaria,
desde 1958, no gaulismo do tédio conservador.
Hoje, passado um ror de
anos sobre essa cada vez mais longínqua e incompreensível revolução de 68 em
França, recordo sobretudo a cena que eu mesmo vivi e presenciei de estudantes a
levantarem uma barricada no Quartier
Latin onde tudo começara no mês de Maio, a ponto de o nome de Gay-Lussac
recordar doravante a toponímia duma revolta estudantil que abalou os
fundamentos existenciais e culturais dum sociedade e dum regime, não o nome dum
químico francês que enunciou a lei da dilatação do gás. A verdade, em suma, é
que esse longínquo e perdido ano de 1968, meses que Yaweh guarda no seu álbum
de Horas Selectas sub specie temporis e jóias esquecidas, se vai cobrindo
do verdete de tudo o que se foi tornando temps
perdu, ou Passado que os romancistas e os historiadores porfiam em recuperar…
De qualquer modo, para mim, é o que recordo dessa a “revolução” francesa de
Maio 68 e os alegres motins estudantis e ambiciosas greves gerais que então paralisaram
a França toda – quando em Estrasburgo acompanhei os meus colegas a ocuparem sem
nenhum desacato as nossas faculdades e a instalarem-se no meio de venerável praça
Kléber, colocando grades na entrada das ruas que dela partiam, declamando slogans como “é proibido proibir”,
“tomem os vossos desejos por realidades”, ou “a desordem é ele!” [8] (i.e.,
De Gaulle), aguardando o ataque dos CRS, que nunca pensaram em fazê-lo e, por
fim, a atravessarmos em passo de corrida a longa ponte sobre o Reno entre a
França e a Alemanha, esse bando de enragés,
indesejáves, contestatários gauchistas e, sobretudo, inimigos das velhas
conchas vazias de partidos como o anémico espantalho estalinista do PCP (foi
com Maio 68 que o comunismo entrou em falência irrevogável na consciência colectiva
daqueles ano), bradando, com uma inesperada fibra europeia e cosmopolita, que
éramos todos judeus alemães.…
Na manhã seguinte a cada
grande feito revolucionário – por exemplo, pintar de vermelho o monumento de
pedra branca aos mortos das Duas Guerras, na Praça da República –, comprávamos Le Monde para saber como ia a Revolução
em França e, na verdade, tudo se resumia exclusivamente ao psicodrama encenado
em Paris e aos rituais distúrbios estudantis e desmandos policiais dos agentes
da CRS, com as barricadas erguidas pelos primeiros e logo cheias de fumo das granadas
lacrimogéneas dos segundos, enquanto De Gaulle parecia ter-se esfumado de vez,
até que, por fim, saindo do seu completo silêncio e dando um salto à Alemanha
para conferenciar com o chefe das forças militares estacionadas ali, repôs tudo
miraculosamente, marcou novas eleições que lhe deram a tal chambre introuvable, retomou o poder e a França voltou à sua vida
normal, os graffiti foram apagados
das paredes, as barricadas desfeitas, os pavés
aninharam-se de novo sobre as suas praias amarelas, o alcatrão cicatrizou e os
estudantes regressaram às suas ocupações. E, cruel ironia da História, De Gaulle
caiu no ano seguinte.
Um derradeiro detalhe
desses anos heróicos gostaria de recordar ainda: o Café Minotaure, junto ao
cais do Maire Dietrich. Fora ali, na casa do famoso presidente da câmara de
Estrasburgo que um jovem oficial dum regimento de marselheses, então em serviço
na Alsácia, em 1792, tocara ao piano e cantara pela primeira vez aquele
inspirado e patriótico trecho musical que viria a ser mais tarde o hino francês.
Ali, todos os dias da semana, de regresso das manhãs passadas a reunir material
para a minha tese de doutoramento, na sala 4 da imponente Biblioteca
Universitária, reservada aos thésards,
parava uns minutos antes de ir almoçar à cantina universitária, mesmo ao lado,
na avenida da Forêt Noire.
Era no estreito e sempre
apinhado Café Minotaure que se reunia o reduto mais activo dos gauchistas
estrasburgueses, todos eles judeus e trotskistas – as duas expressões eram
quase sinónimas –, ali planeando algumas das acções que o Comité Vietnam
National depois faria. Foi esse convívio com alguns colegas que eu conhecia da
Faculdade de Letras, não muito distante daquela esquina junto a um dos canais
do rio Ill, que tive oportunidade de me associar a diversas manifestações que a
JCR vinha realizando desde 1967, contra a intervenção norte-americana na
Indochina, tentando eu explicar àqueles jovens empenhados em combater a
intervenção americana nos arrozais vietnamitas que o meu país mantinha três guerras
em África, decerto menos conhecidas que as do intrépido Vietcong, mas de algum
modo feitas por povos que queriam também sacudir o jugo colonial que os
oprimia. Embora a peça de Peter Weiss, O
Canto do Papão lusitano, [9] estreada
em 1967 em Berlim, Estocolmo e logo representada também noutras cidades
europeias como Genebra, denunciando o colonialismo português, tivesse tornado
conhecido aquele Vietname africano que a pequenez do nosso país reduzira a uma
tragédia quase clandestina, os gauchistas alsacianos nada sabiam desses
conflitos em que a derradeira nação colonial europeia enfrentava movimentos
independentistas cujos dirigentes até o papa Paulo VI receberia no Vaticano. Em
suma, estas minhas prédicas de agitprop
eram escutadas sempre com certo cepticismo no Café Minotaure, já que a
geografia não era o forte dos trotskistas franceses. De modo que, apesar de os
acompanhar, ao lado de minha mulher, em diversas acções de rua pela paz no martirizado
Vietname – que até 1954 a
França tinha tiranizado com colonizadora –, nunca logrei que aqueles
estudantes, futuros militantes com rubro ardor em Maio 68, incluíssem as
guerras de libertação de Angola, Guiné Bissau ou Moçambique entre os movimentos
a que davam a sua ilimitada generosidade de revolucionários en herbe. Não consegui, por exemplo, que
os gauchistas do Minotaure se decidissem a concentrar-se com bandeirolas e gritos
de protesto, diante do consulado luso na capital da Alsácia, apesar de algumas
das manifestações deles se fizessem em torno do imponente edifício do consulado
dos Estados Unidos da América, a poucas centenas de metros do nosso pequenino
local consular.
De qualquer modo, passada
a révolution introuvable – como lhe
chamou Raymond Aron [10] –, chegado
o Verão de 1970, concluídas as minhas incessantes idas diárias até à Biblioteca
Universitária, encafuado na sala 4 dos thésards,
a minha tese de doutoramento estava pronta, sendo impressa a stencil, entregue e finalmente defendida
com sucesso diante dum júri da Universidade de Estrasburgo, o que me libertava
de vez daquela desterro numa cidade que, no fundo, nunca consegui amar. Lumières et Société – Essai sur la Sociologie des Lumières
en France, 1751-1771, assim se chamava o produto de três anos naquele glacial
stalag alsaciano, com a grilheta da
tese presa aos pés… Entretanto, em 1969, o homem chegara à Lua, eu era mais uma
vez pai, agora com o nascimento de Daniel – homenagem a Cohn-Bendit – e o
destino, num momento de rara dádiva, me permitia ingressar, pouco depois, como
professor na Universidade da Provença, o que nos livrava a todos, à minha
mulher e aos nossos filhos, do clima hostil da Alsácia e nos prolongaria por
quatro anos a nossa expatriação francesa, aguardando o D. Sebastião que a
guerra colonial nos mandaria para acabar com o pesadelo do regime opressivo que
vigorava há quase meio século na nossa pátria.
Monte Estoril, 15-XII-2014
Bibliografia essencial:
Sobre Maio 68:
– Christine
Faure, Mai 68 Jour et Nuit, Paris,
Gallimard,1998, ilustr.
– Raymond Aron,
Le Révolution introuvable, Paris, Fayard,
1968.
–Sylvain Zegel, Les
Idées de Mai, Paris, Gllimnard, 1968.
Sobre De Gaulle e a crise de Maio-Junho de 68:
– Jean Touchard, Le Gaullismse. 1940-1969, Paris, Éditions du Seuil, 1978 (o nome de
D. Cohn-Bendit não é mencionado).
– Alain Peyrefitte, C´Était De Gaulle, vol.IIII, Paris, Le Grand Livre du Mois, 2000 (extenso
e detalhado estudo sobre De Gaulle, com uma análise atenta da crise de Maio
68).
– Paul-Marie de La Gorce , De Gaulle, Paris, Perrin, 2000 (capítulo extenso sobre 68, intitulado
“Perigo de morte em Maio”, pp. 1213-1271).
– Serge Bernstein, Histoire du Gaullisme, Paris, Perrin,
2005 (escassas páginas dedicadas à crise de 68).
– Claire Andrieu, Philippe Braud e
Guillaume Piketty (dir de), Dictionnaire
De Gaulle, Paris, Laffont, 2006 (entradas sobre D. Cohn-Bendit, Maio 68, Massu,
etc.).
– Eric Roussel, De Gaulle. II. 1946-1970, Paris, Perrin, 2007 (detalhada história
política do período Maio-Junho 68).
Obras de Cohn-Bendit:
– Jacques
Sauvageot, Daniel Cohn-Bendit, Alain Geismar, Jean-Pierre Duteil, La
Revolte étudiante.
Les Animateurs parlent, Paris, Éditions du Seuil, 1968.
– D.
Cohn-Bendit, Nous avons tant aimée la Révolution ,
Paris, Éditions du Seuil, 1988.
– D. Cohn-Bendit, Une Envie de Politique, entrevistas com
Lucas Delattre e Guy Herzlich, Paris, Le Monde, 1998.
– D.Cohn-Bendit,
Forget
68, Paris, Éditions de l’Aube, 2008.
[1] Veja-se El País,
20-IV-2014, suplemento “Domingo”, “La
UE es un enano maniatado por los gobiernos”, p.5, com
foto de D. Cohn-Bendit.
[2] Pompidou forçou o patronato a fazer fortes concessões
às exigências das diversas formações sindicais apoiantes da greve geral em
curso (GGT, FO, CFDT) e que acabariam por pôr em perigo a economia francesa,
assim como a moeda nacional, mas que permitiam que os operários voltassem
depressa ao trabalho e se restabelecesse a calma social: o salário mínimo passava
de 2,20 para 3 francos, os salários reais foram aumentados 7% em 1/VI e de 3%
suplementares em 1/X, assim como os direitos sindicais nas empresas seriam alargados.
Todavia, os acordos de Grenelle foram repudiados pelas bases operárias que, por
instigação da minoria sindical “gauchista”, votaram por clara maioria a
continuação da greve.
[3] Daniel Cohn-Bendit, nascido em Montauban, em
4-IV-1945, expulso de França como cidadão alemão (em 1959 optara por essa
nacionalidade por preferir fazer os seus estudos secundários na Alemanha),
filiar-se-ia depois dos acontecimentos de Maio de 68 no partido alemão Die Grünen, sendo mais tarde, nas eleições europeias de 2009, deputado no
parlamento de Estrasburgo (1994
a 2014, defendendo um ecologismo de raiz libertária). O
seu pai, Erich Chohn-Bendit, devido ao triunfo do nazismo, partira em 1933 com
a sua mulher Herta para França, onde convivera com outros expatriados alemães
que ali se encontrava exilados, como Walter Benjamin. Heinrich Blücher e Hannah
Arendt. Em França o casal dirigiu a “Colonie Juliette”, destinada aos filhos de
deportados judeus, voltando para Berlim com a
sua mulher em 1959. Quanto a Daniel, terminados os seus estudos
secundários na Alemanha Federal, inscreveu-se, em 1966, como aluno de
Sociologia em Nanterre, tendo sido detido pela primeira vez pela polícia
francesa por causa da solidariedade dada a um grupo de colegas que tinha
ocupado pavilhões da cidade universitária em Paris ali realizando manifestações
contra a guerra americana no Vietname, tendo o reitor Grappin solicitado a sua
expulsão do território, o que não chegou a acontecer. Em Março de 1968 fundara
o grupo anarquista Movimento de 22 de Março. Expulso de Nanterre, inscreveu-se
então na Sorbonne, já que tinha residência em Paris. Foi de novo
preso por causa duma queixa dum colega que se dizia ter sido vítima de
violência sua e ainda por ter editado em panfleto explicando como se fabricavam
cocktails Molotov, mas acabaria por
ser solto. A 6-V, em altercação com um polícia da CRS, é fotografado a rir-se
na cara deste, o que depressa se tornaria num poster célebre e faria dele uma figura mediática identificada
doravante com a crescente agitação universitária, a qual em breve levantaria as
erecção das primeiras barricadas no bairro Latino de Paris. A 21-V era objecto
duma medida de interdição de residência no território francês por ter feito
afirmações, na Holanda, acerca da necessidade de rasgar a bandeira francesa,
substituindo-a pelo pendão vermelho, embora voltasse clandestinamente a França
e aparecesse na Sorbonne, onde foi vitoriado, após o que abandonou de novo do
país. Em 12-VI, os grupos anarquistas ligados ao movimento estudantil do mês
anterior foram todos dissolvidos. Cohn-Bendit publicou vários textos de defesa
dos seus ideais anarquistas e federalistas europeus: O Gauchismo, Remédio para a doença senil do comunismo (1968), Forget 68 (2008), La Révolution étudiante, Nous Avons tant aimée la Révolution ,(1986) Que Faire? (2008), Le grand
Bazar (1975), L’ Humour de Dany
(2014), etc. Em 1978 Cohn-Bendit viu levantada a sua interdição de residir em
território francês. Vivendo doravante na Alemanha, foi adjunto do presidente da
câmara SDP de Francoforte, filiando-se posteriormente no partido alemão Os
Verdes, tendo colaborado a dada altura com os liberais de Joschka Fisher.
[4] O movimento estudantil de 68 em França, iniciado por
um grupo de estudantes de Nanterre, tinha um cariz anarquista e
terceiro-mundista no grupo de Cohn-Bendit, ao lado de dois movimento de apoio à
guerra de libertação no Vietname, contra os Estados Unidos, o grupo maoísta
Comités Vietnam de Base e o Comité Vietnam National, patrocinado este pela JCR
(Jeunesse Communiste Révolutionnaire, fundada em 1967 pelos trotskistas). Em
7-V-68, Fréderic Gaussen e Guy Herzlich no jornal Le Monde, numa série de artigos intitulada “Entre l’apathie e la
violence”, historiando a acção do “Movimento 22 de Março”, falavam de Dany
le Rouge como um diabo que sai da sua caixa, “cabeleira ruiva solta,
elástico e jovial, Cohn Bendit destaca-se da massa”, sem precisar de microfone
para ser ouvido no anfiteatro Che
Guevara, no meio daqueles “anars” e “chineses”. E sublinham que a guerra do
Vietname estava na origem do Movimento 22 de Março assim chamado porque fora
nesse dia que os estudantes tinham invadido os locais da administração da
universidade de Nanterre para obterem o direito de ter reuniões no interior da
Faculdade, manifestando-se contra a prisão de estudantes do Comité Vietnam
National, em “luta contra o imperialismo”, Quanto ao PCF e aos sindicatos
existentes, estes estudantes consideravam que eles estavam integrados no
sistema capitalista.
[5] Michel Onfray, Les Consciences réfractaires, Grasset
et Fasquelle, 2012. Um dos filósofos estudados neste volume é Paul Nizan,
que abandonou o PCF desde o pacto germano-soviético de 1939: vide op.cit., pp.116-188 (com especial
relevo dado a Chiens de Garde, de
1932: pp. 156-9 e 436).
[6] Dernières
Nouvelles d’Alsace, Estrasburgo, 23-V-68, com foto. A 8-V, Le Monde noticiava numa pequena local
que os estudantes de Estrasburgo tinham feito uma manifestação, diante do
palácio universitário, contra a prisão de colegas de Paris, se tinham dirigido
para o centro da cidade “gritando frases hostis contra a polícia assim como em
relação ao diário regional Les Dernières
Nouvelles d’Alsace”, embora não conseguissem chegar aos escritórios do
jornal porque uma barragem policial lhes fechara a rua que a eles conduzia. A
verdade é que, apesar de conservador, o jornal fizera reportagens de teor
simpático em relação às greves estudantis da cidade, como, p. ex., no artigo
“Strasbourg: professeurs et étudiants ont manifesté dans le calme et la dignité”
(13-V, com foto a 2 colunas). No dia seguinte, 14-V, o jornal publica duas
páginas inteiras, com fotos a 4 colunas, sobre a “impressionante manifestação
em Estrasburgo, na qual sindicatos, docentes e estudantes testemunharam a sua
solidariedade” nas da manifestação”, depois de terem proclamado a autonomia
universitária, falando ainda do movimento grevista dos operários em Colmar e
Mulhouse, observando que este foi, em geral, pouco seguido, exceptuando no
ensino. A ocupação da Sorbonne é também relatada com destaque, a 15-V, sendo
descrita como “um fórum permanente e apaixonado”, com as estátuas de Pasteur e
Victor Hugo com bandeiras vermelhas nos braços, havendo ainda “bonitas
estudantes de mini-saia sentadas nas janelas do primeiro andar, deixando pender
as suas pernas no vazio”.
[8] “La chienlit c’est lui” – chienlit, de “chier” (defecar:
v.g., “celui qui chie au lit”), palavra do século XVI, significa “seca”,
barafunda, desordem (social), mascarada e, por extensão, designa uma personagem
de carnaval ou, no feminino, uma farsa descontrolada, donde o sentido de
barafunda, confusão, desordem. De Gaulle popularizou esta expressão ao
caracterizar as desordens de Maio 68 como um “chienlit”. Veja-se Alain Rey, Le Robert / Dictionanire historique de la Langue française,
Paris, Robert, vol. I, 2000, p.736.
[9] Veja-se o nosso texto “Peter Weiss e papão lusitano”,
no vol.XIII (“O Estado Novo II”), da nossa História
de Portugal dos Tempos pré-históricos aos nossos dias, Amadora, Ediclube,
pp.357-363. Um dos aspectos essenciais desta peça era a denúncia feita por P. Weiss
contra as nações europeias, como a Alemanha Federal, que auxiliavam os Estado
português com dinheiro e armas nas nossas três guerras coloniais.
[10] Sobre esta reflexão histórico-sociológica a propósito
do Maio de 68, feita pelo grande mestre
Raymond Aron (1903-1985), veja-se Mémoires,
Paris, Julliard, 1983, pp. 474-497, em parte dedicado ao seu livro publicado em
1968, La Révolution
introuvable.
João Medina
Uma nota interessante sobre a frase "Sous les pavés, la plage !":
ResponderEliminarhttp://fr.wikipedia.org/wiki/Sous_les_pav%C3%A9s,_la_plage_!
.Foram fatos extraordinarios.Seria aliás interessante estabelecer relação com movimentos estudantis em Portugal.Infelizmente a maioria dos que os viveram estão hoje não do lado do sonho mas do sono...
ResponderEliminarQualquer pessoa aqui que já passou por uma experiência de desgosto emocional vai entender como me sinto e vai entender como fiz qualquer coisa para recuperar o amor da minha vida até que encontrei o grande profeta, tudo parecia impossível e comecei a perder a esperança de conseguir o meu amante de volta porque ele foi embora e me disse que nunca mais queria me ver em sua vida e eu tenho sido a bruxa por trás de sua falta de progresso e ele não pode progredir na vida. mas depois de se encontrar com o grande príncipe profeta, ele me devolveu o meu amante algo que eu nunca pensei que fosse possível e eu me tornei motivo de chacota para todos em casa e no trabalho, até mesmo seu sócio nos negócios riu de mim e me xingou. agora estou sorrindo quando meu convite de casamento é dado a eles para também obterem ajuda deste bom homem se você precisar de feitiços de loteria Contate-o através do endereço de e-mail doctoriyaya@gmail.com ou o número do WhatsApp é +2349055785722 visite o site dele você pode encontrar sua solução lá www.https: //dr-iyaya-herbal-remedy.webnode.com
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