segunda-feira, 25 de março de 2019

Über alles.





 
         Numa entrevista recente, Wolfgang Schäuble confessa que a política de austeridade «podia ter sido diferente». O tema é aflorado num pequeno-grande livro de James Hawes, A Mais Breve História da Alemanha, que em poucas páginas condensa de forma fascinante – e acutilante – milénios de História. Mais do que o resgate grego, o livro lembra que anualmente ainda são despejados triliões de euros nos territórios da ex-RDA. Ainda assim, é neles que a extrema-direita desponta, como foi aí que, num passado triste, Hitler teve as maiores votações. Só para nos fixarmos na História recente, o livro desfaz (ou tenta desfazer, dirão alguns) a ideia feita de que foi na Baviera que Hitler esmagou os opositores, como tenta provar que o nazismo sempre teve maior apoio entre os luteranos do que entre os católicos. Nesta destruição de mitos e ideias feitas, contesta-se que tenha existido um «milagre económico» alemão; se o houve, teve contornos muito diferentes do que por vezes julgamos – o que se passou foi uma ousada absorção das poupanças dos particulares e uma capitalização maciça das empresas, à mistura com uma singular abolição do racionamento. Em Maio de 1945, apenas 6,5 por cento do tecido fabril da Alemanha fora destruído pela guerra – sabia disso? Surpreendente. Como surpreendentes são as ilações de James Hawes sobre a reunificação e a escolha da capital em Berlim, um triunfo da Prússia que talvez não tenha sido um bom negócio para a Alemanha no seu todo. Não foi por acaso que, na votação parlamentar, em 20 de Junho de 1991, houve quase um empate, com 291 votos a favor de Berlim e 214 a favor da manutenção de Bona como capital. O Leste do Elba a marcar a história da Alemanha há centenas de anos, milénios. E um livro interessantíssimo, extremamente informativo – e que nos faz pensar.

 
 





 
 

3 comentários:

  1. Se o houve, milagre, «foi ousada absorção das poupanças dos particulares, capitalização maciça das empresas e singular abolição do racionamento». Mais/Ou capitais de milionários americanos e bens judaicos roubados, desde casas, obras de arte, incluindo extração dos dentes de ouro, enormes recursos! Só 6,5 por cento da indústria destruída: ao ler S.Wiesenthal, antes do fim, muita riqueza foi escondida (sem extravio dos intervenientes!) para futura construção do 4º Reich.

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  2. Obrigado pelo seu comentário.

    António Araújo

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  3. A sua resposta revela o excelente juízo condizente com a sua responsabilidade e isso obriga-me também a agradecer.

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