A coleção Pela Sua Saúde – Ciência Alimentar,
recentemente criada ou constituída pela Fundação Francisco Manuel dos Santos,
não se destina, em rigor, a um público não iniciado, será seguramente muito
útil como ferramenta de estudo para quem se prepara para ser profissional de
saúde, a linguagem usada por estes autores só é simples para estes iniciados.
Atenda-se ao que o autor deste livro intitulado Obesidade: Uma Questão de
Peso?, por José Camolas, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2023,
enuncia como objeto do seu trabalho:
“Tratando-se de uma doença metabólica crónica,
a obesidade é também fator de risco para outras patologias, tais como:
diabetes, doença cardiovascular, doenças respiratórias, alguns tipos de cancro
e depressão, entre outras. A obesidade afeta negativamente a qualidade de vida
e está fortemente associada á redução do número de anos vividos com saúde e ao
aumento da mortalidade evitável.” O reconhecimento da obesidade como doença é
bastante recente. Como também observa o autor, foi apenas no início deste
século que a OMS propôs a sua caracterização como doença crónica,
reconhecimento que ainda não é consensual. É estimável que a prevalência da
obesidade mereça a caracterização de altamente preocupante. “Em Portugal, mais
de metade da população adulta e um terço das crianças apresentará peso em
excesso”, tenho sérias dificuldades em aceitar estes números, ando nas ruas e
não vejo tal flagelo. O autor recorda que os mecanismos envolvidos pelo
agravamentos e consequências da obesidade são múltiplos e complexos, tal como
adianta que os fatores que favorecem o ganho de peso variam individualmente.
Prevenir e tratar a obesidade abarca diferentes níveis de atuação, desde uma
cultura adequada a uma alimentação saudável passando pelas respostas clínicas
ajustadas. Um desafio da maior amplitude, como ele adianta: “A luta contra a
obesidade incorpora, em pleno, o desafio de integrar a saúde em todas as
políticas. Assim, além das medidas de âmbito da saúde, ao nível da prevenção e
da agilização do acesso ao tratamento adequado, são indispensáveis ações no
âmbito da regulamentação, da tributação dos alimentos prejudiciais à saúde, do
apoio social e da facilitação do acesso à alimentação adequada.
Entrando propriamente no ensaio, dá-nos o peso
dos números para dizer, que tudo conjugado, estamos a falar de uma epidemia e
questiona o que é que é determinante na obesidade, e logo nos dá uma
dilucidação: “Obesidade e excesso de peso não são sinónimos, pelo que a
variável peso, considerada isoladamente, é um indicador impreciso dos impactos
negativos da doença. O peso ideal é um conceito relativamente desatualizado, o
sucesso no tratamento da obesidade também não se deverá restringir à
monitorização da perda de peso. A definição de obesidade proposta pela OMS está
centrada na massa gorda corporal e, mais concretamente, na sua proporção e no
seu potencial impacto negativo na saúde.” E faz-se uma abordagem do que é o
índice de massa corporal e a sua relação às comorbilidades da obesidade, para
concluir que o que pesa na obesidade não é o mesmo que pesa na balança. O que
pesa na obesidade é a disfunção do tecido adiposo, o respetivo impacto nos
outros tecidos do organismo e os seus reflexos na saúde e na qualidade de vidas
das pessoas com obesidade.
E a narrativa toma o pulso ao fator da
genética, também para concluir que a obesidade poderá constituir a expressão de
um desajuste entre o genoma humano e o ambiente. E toma em consideração o peso
da fome e da vontade de comer, como o peso do ambiente, daqui chega ao peso da
força e da vontade para nos dizer que “parece aceitável a premissa de que a
maioria dos seres humanos, por força do seu património genético, estará mais
predisposta para ganhar do que para perder peso. As mudanças contextuais,
particularmente as observadas nas últimas décadas, parecem mais promotoras de
consumos alimentares desadequados e de hábitos sedentários facilitadoras de
comportamentos promotores e protetores da saúde”, e daí chegar-se a outra
conclusão: “O sucesso na prevenção e no tratamento da obesidade requer
efetivamente força (para implementar ações modeladores do acesso e da oferta” e
vontade (de promover escolhas alimentares adequadas). Tanto uma como a outra
são determinantes para a criação de ambientes resilientes que promovam e
suportem hábitos adequados.”
Tem agora a palavra o peso da nutrição. Passa
em revista indicadores relacionados com o bem-estar e a saúde psicológica, a
natureza das intervenções nutricionais, com destaque para as abordagens
nutricionais de obesidade, que são elencadas, havendo razões para muita
prudência, como ele adverte, falando de uma situação: “Os jejuns intermitentes
têm ganho algum protagonismo, pelo que se justificam algumas considerações.
Primeira, para assinalar que a investigação disponível indica que os resultados
obtidos com esta abordagem, no contexto da obesidade, não são superiores aos
obtidos com outros tipos de dietas restritivas. Segunda, para dar nota de que
existem vários protocolos de jejum intermitente. No nosso país, o mais habitual
será a opção pela pausa alimentar, que determina um período de jejum (12-18
horas) e um intervalo restrito para a ingestão de alimentos (6-12 horas). A
este respeito, justifica-se assinalar que a opção de estender o jejum para a
manhã, quebrando a pausa para o almoço, parece ser uma opção menos favorável,
em termos metabólicos, do que iniciar esse jejum à tarde e terminá-lo com o
pequeno-almoço.”
O autor refere também as estratégias
nutricionais, mas releva a importância de que a intervenção em obesidade não
deverá focar-se especificamente na perda de peso, mas sim na otimização geral
da saúde do indivíduo, e culmina assim o seu trabalho:
“A intervenção nutricional surge na primeira
linha e é a única abordagem que será transversal a todas as situações de
excesso de peso – por exemplo, a cirurgia bariátrica não é adequada a todos os
níveis de obesidade e os fármacos têm indicações e contraindicações
específicas. Neste sentido, os nutricionistas têm a responsabilidade de
proporcionar uma abordagem que permita à pessoa que vive com obesidade
sentir-se compreendida, sendo parte ativa no seu plano de tratamento,
contribuindo para a construção de expetativas apropriadas e para a valorização
adequada das mudanças e resultados que têm mais peso na sua saúde.”
Este ensaio que é do maior interesse para todos os estudantes do ensino universitário na área da saúde.
Mário Beja Santos
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