quarta-feira, 26 de julho de 2023

A obesidade não é só uma questão de peso, aqui tem a oportunidade para saber mais.

 



 

A coleção Pela Sua Saúde – Ciência Alimentar, recentemente criada ou constituída pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, não se destina, em rigor, a um público não iniciado, será seguramente muito útil como ferramenta de estudo para quem se prepara para ser profissional de saúde, a linguagem usada por estes autores só é simples para estes iniciados. Atenda-se ao que o autor deste livro intitulado Obesidade: Uma Questão de Peso?, por José Camolas, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2023, enuncia como objeto do seu trabalho:

“Tratando-se de uma doença metabólica crónica, a obesidade é também fator de risco para outras patologias, tais como: diabetes, doença cardiovascular, doenças respiratórias, alguns tipos de cancro e depressão, entre outras. A obesidade afeta negativamente a qualidade de vida e está fortemente associada á redução do número de anos vividos com saúde e ao aumento da mortalidade evitável.” O reconhecimento da obesidade como doença é bastante recente. Como também observa o autor, foi apenas no início deste século que a OMS propôs a sua caracterização como doença crónica, reconhecimento que ainda não é consensual. É estimável que a prevalência da obesidade mereça a caracterização de altamente preocupante. “Em Portugal, mais de metade da população adulta e um terço das crianças apresentará peso em excesso”, tenho sérias dificuldades em aceitar estes números, ando nas ruas e não vejo tal flagelo. O autor recorda que os mecanismos envolvidos pelo agravamentos e consequências da obesidade são múltiplos e complexos, tal como adianta que os fatores que favorecem o ganho de peso variam individualmente. Prevenir e tratar a obesidade abarca diferentes níveis de atuação, desde uma cultura adequada a uma alimentação saudável passando pelas respostas clínicas ajustadas. Um desafio da maior amplitude, como ele adianta: “A luta contra a obesidade incorpora, em pleno, o desafio de integrar a saúde em todas as políticas. Assim, além das medidas de âmbito da saúde, ao nível da prevenção e da agilização do acesso ao tratamento adequado, são indispensáveis ações no âmbito da regulamentação, da tributação dos alimentos prejudiciais à saúde, do apoio social e da facilitação do acesso à alimentação adequada.

Entrando propriamente no ensaio, dá-nos o peso dos números para dizer, que tudo conjugado, estamos a falar de uma epidemia e questiona o que é que é determinante na obesidade, e logo nos dá uma dilucidação: “Obesidade e excesso de peso não são sinónimos, pelo que a variável peso, considerada isoladamente, é um indicador impreciso dos impactos negativos da doença. O peso ideal é um conceito relativamente desatualizado, o sucesso no tratamento da obesidade também não se deverá restringir à monitorização da perda de peso. A definição de obesidade proposta pela OMS está centrada na massa gorda corporal e, mais concretamente, na sua proporção e no seu potencial impacto negativo na saúde.” E faz-se uma abordagem do que é o índice de massa corporal e a sua relação às comorbilidades da obesidade, para concluir que o que pesa na obesidade não é o mesmo que pesa na balança. O que pesa na obesidade é a disfunção do tecido adiposo, o respetivo impacto nos outros tecidos do organismo e os seus reflexos na saúde e na qualidade de vidas das pessoas com obesidade.

E a narrativa toma o pulso ao fator da genética, também para concluir que a obesidade poderá constituir a expressão de um desajuste entre o genoma humano e o ambiente. E toma em consideração o peso da fome e da vontade de comer, como o peso do ambiente, daqui chega ao peso da força e da vontade para nos dizer que “parece aceitável a premissa de que a maioria dos seres humanos, por força do seu património genético, estará mais predisposta para ganhar do que para perder peso. As mudanças contextuais, particularmente as observadas nas últimas décadas, parecem mais promotoras de consumos alimentares desadequados e de hábitos sedentários facilitadoras de comportamentos promotores e protetores da saúde”, e daí chegar-se a outra conclusão: “O sucesso na prevenção e no tratamento da obesidade requer efetivamente força (para implementar ações modeladores do acesso e da oferta” e vontade (de promover escolhas alimentares adequadas). Tanto uma como a outra são determinantes para a criação de ambientes resilientes que promovam e suportem hábitos adequados.”

Tem agora a palavra o peso da nutrição. Passa em revista indicadores relacionados com o bem-estar e a saúde psicológica, a natureza das intervenções nutricionais, com destaque para as abordagens nutricionais de obesidade, que são elencadas, havendo razões para muita prudência, como ele adverte, falando de uma situação: “Os jejuns intermitentes têm ganho algum protagonismo, pelo que se justificam algumas considerações. Primeira, para assinalar que a investigação disponível indica que os resultados obtidos com esta abordagem, no contexto da obesidade, não são superiores aos obtidos com outros tipos de dietas restritivas. Segunda, para dar nota de que existem vários protocolos de jejum intermitente. No nosso país, o mais habitual será a opção pela pausa alimentar, que determina um período de jejum (12-18 horas) e um intervalo restrito para a ingestão de alimentos (6-12 horas). A este respeito, justifica-se assinalar que a opção de estender o jejum para a manhã, quebrando a pausa para o almoço, parece ser uma opção menos favorável, em termos metabólicos, do que iniciar esse jejum à tarde e terminá-lo com o pequeno-almoço.”

O autor refere também as estratégias nutricionais, mas releva a importância de que a intervenção em obesidade não deverá focar-se especificamente na perda de peso, mas sim na otimização geral da saúde do indivíduo, e culmina assim o seu trabalho:

“A intervenção nutricional surge na primeira linha e é a única abordagem que será transversal a todas as situações de excesso de peso – por exemplo, a cirurgia bariátrica não é adequada a todos os níveis de obesidade e os fármacos têm indicações e contraindicações específicas. Neste sentido, os nutricionistas têm a responsabilidade de proporcionar uma abordagem que permita à pessoa que vive com obesidade sentir-se compreendida, sendo parte ativa no seu plano de tratamento, contribuindo para a construção de expetativas apropriadas e para a valorização adequada das mudanças e resultados que têm mais peso na sua saúde.”

Este ensaio que é do maior interesse para todos os estudantes do ensino universitário na área da saúde. 


                                                                                                    Mário Beja Santos





 


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