O
InfoGestNet é actualmente um Portal internacional de acesso às bases de dados
de múltiplos organismos e instituições, incluindo os arquivos e bibliotecas
mais importantes de Portugal (ver em www.infogestnet.com),
desenvolvido pela empresa portuguesa SHP. Hoje apenas acompanho a sua evolução
como qualquer outro investigador, congratulando-me pela possibilidade que todos
temos de utilizar um portal unificador de tanta informação. Mas nem sempre foi
assim, pois já tive uma relação muito estreita com este projecto.
Quando,
no dia 2 de Janeiro de 1993, me vi como único oficial no quadro do Arquivo
Histórico Militar, tive que assumir a sua direcção interina, como sempre
acontece nos órgãos militares – o mais graduado e mais antigo passa a
responsável. Julgo que não era intenção das autoridades que eu assumisse o
cargo, pelo que me conservei nesta situação interina durante quase dois anos,
até que um novo chefe de Estado Maior do Exército (o general Martins Barrento)
me nomeou, sem qualquer reserva, director do Arquivo. Foi a partir de então que
procurámos desenvolver um projecto informático que transformasse os nossos
velhíssimos e dispersos ficheiros manuais, numa base de dados digital que já
então se desenvolviam. Com os escassos recursos que foram postos à nossa
disposição, conseguimos contratar uma empresa civil, exactamente a SHP, hoje
detentora do portal InfoGestNet, para construir essa base de dados que tanto
ambicionávamos. Esse primeiro projecto, iniciado, se não estou em erro, em
1995, recebeu o nome de ARQMIL e ainda alimentámos a base de dados construída
com alguns ficheiros, na forma experimental.
Nesta
altura não se falava em redes nem em partilha da informação, mas a empresa SHP
apercebeu-se que a gestão documental poderia ser um nicho de mercado
interessante, sentindo-se vocacionada para a construção, não de uma aplicação
informática militar, mas de um programa que pudesse ser utilizado por todas os
organismos e instituições que detivessem documentação histórica. Iniciámos
então uma parceria, pouco depois concretizada com a assinatura de um protocolo
de colaboração, para a construção de uma aplicação informática para tratamento
da documentação histórica, que veio a chamar-se (e julgo que ainda hoje se
chama) InfoGest. Nesta altura já pudemos desenhar um aplicativo mais complexo,
com vários módulos, abrangendo o arquivo histórico (ArqGest), único que
directamente nos interessava, mas também os arquivos correntes e os arquivos
intermédios.
Quando
o programa atingiu uma certa estabilidade, a empresa iniciou a sua
comercialização e, pela sua novidade e pelas suas características, foi
rapidamente adoptado pelos mais variados organismos, iniciando um caminho que
parecia promissor. Logo que foi possível, a empresa desenvolveu o módulo para a
Internet, por forma a tornar acessível, a partir de qualquer ponto, a consulta às
respectivas bases de dados, nascendo assim a primeira versão do InfoGestNet.
O
mercado entretanto modificou-se e já nos últimos anos da minha permanência no
Arquivo Histórico Militar, de onde saí para a reforma em 2007, se alargava a
entrada de novos parceiros no nicho da gestão documental. Mas, tanto quanto sei
hoje, nem sempre as regras da concorrência foram respeitadas e a empresa SHP
acabou, infelizmente e apesar da sua longa experiência, por ser afastada de
muitos dos clientes que ganhara anteriormente, por vezes de forma pouco
transparente.
Tanto
quanto conheço, porque sempre me tenho interessado por este projecto que ajudei
a criar nos seus primeiros passos, a empresa SHP acaba de lançar mãos a uma
obra de grande valor para a investigação, transformando o carácter do programa
InfoGestNet e convertendo-o num portal internacional de pesquisa inter-arquivos,
associando também bases de dados de bibliotecas e de universidades. Só podemos
todos congratular-nos com esse esforço, e apoiar quem assim contribui para a
valorização cultural, ao disponibilizar um instrumento único de partilha da
imensa informação arquivística que começa a estar acessível ao grande público.
É
este projecto que nos permite continuar a ter, na actualidade, a possibilidade
de consultar bases de dados, como a do Arquivo Histórico Militar, que já tinham
sido retiradas do acesso on-line; e esse facto possibilitou a continuação de muitas
investigações, sem a obrigação de retornar às salas de leitura dos Arquivos.
Eu
congratulo-me por isso e não posso deixar de felicitar quem nos garante este
fundamental instrumento de acesso ao património arquivístico nacional (e também
internacional). E que faça tudo isto sem visar imediatos interesses comerciais,
ou seja, que nos proporcione essa ferramenta de forma completamente gratuita!
Bem-hajam!
Aniceto
Afonso
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