sábado, 16 de setembro de 2017

Ceci n'est pas un Magritte.

 
 


 
Durchsteck-schlüssel. Como toda a gente sabe o que é, não me vou alongar muito em muitas explicações. É só dizer que a «Chave de Berlim» foi um engenhoso instrumento securitário concebido por Johannes Schwiger, empregado da firma Albert Kerfin & Co. Pois não é um quadro de Magritte, ao contrário do que poderiam pensar, senhores leitores. Esta chave existiu mesmo, é um ícone do design berlinense – e é muito maravilhoso usra lugares-comuns como «ícone». Como surgiu? Então foi assim: nos blocos de apartamentos que começaram a ser construídos no século XIX e se prolongaram no XX, os vizinhos andavam todos danados uns com os outros pois havia a raça do senhor do Bloco A-3 que nunca fechava a porta de acesso ao condemónio. Para evitar isso, o senhor Johannes inventou uma chave dupla, muito habilidosa: para entrar no prédio, usava-se um dos lados – e a chave só poderia ser recuperada se se desse a volta pelo outro lado, ou seja, o lado de dentro. É um bocadito difícil de explicar mas creio que perceberam. Deste modo, havia a garantia que todos fechavam a porta: quem queria entrar, tinha de abrir a porta (óbvio) e depois só recuperava a chavezinha se voltasse a dar-lhe uma volta, desta feita já no interior do edifício. Segurança, engenho, arte. Muita coisa junta, a ponto de um sociólogo francês, Bruno Latour, ter escrito um ensaio sobre o poder que os objectos têm sobre as pessoas, obrigando-os a comportarem-se assim ou assado. Título? A Chave de Berlim, pois claro.  
 









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