domingo, 17 de setembro de 2017

Histórias de mulheres: 100 dias de solidão.

 
 





















Já falei aqui da exposição patente no IVAM, em Espanha, de artistas e criadoras dos países do Mediterrâneo. Entre elas, Nidaa Badwan, nascida em 1987 (santo Deus…), no Abu Dhabi. Esta artista palestiniana foi ameaçada pelo Hamas por não andar de hijab na rua. A resposta que deu foi de uma imensa coragem. Sozinha em casa. As imagens parecem – e são – voluptuosas, como se Nidaa estivesse sequestrada num serralho – que esteve. Foi ela que o decidiu, fechar-se em casa durante cem dias, cem dias de solidão. Na solidão de si mesma, como diria Elizabeth Cady Stanton, num texto que traduzi aqui, e de que a minha saudosa querida amiga Fátima Patriarca, outra mulher de coragem, tanto gostou. As imagens que vedes, senhores, são de uma coragem imensa, de uma ironia enorme. Ao retratar-se assim, toda erótica na sua casa, na sua casa de cores quentes envolventes, Nidaa Badwan está a praticar um gesto de protesto – protesto artístico e político –, arriscando a sua vida e a sua beleza para que eu possa escrever isto aqui, hoje, sem medos nem temores. Estas imagens de 2013 denunciam a opressão da liberdade no espaço público; ao fechar-se em casa – o único lugar em que era livre, sorridente e feliz – a artista palestiniana mostra urbi et orbi a crueldade do Hamas e dos seus partidários. Tão simples como isto. Tamanha simplicidade chega a ser dolorosa, num mundo que, insistimos, é um lugar estranho.
 
 


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