Caríssimos António Araújo
e Manuel S. Fonseca.
Não tinha lido ainda as colunas do
meu caro Manuel, mas tinha ouvido (no Governo Sombra) e lido as declarações do
João Miguel Tavares. Fiquei depois ao corrente, pelos posts no Malomil.
Num desses posts, o António
pergunta se os seus leitores estão do lado dos 90% ou do dos 6%. Estou do lado
dos 90%, sem sombra de dúvida. Mas o que é que isso quer dizer? Porventura, ao
levantar tal questão não queria receber tamanha quantidade de palavras, mas
aqui fica aqui a minha modesta contribuição.
Negacionista?
negacionista
que ou aquele que
demonstra negativismo;
negativismo
disposição, espírito de
negação sistemática; tendência a dizer não, a recusar ou refutar, sempre ou
quase sempre, ideias, solicitações, propostas, orientações etc.[1]
Discutir o significado da designação negacionista é, de
certa maneira, uma actividade infrutífera. A definição é a que transcrevi. A
acepção, essa depende de quem a pronuncia e de quem a ouve. Se por um lado tem
uma conotação ligada à negação de factos estabelecidos e à realidade empírica,
tipicamente associada a acontecimentos como o holocausto, a vacinação ou a ida
do homem à lua, por outro significa simplesmente a rejeição de uma
interpretação da realidade que é consensual.
No caso das alterações climáticas, o
caso complica-se logo no início, já que há mais do que uma forma de
negacionismo: há os que rejeitam o aquecimento global; há os que aceitam o
aquecimento global, mas que rejeitam que seja antropogénico; e finalmente há os
que aceitam a existência de um aquecimento global antropogénico, mas que
rejeitam as previsões dos seus efeitos. Todos serão negacionistas, mas logo
aqui vemos que não há consenso: os últimos recusam ser chamados negacionistas,
mas não contestam que os primeiros sejam rotulados como tal.
Adiante.
Ouvir outro lado
Nos idos de 2000, Paul Krugman escrevia
o seguinte:
If a presidential candidate were to declare that the earth
is flat, you would be sure to see a news analysis under the headline ''Shape of
the Planet: Both Sides Have a Point.'' After all, the
earth isn't perfectly spherical.
Ironicamente, a citação é mais actual
que nunca, não só por vivermos numa altura em que a polarização das opiniões
públicas obrigam os meios de comunicação tradicionais a entrarem por um
relativismo quase absurdo, mas ainda mais, num momento em que o movimento da
Terra plana ganha força, num exemplo do mais irracional e vácuo reaccionarismo
anti-ciência.
A afirmação de Krugman é incisiva: No final de contas, a Terra não é uma esfera
perfeita. E no entanto, porque é que a maioria de nós descarta
imediatamente a noção de que a Terra é plana? Porque é contra o consenso
empírico. Noto que esta rejeição não é de agora. É anterior a haver fotografias
do planeta redondo. É, de facto, algo que se considerava saber comum há 500
anos, pelo menos.
Gemma Frisius, "Les
Principes d'astronomie et cosmographie, avec l'Usage du Globe", Tradução
francesa, Paris 1582
As provas de que a Terra é redonda,
não sendo difíceis, também não são obvias. Presumo que nenhum de vós tenha
tentado usar o método de Erastótenes, ou que já tenha visto o desaparecimento
de estruturas por detrás do horizonte (algo que requere esforço e boa
visibilidade), e no entanto, o consenso empírico é suficiente para descartar as
hipóteses alternativas. Claro que este caso é mais fácil, porque, agora, também
existem fotografias do planeta e descartar todas estas provas implica a crença
em conspirações por demais rocambolescas.
No entanto, isso não invalida o
argumento central de Krugman: muitos dos não-cientistas que refutam o que o
aquecimento global seja causado pelo Homem limitam-se a dizer “ouçam os dois
lados”. Diz o Manuel:
as minhas
leituras, dizia, levam-me a estar do lado dos cientistas que valorizam a
incerteza e que, aceitando a hipótese antropogénica, contestam que, nos termos
de conhecimento e observação existentes, se possa afirmar que ela é dominante
ou até que se possa quantificar para o futuro ou que se possa avaliar com
segurança a futura perigosidade.
Antes de mais, porquê “estar do lado”
destes cientistas e não dos outros? O facto é que, se todas as opiniões têm
direito a ser emitidas, nem todas têm o mesmo valor.
Depois, o que significa “valorizar a
incerteza”? Todos os cientistas valorizam a incerteza. A ciência não é mais do
que abraçar a incerteza e, de forma sistemática e rigorosa, procurar descrever
sistemas e angariar provas que validem essas descrições, reduzindo assim essa
incerteza. Nenhum cientista tem nenhuma verdade como absoluta, nem nenhum
modelo do mundo físico pretende ser mais que uma aproximação.
Newton estava certo? Não. Mas também
não estava errado: o seu modelo de descrição da mecânica funcionava dentro de
determinados limites, mas Einstein provou que era uma aproximação incompleta.
Einstein expandiu o modelo, dando-nos uma descrição mais fidedigna dos
fenómenos que observamos, reduzindo a incerteza dos cálculos e das previsões
dos modelos. Ainda assim, ninguém dirá que Einstein desvendou uma verdade
absoluta, nem que Newton estava errado.
Se o Manuel nos der o critério que o
leva a estar desse tal grupo de cientistas, talvez o possamos avaliar. Mas, se
for meramente por achar mais interessante uma determinada premissa, nada mais é
que escolher um clube pela cor da camisola.
Note-se ainda que o Manuel rejeita
alguns negacionistas, uma vez que afirma aceitar o aquecimento global e aceita
a hipótese antropogénica. Há os que não o aceitam. Esta última, no entanto,
parcialmente, uma vez que, logo de seguida, reconhece o valor dos que
“contestam que, nos termos de conhecimento e observação existentes, se possa
afirmar que [a hipótese antropogénica] é dominante.
Ora, aqui começamos a entrar no
domínio do tal consenso: o consenso actual diz que são por demais as evidências
de que o aquecimento global que hoje observamos tem como origem, sobretudo, na
acumulação de CO2 na atmosfera e que essa acumulação é causada por acção
humana.
Em 2007, no relatório AR4, o IPCC dizia:
Very high confidence
that the global average net effect of human activities since 1750 has been one
of warming, with a radiative forcing of +1.6 [+0.6 to +2.4] W m–2.
Global atmospheric
concentrations of carbon dioxide, methane and nitrous oxide have increased
markedly as a result of human activities since 1750 and now far exceed
pre-industrial values determined from ice cores spanning many thousands of
years. The global increases in carbon dioxide concentration are due primarily
to fossil fuel use and land use change, while those of methane and nitrous
oxide are primarily due to agriculture.
E em 2013, no relatório AR5:
Human influence has been detected in warming of the
atmosphere and the ocean, in changes in the global water cycle, in reductions
in snow and ice, in global mean sea level rise, and in changes in some climate
extremes. This evidence for human influence has grown since AR4. It is extremely likely
that human influence has been the dominant cause of the observed warming since
the mid-20th century.
Noto que em nenhum lado se diz
“certeza absoluta”, mas fala-se de probabilidades, termos com definições
científicas.
Políticos e politização
O António
pergunta-me se os cientistas do IPCC não são cientistas. São, claro, mas o IPCC
não é apenas, nem sei se maioritariamente, científico. O IPCC é fortemente
político e os seus relatórios são escritos também por políticos que pediram,
para não dizer que exigiram, respostas simples. Respostas simples a um problema
complexo geram equívocos.
Não há nada neste mundo que não seja,
de certa forma, político. No entanto, acusar o IPCC de ser meramente um
instrumento político de enviesar os resultados científicos. é fechar os olhos
ao trabalho feito. O IPCC descreve
como prepara os relatórios e por quem são escritos. Não são escritos por
políticos (i.e, no sentido politicians,
não policy makers)
(realce meu):
Member governments, Observer Organizations and the
Bureau (Co-Chairs and Vice-Chairs) of the Working Group or Task Force producing
the report then draw
up lists of experts, from which the relevant Bureau or Bureaux
select the authors of the report. The Bureau may consider other experts known
through their publications and work. Scientists
who are nominated but not selected as authors are invited to register as expert
reviewers for the report.
The selection of authors is a careful process that
aims to reflect the range of scientific, technical and socio-economic expertise and to strike a good balance in terms of gender,
geographical representation, and representation of experts from developing
countries, developed countries and those with economies in transition. It is
also important to have a mixture of authors with and without previous
experience in the IPCC.
De facto, basta abrir um relatório
para ver quem são os autores - aqui fica um
exemplo de um dos últimos relatórios do grupo de trabalho 3,
demonstrando a preponderância de investigadores e académicos. Aliás, nesse
grupo de trabalho participa a portuguesa Joana Portugal
Pereira, a qual certamente poderá endereçar questões
concretas.
Contínua o Manuel:
Respostas simples
a um problema complexo geram equívocos. E, sobretudo, carregam de enviesamento
cognitivo a prática científica, concentrando-a, de modo arbitrário, numa
hipótese exclusiva. Exclusiva ao ponto de gerar situações tão vergonhosas, para
não voltar ao velho Climategate, como a que neste último Agosto todos pudemos
ler na reputada revista Nature, a saber, o pedido para banir ou de alguma forma
silenciar, negando-lhes acesso à imprensa, científica ou não, 400 cientistas,
divulgadores e comentadores acusados de não respeitar o chamado «consenso
científico».
Aqui há uma confusão entre
clarificação simples e respostas simples. Clareza na argumentação e na
apresentação dos dados não são respostas simples a problemas complexos. Os
relatórios são bem escritos e a clareza na exposição dos dados e das conclusões
é de grande qualidade; veja-se, por exemplo o sumário
para decisores das bases científicas. Mas nada do que é
exposto é simples. Aliás, os relatórios contêm análises das questões em aberto,
da do grau de qualidade e validade dos próprios resultados e das incertezas
associados, além de visões retrospectivas da evolução do conhecimento e dos
dados. O grupo de trabalho de mitigação não propõe soluções, simples ou
complexas, apenas avalia
o impacto de potenciais estratégias de redução dos factores que levam ao
aquecimento global antropogénico. O
senhor vai ter menor risco de enfarte se comer melhor e se fizer desporto. Cabe
a si decidir qual a solução de dieta e de como melhorar a forma física.
E porquê um enviesamento da prática
científica quando os relatórios compilam e resumem o status quo do
conhecimento científico? Além disso, ao longo das décadas, actualizam os dados
existentes, fruto das inegáveis melhorias nos sistemas e instrumentos de
aquisição de dados, bem como nas capacidades computacionais de modelação, e
ainda na constante revisão do conhecimento por parte da comunidade científica.
Há ainda outra questão: ao criticar a
comunidade científica que cria o consenso, o Manuel invoca, novamente o Climategate. Já com uma
década passada, o Climategate
foi uma reacção quase histérica a um simples acto que todos fazemos nas nossas
actividades do dia-a-dia, quando não estamos a produzir discursos públicos: usar
linguagem pouco rigorosa. Múltiplas
investigações ao processo revelaram que não era mais que
isso, e que não havia qualquer conspiração de cientistas para tornar opacos os
dados científicos ou para falsificar resultados e que, muito menos, nada do que
foi revelado invalida o conhecimento que temos das alterações climáticas.
Mais, na citação acima, o Manuel fala
de uma situação vergonhosa num artigo na revista Nature que pede “ para banir ou de alguma forma
silenciar, negando-lhes acesso à imprensa, científica ou não, 400 cientistas,
divulgadores e comentadores acusados de não respeitar o chamado «consenso
científico»”. Presumo
que esteja a falar deste artigo: Discrepancy in scientific authority
and media visibility of climate change scientists and contrarians. O artigo em questão analisa o impacto
mediático de cerca de 400 cientistas climáticos, com autoridade no tema das
alterações climáticas, quando comparado com o impacto mediático de 400
negacionistas (tradução livre de contrarian).
Não vou analisar a validade científica do método, mas a conclusão dos autores é
que os negacionistas têm uma exposição mediática maior que os especialistas, em
parte como sintoma do “síndroma Krugman” que acima descrevi. Perante os resultados, os autores opinam o seguinte:
These results demonstrate why climate scientists
should increasingly exert their authority in scientific and public discourse,
and why professional journalists and editors should adjust the disproportionate
attention given to contrarians
Em nenhum lugar e nenhuma frase –
repito, nenhuma – dizem os autores para “banir
ou de alguma forma silenciar, negando-lhes acesso à imprensa” ,
muito menos destes 386 indivíduos em particular. Mais a mais, mesmo que isso
fosse dito, isso seria meramente a opinião de três académicos, que vale o que
vale, ao contrário de, por exemplo, governos
impedirem os seus próprios cientistas de falar, como faz a
actual administração americana. Andrew Wakefield não tem o direito à mesma visibilidade
que o consenso científico quando fala de vacinas – não tem. Caro Manuel, não,
isto não é ciência soviética.
O João Miguel Tavares, na sua crónica
afirma que “No debate
sobre as alterações climáticas, a ciência está a ser esmagada pela política”.
Em certa medida está, mas a verdade é que o resultado actual das políticas
actuais energéticas não espelham necessariamente um ou outro lado da questão.
Por exemplo, nos EUA, Trump remove as imposições de eficiência energética nos
automóveis, e na Alemanha, compra-se mais gás natural à Rússia e mina-se mais
lenhite para compensar o – na minha opinião, absurdo – fecho das centrais nucleares.
Uma coisa é haver discussões de política acirradas, outra é dizer que a prática
da ciência está a ser instrumentalizada.
O discurso público está, no entanto,
polarizado – sim, é inegável. Como é inegável que algumas posições sejam, por
ventura, alarmistas.
Diz o João Miguel Tavares no Público:
E se eu não tenho
muito a dizer sobre alterações climáticas, esperando que os cientistas façam o
seu trabalho e testem em liberdade as suas teorias e modelos, já tenho alguma
coisa a dizer sobre a palavra “negacionista” aplicada a este tema, e o
fanatismo crescente que insiste em transformar hipóteses científicas, por mais
sólidas que sejam, em verdades absolutas – cometendo assim um duplo erro:
atacar de forma desmiolada o nosso modo de vida e a economia de mercado; e
adoptar um antropocentrismo velho como o mundo, que coloca a Terra a girar à
volta do Homem, como se nós dominássemos tudo aquilo que nos rodeia, e como se
um modelo climático pudesse ser confundido com a Palavra de Deus.
Nenhum cientista torna hipóteses em
verdades absolutas. Mas neste caso, segundo os melhores dados que temos,
trata-se verdadeiramente de uma questão de antropocentrismo. Nem o Universo,
nem a Terra giram à volta do Homem, é certo, mas é muitíssimo provável que a
nossa existência esteja a influenciar o clima da Terra. Trata-se de uma questão
de probabilidades.
Probabilidades
O ser humano é relativamente mau a
julgar probabilidades, i.e. temos dificuldade em lidar com acontecimentos que
não consideramos como garantidos e percepcionamos ameaças de forma mais
emocional do que racional. É por isso que continuamos a jogar à lotaria, ou se
uma lançarmos uma moeda cinco vezes e sair sempre caras, temos tendência a
apostar que à sexta vai sair cara novamente.
Nenhum consenso científico é
puramente racional, até porque a ciência lida com incerteza. Mas qualquer
consenso científico é, de facto, uma questão sobretudo probabilística. A
natureza da escala temporal do fenómeno das alterações climáticas é
completamente incompatível com a vida humana do dia-a-dia: não é algo tão
urgente como uma epidemia de VIH, ou Ébola, mas não ocorre a tão longo termo
como a tectónica de placas. Ainda assim, o que fizermos hoje pode ter efeitos a
longo prazo, e somos maus a avaliar a inércia inerente a um sistema.
Em qualquer notícia sobre eventos
climáticos em que um cientista é citado a afirmar que é provável que qualquer
coisa aconteça, há logo comentários exclamando: mas ele nem tem a certeza! A
verdade é que o público em geral lida mal com incerteza, e num problema com uma
potencial envergadura destas, queremos certezas, não estimativas. Mas a ciência
não funciona desse modo. E além disso, não estamos imunes
ao contexto e ao viés ideológico, na maneira com que lidamos
com essa incerteza:
Landrum and her colleagues demonstrated the effect
experimentally and reported the results in a 2017 paper in the Journal of Risk
Research entitled “Culturally Antagonistic Memes and the Zika Virus: An
Experimental Test,” in which participants read a news story on Zika public
health risks that was linked to either climate change or immigration.
Predictably, when Zika was connected to climate change, there was an increase
in concern among Democrats and a decrease in concern among Republicans, but
when Zika was associated with immigration, the effects were reversed.
Skepticism, it would seem, is context-dependent. “We are good at being
skeptical when information conflicts with our preexisting beliefs and values,”
Landrum noted. “We are bad at being skeptical when information is compatible
with our preexisting beliefs and values.”
Sim, os dados e os modelos têm
incertezas, mas à medida que vamos melhorando os nossos métodos, a incerteza
vai diminuindo.
Dar a palavra
Quando um criacionista se aproxima de
nós e diz que a terra não pode ter 4.54 mil milhões de anos, como o consenso
científico afirma, mas 6000 anos, porque o decaimento radioactivo de um
qualquer isótopo de um certo tipo de substrato geológico não bate certo com os
modelos, a reacção da maioria de nós é ignorar. Eu não sou geólogo e não sei
sequer como abordar o problema que ele coloca. Terá ele razão? Partindo do
princípio que não, serão os dados que ele reporta que estão errados? E
assumindo que os dados estão certos, será que a interpretação dos dados é que
está errada? E se tudo está certo, será que há, de facto, um erro num modelo
científico? Não sei. E é muito difícil para qualquer não especialista
contradizer, ponto por ponto, as alegações feitas por este indivíduo, sobretudo
quando são feitas usando linguagem técnica, verdadeira ou aparente.
E no entanto, não tenho problemas em
considerar que, com grande probabilidade, este indivíduo está errado. É
meramente baseado numa análise de risco, risco de que haja uma falha enorme no
raciocínio, uma vez que o consenso
científico tem um considerável nível de certeza que a terra tem 4.5
mil milhões de anos. Esse consenso não vem de um número de especialistas se
sentar numa sala e afirmar que acreditam numa ou noutra hipótese – não, o
consenso vem de um processo longo de produção e revisão de hipóteses, modelos, dados
e experiências baseadas no método científico. E como sociedade, nós escolhemos
confiar em estruturas de produção de conhecimento e técnica. Não se trata de
fé, mas sim de confiança. Da mesma forma que implicitamente confiamos em
técnicos de manutenção de aviões sempre que entramos numa aeronave, ou nos
informáticos que garantem que as notas que enfiamos num buraco numa parede vão
ser contadas e adicionadas à base-de-dados que chamamos conta bancária.
Ouvir as vozes contrárias é, em
princípio, muito bonito, mas qualquer pessoa que esteja no mundo da ciência –
ou tenha conhecidos – que é constantemente contactado por indivíduos com ideias
“revolucionárias”. Esqueçamos o clima, basta olhar para a física, e o que não
falta são pessoas com teorias que a segunda lei da termodinâmica está errada,
ou que finalmente desenharam uma máquina de movimento perpétuo.
Ser contrário, ou não-conformista na
academia não é fácil, mas também o é difícil em qualquer outra actividade
humana. De facto, na academia, há tenure
que, em certa medida, protege a independência dos indivíduos, garantindo-lhes
que não ficarão sem posto de trabalho por dizerem o que pensam. Recordo que,
quando estudava no MIT, em Boston, havia um professor
caricato
e um tanto ou quanto eremita, em parte porque tinha visões
pouco ortodoxas das causas do cancro (na Nature, também!),
defendendo que, com excepção da radiação solar, não são os factores ambientais
externos (incluindo o fumo do tabaco) que levam ao aumento da incidência de
cancro. Não tem um grande peso na comunidade científica e no entanto, ainda
hoje lá está, não perdeu o emprego e publica.
É tudo malucos?
Não conheço em profundidade Judith
Curry. Não sendo climatologista, não consigo analisar os seus argumentos
técnicos. Correndo o blogue dela, certamente que tem razão em algumas que
afirma, nomeadamente no tema da relação dos cientistas com o público e as
implicações políticas disso. Mas Curry vocifera, entre outras coisas, contra o
sistema de peer review,
i.e. a forma de publicar artigo científicos, baseada na decisão editorial de
revistas científicas e na revisão técnica por parte de pares. Tendo feito parte
da comunidade científica, não conheço um único cientista ou investigador que
não proteste e mencione as inúmeras falhas. E no entanto, tal como a
democracia, é o pior sistema com excepção de todos os outros.
Curry decidiu
retirar-se do circuito académico tradicional – ora, por
muitas razões de queixa que tenha, isto é tão alarmista como alguns dos
“alarmistas verdes”. É que ao retirar-se da academia, Curry rejeita o sistema
que temos para produzir ciência nas nossas sociedades modernas. Ela rejeita o establishment, e
infelizmente isso pode soar como qualquer outra teoria da conspiração.
Em 2010, quando
já se falava da sua atitude contra o establishment:
So it is important to emphasize that nothing she
encountered led her to question the science; she still has no doubt that the
planet is warming, that human-generated greenhouse gases, including carbon
dioxide, are in large part to blame, or that the plausible worst-case scenario
could be catastrophic. She does not believe that the Climategate e-mails are
evidence of fraud or that the IPCC is some kind of grand international
conspiracy. What she does believe is that the mainstream climate science
community has moved beyond the ivory tower into a type of fortress mentality, in
which insiders can do no wrong and outsiders are forbidden entry.
Tanto Curry como Viminitz
vociferam, entre outras coisas, contra a reacção do establishment aos contrários, e contra o
que eles proclamam ser o “pensamento único”. Curry, no entanto, em 2013 Curry
já dizia
que o IPCC falhava em oferecer “argumentação convincente de quanto do
aquecimento global foi causado por acção humana”, embora o corpo de
conhecimento sumariado pelo IPCC atribui com grande probabilidade que os
humanos são responsáveis por mais de metade do aumento de temperatura da terra
desde 1951:
Viminitz (num exercício que considero
pouco interessante), por exemplo, indaga sobre o tal número de cientistas que
suportam o consenso:
Terceira pergunta:
97% de que cientistas? E quarta: eles confirmaram o AGW pelos seus próprios
meios e de forma independente ou acreditam nessa noção pelos mesmos meios que
todos nós? Afinal de contas, um cientista informático é um cientista, mas o que
é que ele sabe de climatologia?
As respostas a estas perguntas estão
documentadas e acessíveis. E no entanto, Viminitz apenas as deixa no ar, como
que a gerar uma suspeição que esconde uma falácia. (Já agora Manuel, neste caso
“Patch”
não é um programa de computador, mas a indústria das
areias petrolíferas do Alberta ).
A questão do “pensamento único” não
deixa de ser uma discussão interessante, mas, a nível fundamental, resta saber
se a ciência está substancialmente correcta ou não. Aí, Curry, como cientista,
concorda com muita coisa e descorda de algumas, e, por extensão, é contra um
alarmismo, que assegura ser injustificado. Recorde-se que, no lado oposto do
espectro, também há cientistas que afirmam que as conclusões do IPCC são demasiado
conservadoras e quem preveja, que o impacto
económico previsto está longe do que se vai passar na
realidade. De facto, a acusação de “pensamento único” só é sequer considerada
neste caso pelo facto de que há uma discussão pública em curso, altamente
polarizada e que depende da interpretação dos resultados científicos.
Será que a ciência está certa? Estará
errada? Até mesmo esta resposta é, para um não-especialista, difícil de dar,
porque a pergunta resvala para: qual ciência? Além do mais, porque aquilo que
cada vez mais se debate – o impacto das alterações climáticas – é baseado num
amontoar e num encadeamento de inúmeros resultados e análises com variados
níveis de (in)certeza.
Curry, num testemunho
ao Congresso norte-americano, no início deste ano dizia:
Climate scientists have made a forceful argument for a
future threat from manmade climate change. Based upon our current assessment of
the science, the threat does not seem to be an existential one on the time
scale of the 21st century, even in its most alarming incarnation. However, the
perception of manmade climate change as a near-term apocalypse and alignment
with range of other social objectives has narrowed the policy options that
we’re willing to consider.
Effectively responding to the possible threats from a
warmer climate is challenging because of the deep uncertainties surrounding the
risks both from the problem and the proposed solutions. The wickedness of the
climate change problem provides much scope for disagreement among reasonable
and intelligent people.
Mesmo que se o que afirma esteja
correcto, podemos discutir se precisamos de esperar por uma ameaça existencial
ou não. E se o problema é complexo, levando “disagreement
among reasonable and intelligent people”, a verdade é que também já
conduziu a muita concordância, concordância que leva à tal conclusão de que “ Climate scientists have made a
forceful argument for a future threat from manmade climate change. ”.
E a discordância é difícil de
avaliar: tal como no caso do creacionista acima, é praticamente impossível, sem
um grande esforço e elevadas competências técnicas, distinguir, sequer, a
validade do objecto da discórdia. Rapidamente se entra numa discussão altamente
técnica. Veja-se por exemplo o gráfico abaixo, retirado de um site
de uma agência governamental americana:
Atmospheric carbon dioxide concentrations in parts per
million (ppm) for the past 800,000 years, based on EPICA (ice core) data
Conclusão: o dióxido de carbono na
atmosfera está a níveis nunca antes vistos nos últimos 800 mil anos. E no
entanto, os detractores dizem que o gráfico é inválido, ou porque os dados não
são comparáveis (os dados antigos são obtidos através de bolhas de ar presas em
gelo antártico, enquanto os modernos são medidos directamente), ou porque o
local não é representativo do planeta inteiro, ou porque a resolução dos dados
antigos filtra eventos pontuais e logo o que estamos a ver pode ser um mero
evento pontual. Quem é que está certo?
Esta é uma discussão muito técnica,
sobre um fenómeno muito fundamental na análise climática. E no entanto, podemos
facilmente passar para o lado oposto do espectro: mesmo se a ciência
fundamental estivesse resolvida, passaríamos a debater as projecções e da
estimativa dos impactos. Poderíamos ainda continuar a seguir o curso que os
resultados científicos levam à medida que amadurecem na consciência colectiva
humana: como é que a ciência chega ao público e aos decisores públicos, e como
é que fazem uso dessa ciência?
Este texto já vai longo, mas aqui
entramos por questões eminentemente políticas: qual a acção que tomamos perante
dados incertos, e qual é o custo-benefício dessa acção.
Conclusão
É provável que de vários lados da
discussão haja alarmismo e incorrecções, mas o consenso científico é a amálgama
do corpo de conhecimento que temos. Chegamos lá através dum caminho tortuoso e,
com certeza, com muitas imperfeições. As implicações da ciência são depois
trazidas para a praça pública num “parto” ainda mais difícil.
O consenso científico não é mais que
o julgamento da pequena (ou grande maioria) da comunidade científica acerca de
um determinado fenómeno. Compilar e resumir tamanho corpo de conhecimento, que
permanece em constante crescimento e que abrange inúmeros domínios da ciência é
uma tarefa extremamente complicada. No entanto, a ideia de que o consenso da
comunidade científica global consegue ser manipulado, consciente ou
inconscientemente, é, no melhor dos casos, algo muito pouco provável. E no pior
dos casos, uma teoria de conspiração. Há ainda que considerar que a maioria do
“negacionismo”, não tem origem em elementos da comunidade científica.
O consenso também não é, nem nunca
será sinónimo de unanimidade, mas a ciência nunca precisou que fosse. E o
actual consenso acerca do aquecimento global pode ser resumido da seguinte
forma:
-
O aquecimento da Terra nas últimas décadas
é inequívoco;
-
O nível de dióxido de carbono na atmosfera
está a níveis nunca vistos nos últimos 3 milhões de anos (e a subir);
-
A última vez que os níveis de CO2
estiveram tão elevados, a Terra estava cerca 2.8ºC mais quente e o nível do mar
entre 10m a 20m mais alto;
-
O aumento de CO2 de atmosfera é, com
95%–100% de probabilidade, causado por actividades humanas;
-
O aumento continuado de CO2 na atmosfera
aumentará a probabilidade de ocorrência de impactos climatéricos mais severos;
-
Nunca os humanos viveram de forma contínua
em situação climática idêntica.
Sim, a temperatura da terra já esteve
mais alta e a concentração de CO2 já foi tão ou mais elevada. Mas alterações
tão bruscas da concentração de CO2 são tipicamente causadas por eventos
catastróficos como erupções vulcânicas massivas. E esses eventos de aumento de
temperatura rápidos estão geralmente associados a acontecimentos altamente
destrutivos como o aumento do nível do mar, acidificação dos oceanos ou largas
zonas oceânicas pobres em oxigénio, como já estamos a observar agora.
Vivo na Suíça. Há tempos fui visitar
o Aletsch, um dos maiores glaciares na Europa. O derretimento do gelo pode ser observado
sem grande dificuldade e sem ter que se esperar muito. Mas na altura fiquei impressionado
com a seguinte fotografia de 1865 a que sobrepus uma fotografia recente. As
linhas vermelhas mostram a superfície do gelo há século e meio atrás e o estado
do local nos dias de hoje:
O glaciar Aletsch, na
Suíça, em 2010 (direita) e 145 anos antes (esquerda).
Desde há 150 anos que o glaciar
perdeu cerca de 20% da sua massa de gelo, consideravelmente menos que outros
glaciares nos Alpes que já perderam 50%.
E no entanto, é difícil ter uma noção
da escala. Por isso coloquei uma pequena seta, em baixo a indicar um local que
há 150 anos estava sob cerva 200 metros de gelo, e que agora tem uma ponte
suspensa, a 150 m do leito do rio Massa:
Parte do problema com que nos
deparamos é precisamente esse: ter uma noção da escala. A magnitude daquilo com
que nos deparamos é extraordinária, tanto pela potencial escala dos impactos
como pela inércia (no sentido da Física) inerente ao fenómeno.
Custa ainda mais acreditar na crítica
aos que propõem que se faça qualquer coisa, como se o investimento na
reorientação das nossas economias para não mais estarem baseadas nos
combustíveis fósseis fosse algo nefasto. Como já vários afirmaram, a idade da
Pedra não acabou por termos ficado sem pedras.
Francisco Feijó Delgado
Desculpem a impaciência, mas quando leio textos como este so me apetece pedir que parem com a desconversa.
ResponderEliminarAcaso esta algum cientista preso por tentar demonstrar que o aquecimento não existe, ou que não se deve à acção do homem ? Conhecem algum estudioso que tenha sido pressionado para não fazer investigações com vista a tentar demonstrar uma dessas hipoteses ?
E, ja agora, conhecem quem tenha sido preso, vilipendiado, ou atacado, pelo simples facto de ter dito que tinha duvidas e que iria procurar inteirar-se por si proprio ?
Eu não conheço.
O que se discute, não é se é possivel, ou desejavel, haver quem procure demonstrar que o consenso cientifico de hoje esta errado, ou assenta sobre dados errados. E' possivel, é desejavel. Assim é que a ciência avança.
Agora, enquanto a comunidade cientifica continua convencida, na sua larga maioria, que existe aquecimento e que existe uma forte probabilidade que a acção do homem possa ter tido influência (e que possa vir a ter uma influência inversa), é justificado exigirmos que as decisões politicas sejam tomadas como se houvesse uma incerteza absoluta sobre a questão ?
Esta é que é a pergunta, e não outra.
Se querem por força chamar à baila o negacionismo historico, então a pergunta assemelha-se com a seguinte : "assumindo que é licito, perfeitamente possivel, e mesmo desejavel, que estudiosos de historia procurem verificar a base documental que existe sobre os nossos conhecimentos acerca da segunda guerra e do Holocausto, sera que o facto de haver um ou outro historiador que diz ter duvidas sobre a realidade do acontecimento, ou sobre a sua amplitude, chega para modificarmos os livros atravês dos quais ensinamos historia na escola ?"
Por favor. Conversem. Façam ciência. Se virem bons argumentos para pôr em causa o consenso sobre o aquecimento, ponham-nos ai, expliquem-nos. Nos agradecemos. A sério. Eu não tenho nenhum problema em dizê-lo. Alias, eu vou ver o que escrevem os cépticos. E acho bem que eles se expliquem. Asssim é que deve ser.
Devo mesmo dizer que o que mais me convence que eles exageram, neste momento, é que 4 em cada 5 dos seus textos, não contêm argumentos cientificos, mas antes falacias sobre pretensos "complots" e "tentativas de silenciamento" que são muito pouco convincentes.
Portanto não desconversem por favor.
E se por acaso existe uma afirmação no meu comentario com que discordam, por favor, digam qual é.
Por favor, e também por amor da ciência. E, ja agora, por amor da boa politica.
Boas
Relendo o meu comentario acima, temo que não tenha ficado bem claro que a minha exasperação não se dirige ao texto do post, mas antes ao que o texto procura denunciar de forma pormenorizada e bem argumentada.
ResponderEliminarBoas
Cito:
ResponderEliminaro actual consenso acerca do aquecimento global pode ser
resumido assim:
1) O aquecimento da Terra nas últimas décadas é inequívoco;
2) O CO2 está a níveis nunca vistos nos últimos 3 milhões
de anos (e a subir);
1)
Isto é muito enganador porque só refere as últimas décadas... descuido, ignorância, má fé?
Temperatures have been rising since the 19th century (after the unexplained! 150 year long Little Ice Age, the Roman Optimum, and other misterious such episodes), with three decades-long pauses, and at the same rate (it hasn't accelerated). Sublinho: at the same rate, apesar de metade do CO2 antropogénico ter sido emitido nos últimos 30 anos...
In the 1970s, the big scare pushed (and demonstrated...) by science crooks was that the next ice age had begun (a reasonable prediction, as it is almost overdue), it even made the NYTimes front page. Hahaha!
Measuring physical parameters is not a matter of opinion, it's about careful & skeptical reading of thermometers & other instruments. There are large uncertainties extrapolating back to times when there were no reliable measurements. But 90% of the public is easily fooled by science crooks, and the public loves to be scared.
2)
Sabem que a concentração de CO2 na atmosfera é pequeníssima? que 80% do CO2 está dissolvido nos oceanos, que o libertam quando aquecem no fim das glaciações? Houve quatro nestes 400 mil anos, bem documentadas nos tarolos glaciares. O pico de CO2 vem uns mil anos depois do fim da glaciação, porque os oceanos demoram algum tempo a libertar o CO2 dissolvido. Qualquer pessoa normal pode entender estas coisas bem documentadas e explicadas em muitos sites, mas dá algum trabalho, é mais fácil filosofar.
Recent contrarian stuff unreported by the fake news, from one site, but there are many more:
https://principia-scientific.org/500-expert-skeptics-rattle-europes-climate-cage/
https://principia-scientific.org/top-level-climate-modeler-exposes-nonsense-of-global-warming-crisis/
https://principia-scientific.org/global-warming-fraud-exposed-in-pictures/
Mais lúdico, 12 minutes no YouTube:
https://youtu.be/8455KEDitpU
500 belzebus Satan Data fraudsters
"Sabem que a concentração de CO2 na atmosfera é pequeníssima? que 80% do CO2 está dissolvido nos oceanos, que o libertam quando aquecem no fim das glaciações? Houve quatro nestes 400 mil anos, bem documentadas nos tarolos glaciares. O pico de CO2 vem uns mil anos depois do fim da glaciação, porque os oceanos demoram algum tempo a libertar o CO2 dissolvido. Qualquer pessoa normal pode entender estas coisas bem documentadas e explicadas em muitos sites, mas dá algum trabalho, é mais fácil filosofar."
ResponderEliminarTanto disparate num so paragrafo que nem sei por onde comecar...
- O maior reservatorio de carbono, sao as rochas carbonatadas.
- Os oceanos liberam CO2 no fim das glaciacoes? Isto e um disparate completo, inaceitavel num aluno de 1o ano. Agua do mar fica entao sobresaturada em relacao CO2 no fim das glaciacoes? Isso significa que a agua do mar no final das glaciacoes e essencialmente agua das Pedras! Tem nocao da enormidade que escreveu?
- Sugerir um site como o "principia-scientific.org", que publica afirmacoes ao nivel do xamanismo, por exemplo, afirmando que o CO2 nao e um gas de efeito de estufa, e de se bradar.
Deixo aqui uma analise ao perfil cientifico do Principia Scientific, quem o gere, as suas afirmacoes e accoes tomadas: https://www.desmogblog.com/principia-scientific-international
Deixo outro rebucadinho da PSI: "In 2013, PSI also began to promote unfounded claims that wind turbines make people sick and that childhood vaccines were “one of the largest most evil lies in history.” [9]
Portanto, citamos aqui como fonte cientifica um site que diz que as vacinas sao uma catastrofe humanitaria e os moinhos electricos de vento causam doencas.
A perspectiva de JMMAlmeida nao e seria. Isto e uma perda de tempo.
Aqui esta um dos "cientistas" que negam a coisa, unico director activo da PSI:
ResponderEliminarJohn O'Sullivan
Credentials
Credentials heavily contested. No reliable source available.
Background
John O'Sullivan is a UK-based climate denialist blogger, writer and the sole active director of Principia Scientific International - a membership group promoting fringe views on climate change science and role of carbon dioxide in the atmosphere. O'Sullivan, a former school teacher, claims the greenhouse effect caused by carbon dioxide is unproven and that human-caused climate change is a “fraud”.
Fantastico. Equiparar um blogger e professor do ensino basico, a cientistas do IPCC.