Esta é uma história triste, que talvez não acontecesse cá. Não porque fosse
impossível os dois membros de um casal morrerem de Covid, como aconteceu a José
Luís e a Pilar. Mas, Portugal, em Portugal há um ódio às varandas, que ora são
confinadas a alumínio, ora são recicladas para armazém de tralha a céu aberto,
ora são pura e simplesmente abandonadas, salpicadas aqui e ali por plantas
tristes. Madrid não é assim, pois os espanhóis sabem gozar a vida – e gozar uma varanda
ao sol é gozar a vida. E a varanda de Pilar e José Luís era um assombro, dizem,
um jardim suspenso mais do que babilónico, no coração do bairro de Embajadores.
Morreu ele primeiro, aos 71 anos. A seguir foi ela, dias depois, com 70 anos.
Gostavam da vida, ambos reformados, ele a dar aulas de guitarra, ela,
ex-modista, a vestir-se vaidosa, de sevilhana, bailando zarzuelas. Depois, a
existência a dois, anos a fio, a ida juntos à missa, os pinchos
de tortilla no bar do rés-do-chão do prédio, os risos e os amigos. Morreram
um, depois o outro – e o jardim foi a seguir. É hoje uma imagem imensamente
triste, pungente, a varanda mais triste de Madrid. E quando Madrid está triste,
o mundo chora.
Uma imagem que nos remete para uma reflexão profunda. Maldito covid-19. Maldito sejas...
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Tenha uma terça-feira muito feliz
Deixando uma 🌹
Os vizinhos deviam poder ir lá regar os vasos ou distribuí-los pelas varandas deles, em jeito de homenagem ao casal e para deixar Madrid e o mundo menos tristes.
ResponderEliminar~CC~