Conspiração
Nazi,
por Brad Meltzer e Josh Mensch, Casa das Letras, 2023, é um belo exercício
pedagógico sobre acontecimentos das Segunda Guerra Mundial com início no ataque
japonês a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941 e culminando com o falecimento
do presidente Franklin Roosevelt em abril de 1945. Os dois autores têm créditos
na ficção e na História e até nos argumentos para televisão. Esta narrativa
aparece centrada num caso que ainda hoje não está historicamente comprovado: a
existência de uma tentativa dos serviços secretos alemães para liquidarem no
decurso da Conferência de Teerão (1943) os principais dirigentes dos EUA, URSS
e Reino Unido. O que é verdadeiramente empolgante na obra, e não hesito em
recomendá-la ao leitor interessado em conhecer os episódios fundamentais da
Segunda Guerra Mundial entre 1941 e 1945 é a cadência dos acontecimentos, como
Roosevelt, ciente do isolacionismo norte-americano, pretendia apoiar a
Grã-Bretanha, a potência europeia que resistia às conquistas de Hitler; o Japão
imperial, que assinara em 1940 o Pacto do Eixo com a Alemanha e com a Itália,
pretendia conquistar espaço no continente asiático, os líderes militarias
conceberam uma operação que trouxessem o confronto com os EUA e conceberam uma
operação de destruição da frota naval norte-americana sediada em Pearl Harbor;
em consequência deste triunfo japonês, Roosevelt passou a ter argumentos
sólidos para entrar na guerra, o que trouxe enorme contentamento a Churchill,
isto num tempo em que Hitler desencadeara, e até ao tempo com sucesso, a
invasão da URSS; o mesmo Hitler vai cometer uma medida fatal, em 11 de dezembro
declara guerra aos EUA, a guerra passa a ser efetivamente mundial.
E
os autores vão estimulando o leitor com a concatenação dos factos: a reunião de
Churchill e Roosevelt em Casablanca, em janeiro de 1943, aperta-se o cerco ao
Eixo no Mediterrâneo, os dois lideres democráticos já falam em rendição
incondicional das potências do Eixo; nesse mesmo mês, o Japão ainda goza de uma
posição proeminente, depois de ter provocado o desastre em Pearl Harbor, conquistou
Guam, Hong Kong, as Filipinas, as Índias Orientais holandesas, a Malásia,
Singapura, a Birmânia e outros países do Pacífico ou antigos territórios
europeus, mas nesta altura já têm dificuldades e nesse mesmo mês de janeiro de
1943 as tropas de Hitler sofrem um revés fatal, um exército inteiro sai
derrotado em Estalinegrado. A narrativa vai intercalando factos relacionados
com a presença da espionagem alemã no Irão, onde desde 1941 estão presentes a
Grã-Bretanha e a URSS; é dentro desta intercalação de factos que o leitor vai
tomando conhecimento de preparação do Holocausto, de como os serviços secretos
norte-americanos liquidaram o almirante Isoroku Yamamoto, isto ao mesmo tempo
que o agente alemão Franz Mayr, vivendo na clandestinidade, passa a ter um
papel importante para os serviços em Berlim, ao tempo pensava-se em operações
de sabotagem no Trans-Iraniano, cujos comboios transportavam ajudas para a
URSS; é a vez da Itália baquear, é montada uma operação para libertar
Mussolini, é encarregado dessa operação Otto Skorzeny, um êxito, o líder
fascista ficará refém dos projetos alemães, que entretanto vão resistindo aos
avanços em Itália, depois de terem dominado a Sicília; Roosevelt está empenhado
em conhecer pessoalmente Estaline, troca farta correspondência com o ditador
soviético, este vai atrasando o encontro justificando-se pela necessidade
premente de estar a conduzir a guerra contra os alemães, mas depois de várias
propostas para o local de encontro opta-se por Teerão, Churchill comparecerá à
conferência, vamos, entretanto, tomando conhecimento da vida aventurosa que a
espionagem alemã tem em Teerão até à prisão de Mayr. Restam dúvidas se Skorzeny
tenha sido nomeado por Hitler para a Operação Anton, destinada a lançar
paraquedistas nas regiões tribais no Norte do Irão, muito mais tarde, Skorzeny
negará tal nomeação; vamos igualmente acompanhando os encontros entre Churchill
e Roosevelt, Estaline vai pedindo insistentemente que se abra uma segunda
frente, ele considera secundária a frente italiana, exige aos seus parceiros a
abertura de uma frente esmagadora a partir do Norte da França, Churchill está
profundamente reticente; como num bom romance de espionagem vamos assistindo ao
desmantelamento do grupo de espionagem alemã em Teerão, Roosevelt viaja para o
Egito e depois ruma para Teerão, estamos em novembro de 1943; vamos ter agora
as peripécias do encontro, a notícia dada pelos serviços secretos soviéticos de
que os três líderes correm perigo de vida e como Roosevelt aceita ficar num
espaço da embaixada da URSS em Teerão, iremos assistir aos confrontos verbais,
à tomada de decisão da abertura da segunda frente, à festa do aniversário de
Churchill em 30 de novembro, Roosevelt está satisfeito com os resultados da
conferência, regressa aos EUA, depois a imprensa irá falar na descoberta
soviética de uma conspiração, segue-se o desembarque da Normandia, e antes de
Hitler se suicidar no bunker em Berlim, em 30 de abril de 1945, Churchill
falece a 12 de abril.
Reconheça-se
a honestidade dos autores em revelarem que a investigação é inconclusiva quanto
aos fundamentos da conspiração nazi. Uma das paranoias do ditador soviético era
sentir-se ameaçado por tentativas de assassinato, tanto assim é que quando sai
de Moscovo para a Conferência de Potsdam (o presidente dos EUA é então Truman)
as medidas de segurança tomadas ultrapassam o delírio, milhares e milhares de
militares soviéticos estão de vigilância na linha de caminho de ferro. Porque
uma das teses de explicação para a alegada denúncia da conspiração nazi pelos
soviéticos era de que Estaline não só preservava a sua máxima segurança como
pretenderia escutar secretamente Roosevelt durante o encontro, espalhando
escutas pelas instalações ocupadas pelos norte-americanos. Nada fica
demonstrado e, francamente, o que mais apraz enaltecer é a admirável capacidade
narrativa dos dois autores que permitem a leigos embrenharem-se nos bastidores
e no palco iluminado da Segunda Guerra Mundial, particularmente no
relacionamento entre Roosevelt, Estaline e Churchill que, por obra do acaso, se
encontraram em finais de novembro de 1943 em Teerão e acordaram a decisiva
etapa seguinte de criar uma tenaz para esmagar o poderoso exército alemão,
conduzindo o nazismo ao colapso, tal como aconteceu. Quanto à conspiração nazi
montada em Berlim e desenvolvida em Teerão, não passa de uma conjetura,
habilidosamente trabalhada por dois autores exímios em dominar a técnica do best
Zeller e de nos oferecer uma leitura absorvente, sem tirar nem pôr.
Mário Beja Santos
Uma simples nota: Churchill não faleceu a 12 de Abril de 1945, conforme vem no texto acima publicado. Quem faleceu nessa data, foi Roosevelt.
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