Jaime Quesado, quando jovem
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Apesar
de ter rosto e feições humanas, o Dr. Jaime Quesado, como sabemos, não existe.
O que existe é um sucedâneo da Máquina de Turing, a Máquina de Quesado, também
conhecida na gíria informática por Quesador. Feita de lata, de uma grande lata, o Quesador gera
automaticamente textos, com sujeito e predicado, mas num dialecto próprio, o quesadês,
que é uma linguagem empreendedora e tecnológica que ninguém percebe. Se alguém
conseguisse ler o idioma quesadês rapidamente se daria conta que o Dr. Jaime Quesado
anda há anos a reciclar os mesmos textos, ipsis
verbis. A sinergia perfeita. Ou, para falarmos sério, o auto-plágio
descarado.
Segundo
consta, o Dr. Quesado é presidente de uma coisa chamada ESPAP – Entidade de
Serviços Partilhados da Administração Pública. De facto, o nosso Jaimito tem
partilhado à farta os seus serviços em diversos jornais e outras publicações de
grande tiragem. Como nenhum editor os lê, ninguém se apercebe de que os textos-Quesado
são um fraudulento negócio consigo mesmo,
mantido ao longo de anos e anos de convívio público. Fernando Pessoa tinha heterónimos, Jaime
Quesado basta-se a si próprio. Ele há Quesado nas versões 2.0, 3.0, 4.0, 5.0 e por
aí fora, mas a base é sempre a mesma, desdobrada em notável intertextualidade.
Mais do que um cronista, um grande clonista.
A
isto chama-se «empreendedorismo». Ou, se preferirmos, «inovação». Inovação
tecnológica, mais precisamente. É só ir à pasta de arquivo do laptop, encontrar um texto com uns cinco
ou seis anitos, e num ápice voltar a carregá-lo, revigorado e fresquíssimo, para as
páginas de um jornal.
Ainda
ontem, nas entranhas do Público, o
Dr. Quesado escreveu esta maravilha:
A sagacidade destas observações fez-me lembrar que já as tinha
lido algures. Um discurso de Churchill, uma proclamação de Mandela? Não, um
artigo de Jaime Quesado. De 2007, no Jornal
de Negócios. Exactamente. Aqui vão pérolas:
Mais
adiante, no Público de ontem, o
Quesador volta a actuar com extrema eficácia. E diz, aos leitores incautos:
Olaré, já
tínhamos lido isto em qualquer lado… Pois claro, no histórico artigo de 2007 do
Jornal de Negócios. Descubra as
diferenças:
Para
os que estão de férias e querem um passatempo divertido, é prosseguir a
comparação destes dois artigos, ou dos muitos que o Quesador tem gerado. Em 22
de Outubro de 2007, nas páginas do Jornal
de Negócios:
Agora,
neste flamejante Agosto de 2015, no Público:
O copy/paste é tão escandaloso que, em ambos os textos, até os
erros de português se repetem. E isto, claro, sem que nenhum editor note.
Repetimo-lo: ninguém é capaz de entender o dialecto quesadês. Daí que no Jornal de Negócios de 2007 lá apareça «aptência»,
e ontem, no Público, se reincida na
calinada: «aptência».
Desengane-se quem julgar que foi um delito isolado, um deslize preguiçoso
típico da silly season. O doutor Quesado,
apesar de se apresentar como especialista em inovação, inova pouco. Não gosta,
dá trabalho. E, sendo boas as ideias e melhores as frases, que razões existem
para não repeti-las vezes sem conta? Ninguém nota, ninguém lê. De facto, quem tenha
fôlego para mergulhar neste mar de vulgaridades
não
demorará muito a perceber que é igual a este oceano de lugares-comuns.
E, atenção, estamos só a citar um trecho, para não maçar os leitores. Um artigo
é de Julho de 2015, no Económico,
outro saiu no Sapo, em Fevereiro de 2011. Quatro anos de diferença, mas a prosa mantém-se
igual, linha a linha, palavra a palavra. Equipa que ganha não muda.
Jaime,
chupista sonâmbulo, é até capaz de publicar o mesmo texto no mesmo jornal. É
obra. Em 8 de Abril deste ano, saiu no Económico
opinião de Quesado. Título? «A aposta nas pessoas». Em 6 de Fevereiro de
2012, saiu, também no Económico, um
artigo que se chamava… «A aposta nos talentos».
No
texto de 2015, opina Quesado:
No outro texto, publicado quatro anos antes no mesmo jornal, escrevia Jaime:
Por vezes, o Quesador comete a proeza de fazer uma tripla. O
mesmo texto aparece-nos em três lugares diferentes. Quem comprou o Económico de 22 de Julho de 2011
certamente terá recordado o que Quesado escrevera em 4 de Outubro de 2007 no Jornal de Negócios. Retumbante, originalíssimo, e também saído no Sapo, aqui.
Discorre Quesado – pasme-se – sobre a «classe criativa» (o que, manifestamente,
não é o seu caso). Assim:
Quesado
não se repete, as pessoas é que não o lêem. O mesmo naco de prosa tanto serve
para evocar a personalidade de Diogo Vasconcelos como para falar da região do
Vale do Minho 2.0 (!)
No
Público, 8 de Julho de 2015:
Agora, no verdejante Vale
do Minho Digital:
O
exercício é simples, mas só acessível a quem tem talento e audácia – ou uma grande lata. Onde estava «Vale do Minho» substitui-se por «Diogo Vasconcelos», vai ao
Quesador, cinco minutos ao forno, e já está, temos texto. Ou, melhor, temos
textos, muitos e vários, já que o artigo que saiu o mês passado no Público diz:
E
o que dizia Jaime Quesado sobre Diogo Vasconcelos um artigo saído anos antes, em Julho
de 2011, no Jornal de Negócios?
E há
mesmo registo de autogolos com oito anos de diferença, envergando camisolas de
diversos clubes.
A jogar no
plantel do Público, época de 2015:
Defendendo
as cores do Jornal de Negócios, época
de 2007:
Com
oito anos de diferença, as mesmas frases, inteirinhas, as mesmas ideias – ou a falta
delas. Temos outros casos, todos bons, de que se dá só mais um exemplo. Seis anos
separam estas reflexões. Sendo ambas proactivas e muito inovadoras, para quê mudar?
Isto
foi no Jornal de Negócios, em 15 de
Abril de 2009. Agora, no Económico,
de 18 de Junho de 2015. Vira o disco:
A questão-Quesado é séria e grave. O problema não está num especialista em inovação e criatividade ser um auto-plagiador compulsivo. O problema é que uma opinião, emitida desta forma, não tem nenhum valor. Compra-se um jornal, paga-se pelo papel impresso, esperam-se ideias, boas ou más. Ora, se se diz a mesma coisa sobre Diogo Vasconcelos e o Vale do Minho, em que ficamos? «A ausência da prática de uma “cultura de cooperação” tem-se revelado mortífera para a sobrevivência das organizações e também aqui Diogo Vasconcelos foi sempre muito claro.» (Público, Julho de 2015). «A ausência da prática de uma “cultura de cooperação” tem-se revelado mortífera para a sobrevivência da Região.» (Vale do Minho Digital). Se se escreve exactamente a mesma coisa, sem tirar nem pôr, sobre Diogo Vasconcelos e o Vale do Minho, se se publica o mesmíssimo artigo sobre Diogo Vasconcelos no Jornal de Negócios, de Julho de 2011, e no Público, de Julho de 2015, que valor ou interesse tem o que se opina, o que se diz ou escreve? Zero, nada. Aos editores dos jornais, por respeito aos compradores, aconselha-se que, antes de os publicar, façam uma passagem dos textos de Quesado pelo Google. Descobrirão maravilhas. Agora saber como é que uma pessoa que assim procede, copiando-se vezes sem conta, ludibriando os seus leitores, tem condições para presidir a um alto cargo da Administração Pública… isso é outra conversa, ainda mais séria e mais grave.
António Araújo
"tem condições para presidir a um alto cargo da Administração Pública"
ResponderEliminarUm cargo? Atentem no CV do Sr.; é todo um rol de cargos na Administração Pública
A destruição de um escrevinhador...
ResponderEliminarImpressionante como não se consegue retirar uma ideia que seja do aglomerado de palavras que Quesado atira para cima de cada artigo
ResponderEliminarO Quesado levou um murro pesado.
ResponderEliminarO Quesado levou um murro pesado.
ResponderEliminarAnónimos como esse quesado não me impressionam, nem na sua poltronice. Já os directores de jornais que lhe publicam as bostas, pela função e nunca pela decência, deixam-me perplexo. Bárbaras destes medíocre país, porque não arrumais as botas e vos dedicais ao 'empreendedorismo', à 'Inovação'? Novos ensaios clínicos para a oligofrenia esperam por vós.
ResponderEliminarLembro me deste tipo há uns anos. Acho que era professor. A minha intuição levou me a fugir dele como o diabo da cruz.
ResponderEliminarMuito bem, Malomil!
Oh, Quesado, embrulha, pá!
Picareta escrevinhadora!
ResponderEliminarQuem sabe, não será este Quesador o mentor do discurso redondo do Costa da Quadratura do Circulo!
Picareta escrevinhadora!
ResponderEliminarQuem sabe, não será este Quesador o mentor do discurso redondo do Costa da Quadratura do Circulo!
já um homem não pode manter-se coerente com as suas linhas!! cambada de maldizentes!!
ResponderEliminarSerá que uma mentira repetida muitas vezes se torna verdade?
ResponderEliminarParabéns por se dar ao trabalho e apontar à mediocridade!
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ResponderEliminarElementar caro Malomil :
O Quesador não passa de um gerador de Lorem Ipsum na língua de Camões, portanto muito util às publicações de que fala quando necessitam de preencher espaços em branco.
Q.E.D.
O Porta da Loja já o tinha topado em 2012, no ano passado também eu tropecei na criatura:
ResponderEliminarhttp://cronicasdealemtejo.blogspot.com.es/2014/02/o-auto-plagio-ou-genio-incompreendido.html