Jorge e Mécia de Sena com Rui Knopfli
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Foi por ocasião de um colóquio
realizado na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, sobre literatura do
mundo lusófono. Entre vários outros conferencistas, vindos das Américas e da
Europa, encontrava-se também o Professor
Fernando Cristóvão, da Universidade de Lisboa.
Pelo fim do primeiro dia do colóquio, a D. Mécia de
Sena aproximou-se de mim e perguntou-se se era verdade que o Professor Fernando
Cristóvão era padre. Que sim: que era, e muito digno - confirmei eu.
Foi então que a D. Mécia, com aquela delicadeza que
lhe é tão peculiar, me pediu se eu lhe podia fazer o favor de perguntar ao
Professor Fernando Cristóvão se ele podia celebrar uma missa pela alma do
marido. Naturalmente que a minha resposta foi que sim: que teria o maior prazer
em fazer essa pergunta e esse pedido ao Prof. Fernando Cristóvão, bom colega e
excelente amigo.
O pedido foi feito e prazenteiramente aceito. E na
manhã do dia seguinte lá nos encaminhámos os três – a D. Mécia, o Prof.
Fernando Cristóvão e eu – para a igreja católica onde se celebrara a missa de
corpo presente por Jorge de Sena, em Junho de 1978: Our Lady of Sorrows, na
cidade de Santa Bárbara, estado da Califórnia.
Celebrada a missa, a que eu ajudei (depois de tantos
anos afastado da igreja, e a viver numa fase de agnosticismo, ainda não me
tinha esquecido completamente de como se ajudava à missa), dirigimo-nos ao
Calvary Cemetery, de Santa Bárbara, fundado em 1896, assim como a igreja Our
Lady of Sorrows, pelo padre jesuíta belga Polydore Stockman, famoso
especialista em botânica. Situado nas Montanhas de Santa Ynez, com uma vista esplendorosa
e deslumbrante para o Pacífico, o Calvary Cemetery é um autêntico mar de
verdura e de flores, das mais variegadas cores, salpicado de uma grande
variedade de pequenas árvores e de pequenas ilhas de jazigos brancos, e a
rescender a paz etérea.
Manhã de sol e de céu muito azul. Cerimónia simples,
mas bela e tocante. Posta a sobrepeliz e a estola e aberto o ritual, o bom do
Padre Cristóvão, com a D. Mécia a assistir e eu a fazer de acólito,
aproximou-se da campa rasa de Jorge de Sena, assinalada por uma pequena lápide
jazente de bronze assinada por ele, e, com o ar mais devoto e profundo
recolhimento, aspergiu a campa de água benta e fez a encomendação da sua alma a
Deus.
António Cirurgião
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