Bruxas no Halloween, seja. Então das
mais velhinhas – umas antiguidades, pode ser? Estas são três: Megera, Alecto,
Tisífone. Más como as cobras da cabeça de Alecto, cómicas no riso diabólico,
sempre a tramá-las nas profundezas por desfastio, a maquinar castigos por dá cá
aquela palha – cá e lá, entre a terra e o inferno, a vida e a morte.
Riso de Fúrias que fazem rir a cantar,
malévolas, a pura essência de “a destruição é o nosso deleite”, enquanto
congeminam afundar o barco de Eneias e arruinar a pobre Dido de desgosto (na
ópera Dido e Eneias, de H. Purcell), só o ouvi mesmo com deleite a umas miúdas
de Braga. Esse não tenho para mostrar, mas este serve.
Também nos podemos rir com as
desmioladas Fúrias que fizeram uma espera a Orfeu nos infernos onde buscava a
sua Eurídice (na ópera Orfeu
e Eurídice, de C. Gluck), e não se lembraram de já ter torturado e
arrastado Don Juan para os abismos ao som da mesmíssima música,
sem tirar nem pôr (na ópera Don Juan ou o Festim de Pedra, também de
Gluck).
Vale-nos Music for a While,
a ária de H. Purcell para a peça Édipo, reescrita por John Dryden. Música por um tempo
acalmará a dor; o seu poder fará cair as serpentes da cabeça de Alecto, o
chicote das suas mãos, e fala-á libertar os mortos das suas grilhetas.
Manuela Ivone Cunha
Achei demasiado frescas e por isso incôngruas as vozes desta "Destruction's our delight"; mais parecem colegas de escola do Harry Potter, e não bruxas veneráveis. Prefiro a versão do inevitável J.E. Gardiner.
ResponderEliminarMuito bem visto, sim. E o seu comentário, que agradeço, já me fez hoje rir a mim. O feitio das bruxas de Dido e Eneias é do mais volúvel e variado que há -- e o mais difícil de acertar com o gosto de cada um.
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