Rui de Azevedo Teixeira foi oficial
de comando em Angola, doutorou-se em Língua Portuguesa e possui bibliografia
ligada à investigação sobre a literatura da guerra colonial, ficção e ensaio. O
seu O Elogio da Dureza, Gradiva, 2021, conta-nos a história de Paulo de
Trava Lobo Ferreira, alguém com sérios problemas de identidade familiar, dado
desde a juventude à leitura, passou meteoricamente pela Universidade de
Coimbra, onde se aborreceu de morte e ofereceu-se como voluntário para a tropa,
seguiu para o curso de Oficiais Milicianos. Como tinha poucos recursos, ficava
por lá aos fins-de-semana. A palavra “Comando” galvanizou-o. Entretanto começou
a escrever um diário a que apodou de diário incerto, com muitos comentários
literários e apreciações do meio regional de onde provinha. Nisto, damos um
salto, Paulo já voltou da guerra em Angola, regressou a Vila Velha do Mar. “A
guerra, como uma forma de iniciação, tinha-o metamorfoseado. Dera-lhe dureza,
um código de silêncio e um sentimento de superioridade em relação aos
não-iniciados”. Refugia-se no diário incerto, anda à deriva, não tinha
verdadeiramente regressado. “Vivia entre dois tempos e dois espaços, entre o
recentíssimo passado angolano e o presente português. Pensou até em voltar lá
como mercenário, numa empresa de um almirante comunista, para lutar pelo MPLA.
Um mercenário marxista-leninista?! Baralhado, largou a ideia, substituindo-a
por outra de uma vida também dedicada à violência – o assalto a bancos e a
propriedades dos ‘patriotas dos interesses’ que tinham fugido para o Brasil”.
Procurava acompanhar o processo revolucionário, os pais tinham filiações
ideológicas opostas, dispersão que chegava aos irmãos. Através do Regimento dos
Comandos recebe a incumbência de vigilância dos Comunas do concelho. E recuamos,
desta feita para um cenário de inferno, a preparação do Comando, em plena
Angola, no Centro de Instrução, em Belo Horizonte, nos arredores da capital.
Começa o vendaval da dureza: na formatura, todos hirtos, a apanhar o sol
abrasador das duas da tarde; a loucura da sede, os primeiros instruendos a
serem eliminados; os crosses, uma conjugação de mochila, G3, carregadores,
granadas, cantil e botas e muito pó das picadas, linguagem de caserna não
falta, Paulo vai-se temperando, descobre a sua resistência, a sua força
psicológica. “Queria conhecer o seu limite último e ver quem aguentava mais.
Competir em dureza consigo e com os outros”. Mais instruendos iluminados,
começa a despontar a garra guerreira. “Começaram então a treinar a enérgica e
individualizada continência à comando. Execravam a continência mole da ‘tropa
macaca’. Já quanto a marchar, se a energia se mantinha, o individualismo era
tabu. Queixo levantado, peito para fora, joelhos à altura da cintura e
autênticas patadas no chão. Reacende-se a brutalidade na instrução. E dá-se um
fim-de-semana, Paulo fica muito confuso com um episódio que viveu: “Paulo
descia e o homem preto subia. Ambos pelo mesmo passeio estreito. O preto tinha
cerca de 50 anos, cabelo grisalho, fato coçado. Um ar sério, digno, de pequeno
funcionário. Três ou quatro metros antes de se cruzarem, o homem olhou para
Paulo, baixou os olhos, encurvou as costas e, automaticamente, desceu do
passeio para Paulo poder passar à vontade. Baralhou-se a cabeça ao cadete.
Caiu-lhe muito mal que um homem preto de meia-idade se tivesse curvado,
diminuindo-se, perante um jovem branco. Nenhum dos textos que tinha lido sobre
o colonialismo teve em Paulo o mesmo impacto que esta cena muda numa rua de
Luanda, em princípios de 1973. Tinha visto, sentido e percebido uma das faces
do poliedro do Mal. Foi com este episódio que a grande nobreza militar do
Código Comando, lido todas as manhãs na primeira formatura, começou a embaciar
os seus olhos”. Dá-nos um belo recorte do repouso dos guerreiros nas esplanadas
de Luanda, com todo o seu jargão de caserna. E formados e ajuramentados os
Comandos, inicia-se a vida operacional e uma galeria de horrores que o autor
não escusará ao detalhe mais infernal.
Como a arquitetura romanesca é a da
montanha russa, voltamos ao processo revolucionário e depois um avião aterra no
aeroporto do Luso, chegou a hora da primeira operação, temos um intermezzo com
a Luxa, uma água-forte de erotismo à africana. E saltamos para a Operação
Empurra Tudo, temos escalpes, facas na barriga a girar como o corno de um touro
numa colhida, gente degolada, um pequeno massacre. Paulo extasia-se com a
Natureza esplendente, sente-a como o princípio do mundo, mais guerra, mais
tiros, Paulo acasalou com a Luxa e com a empregada desta. Saberemos muito mais
sobre a vida operacional que leva na Zona Militar Leste. Há interrogatórios
violentíssimos, mais orelhas cortadas, sucedem-se as operações e as notas
íntimas no diário incerto, pois certezas já há muito poucas, crescem as dúvidas
do que por ali anda a fazer:
“Na noite de despedida daquelas
terras do calor e dos pretos, Paulo sentiu como nunca o Império a começar a
desfazer-se e a morrer dentro de si. A ironia partia-o por dentro – a cada
operação feita, tornava-se, cada vez mais, melhor operacional e, cada vez
menos, crente na guerra que fazia. A violência já era bem feita, desinteressada
e só a estritamente necessária. E ocorria-lhe cada vez mais a imagem do digno
homem preto que, encolhido, desceu do passeio, em Luanda, para ele poder passar
à larga”.
Voltamos ao processo revolucionário,
Paulo voltou aos estudos, foi ganhando a pulso os seus títulos universitários,
mas neste formato de montanha-russa voltamos a Angola, Paulo agora anda no
Mayombe, fala-nos nos estouros metálicos dos trovões, na espessa massa vegetal,
de cheiro intenso e meio adocicado, nos temíveis campos de minas, estamos há
vários dias na Operação Pantufada. “Cinco metros à frente de Paulo, a minha
rebentou levando com ela as pernas do furriel Tavares. O sangue esguichava das
femorais. Tinha lido algures que o coração bombeia com tanta força que pode
atirar o sangue com dez metros de distância (…) A consciência do furriel
Tavares dissolvia-se. Em menos de meia hora, ficou enrugado como um velho. O
olhar apagou-se. Morreu docemente, nem sequer teve um estremeção final”.
Apanhou-se muito armamento nesta operação. Enquanto eles progrediam no Mayombe,
o Estado Novo caíra em 25 de abril.
Já bacharel, visita em Vila Figueira
Luís Pereira de Sá e Souza, descendente da mais antiga nobreza de espada, isto
passa-se na região do Pinhal Interior, Paulo prepara-se para voos mais altos
enquanto ensina; e novo voo memorial até Angola, onde se entrou na guerra
civil. Deu aulas na ilha da Madeira, aqui se vai apaixonar. Volta a casa dos
pais, sentiu motivos de sobra para nunca mais voltar a falar deles. E há uma
bala furada, acompanha Paulo como uma graça do destino. Talvez este elogio da
dureza seja uma catarse depois de tantos horrores da guerra ter encontrado o
fundo da sua inutilidade.
Um testemunho símbolo para as novas gerações, para saberem o que viveu a de Paulo e todos os outros que experimentaram o mal e foram tentados por instintos sanguinários.
Mário Beja Santos
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