É do senso comum de
que falar da alimentação exige estender a sua abrangência a múltiplas áreas de
intervenção: logo a obtenção de informação idónea sobre a composição da Roda dos
Alimentos, a composição das refeições, a importância da variedade alimentar
para termos uma alimentação equilibrada, o que são produtos alimentares
indesejáveis; há os chamados direitos do consumidor na alimentação que passam
pela rotulagem, na justa medida em que há alergias e precisamos de conhecer a
composição do alimento para fugir a alérgenos; vasto campo é o da associação
entre a alimentação e os impactos ambientais, que envolvem adubos e pesticidas,
a energia, os resíduos, os OGM (organismos geneticamente modificados); após a
crise das vacas loucas pôs-se ênfase na segurança alimentar, reformularam-se
formas de controlo e vigilância desde as fronteiras às cozinhas; cada um dos
países tem que estar atento às fileiras de produção, ganharam importância não
só os problemas da qualidade, e daí haver um sistema europeu de reconhecimento
de produtos agroalimentares de qualidade, caso da denominação da origem
protegida (DOP), e novas atitudes face a regimes, como o vegetariano, o
vegetaliano, o vegan e o macrobiótico, ganhou realce a agricultura biológica, a
agricultura integrada, o comércio justo, por exemplo; os interesses de uma
alimentação passam por conhecer o funcionamento da distribuição alimentar e
dela tomar as escolhas apropriadas não só para o regime alimentar próprio como
ter em conta os impactos ambientais, a responsabilidade social e ambiental
destas empresas, etc., etc.
Aas boas práticas
alimentares carecem de literacia, acaba de sair um ensaio da Fundação Francisco
Manuel dos Santos intitulado Literacia Alimentar: Decisão Informada, por
Joana Sousa, coleção Pela Sua Saúde – Ciências Alimentares, maio de 2023. Para
adotar gestos para um consumo mais responsável, para benefício da saúde e mais
respeitador do ambiente, o consumidor deve deter informação rigorosa e isenta
sobre a água que bebe, como tirar partido da cadeia de frio ou dos produtos da
estação, interessar-se por reciclagem e compostagem.
Neste ensaio de Joana
Sousa prestam-se informações que valorizam a literacia alimentar. É o caso da
recordatória dos princípios para uma dieta saudável e sustentável definidos
pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e
pela OMS (Organização Mundial de Saúde): privilegiar o aleitamento materno
exclusivo até aos 6 meses; privilegiar alimentos não processados ou minimamente
processados, equilíbrio entre os grupos alimentares e restrição de alimentos e
bebidas altamente processadas; privilegiar-se cereais integrais, leguminosas,
frutos oleaginosos e uma grande variedade de frutas e hortícolas; consumir
moderadamente ovos, laticínios, aves e peixe, bem como pequenas quantidades de
carne vermelha; definir água potável como bebida de eleição, preservar a
biodiversidade, minimizar o uso de antibióticos e hormonas na produção alimentar,
reduzir o desperdício. Igualmente se dão sugestões para adotar um padrão
alimentar saudável e sustentável, recorda-se que a dieta mediterrânea é um
excelente modelo de sustentabilidade alimentar. Enfim, neste ensaio
encontram-se elementos muito válidos sobre literacia alimentar, exaltam-se as
competências culinárias e lembra-se que a desinformação em alimentação é um
inimigo da literacia alimentar. E não esquecer: em Portugal, os hábitos
alimentares estão em 5º lugar entre os fatores de risco de perda de anos de
vida saudável.
Mário Beja Santos
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