domingo, 7 de julho de 2024

Para assinalar nove meses passados sobre o dia 7 de Outubro de 2023.

 


Os pogroms de 1819 foram o primeiro caso de violência anti-semita em larga escala na Alemanha e na Europa, depois da emancipação, preparada pelas Luzes e executada, em larga medida, por acção napoleónica. Data precisamente desse ano o grito hep-hep, acompanhado frequentemente de «espanquem os judeus até à morte» [schlagt die Juden tot]. A origem do grito está envolta em obscuridade e levou a que se aventassem hipóteses fantasiosas. Tendo aparecido no primeiro pogrom e difundindo-se a partir dele, concitou grande atenção, chegando a ser interpretado como uma espécie de santo-e-senha dos perseguidores cuja decifração permitiria compreender os acontecimentos. A solução mais acreditada consistia em ver no grito o acrónimo de Hierosolyma est perdita, um putativo canto ou grito de guerra dos cruzados no cerco de Jerusalém, ou até das legiões romanas no cerco da cidade mais de 1000 anos antes.  Uma tal teoria não tinha nenhuma sustentação – aliás, em estampas da época, a expressão aparece grafada Hepp, o que invalida desde logo uma tal conjectura. A hipótese mais verosímil atribui-lhe a origem num chamamento para reunir o gado, que terá sido adoptado nas arruaças anti-semitas. O grito generalizou-se a partir dos primeiros motins, que, durante esse ano, se alastraram a toda Alemanha, com especial virulência em Frankfurt, Hamburgo, Heidelberg, Leipzig, Dresden e Darmstadt, repercutindo-se inclusive na Dinamarca e na Polónia. A expressão manteve-se ao longo do século XIX e gravou-se na memória das comunidades perseguidas. Depois de 1945, não consta que tenha sido novamente ouvida.

Tudo leva a crer, no entanto, que já há um candidato para desempenhar o mesmo papel: you can’t hide. E não são só palavras


                                                    João Tiago Proença


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