Os pogroms de 1819 foram o primeiro caso de
violência anti-semita em larga escala na Alemanha e na Europa, depois da
emancipação, preparada pelas Luzes e executada, em larga medida, por acção
napoleónica. Data precisamente desse ano o grito hep-hep, acompanhado
frequentemente de «espanquem os judeus até à morte» [schlagt die Juden tot]. A
origem do grito está envolta em obscuridade e levou a que se aventassem
hipóteses fantasiosas. Tendo aparecido no primeiro pogrom e
difundindo-se a partir dele, concitou grande atenção, chegando a ser
interpretado como uma espécie de santo-e-senha dos perseguidores cuja
decifração permitiria compreender os acontecimentos. A solução mais acreditada
consistia em ver no grito o acrónimo de Hierosolyma est perdita, um putativo
canto ou grito de guerra dos cruzados no cerco de Jerusalém, ou até das legiões
romanas no cerco da cidade mais de 1000 anos antes. Uma tal teoria não tinha nenhuma
sustentação – aliás, em estampas da época, a expressão aparece grafada Hepp,
o que invalida desde logo uma tal conjectura. A hipótese mais verosímil
atribui-lhe a origem num chamamento para reunir o gado, que terá sido adoptado
nas arruaças anti-semitas. O grito generalizou-se a partir dos primeiros motins,
que, durante esse ano, se alastraram a toda Alemanha, com especial virulência
em Frankfurt, Hamburgo, Heidelberg, Leipzig, Dresden e Darmstadt,
repercutindo-se inclusive na Dinamarca e na Polónia. A expressão manteve-se ao
longo do século XIX e gravou-se na memória das comunidades perseguidas. Depois
de 1945, não consta que tenha sido novamente ouvida.
Tudo leva a crer, no entanto, que já há um candidato para desempenhar o mesmo papel: you can’t hide. E não são só palavras.
João Tiago Proença
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