Procuro analisar em profundidade a capa de E,
A Revista do Expresso, edição nº 2270, de 30 de Abril de 2016.
Aparentemente simples, ela é de uma grande riqueza de significados. É ocupada
na íntegra por uma fotografia do presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
Fernando Medina, e diversos títulos e outros elementos verbais. Esta análise
segue o seguinte alinhamento: o contexto; a reportagem anunciada na capa; análise
dos textos verbais na capa; análise do texto visual da capa; análise conjunta
dos textos verbais e visual da capa (Imagem 1).
O
contexto e a reportagem
Fernando
Medina é
presidente da Câmara de Lisboa desde 2015, quando o então presidente se demitiu
para assumir a presidência do Governo. Medina era o nº 2 na hierarquia da
autarquia, a maior do país e correspondendo à capital do país. Deste modo,
Medina, eleito na lista do seu partido, o PS, que venceu a eleição, não foi
proposto aos eleitores como candidato a presidente da câmara. Este facto é geralmente
considerado uma capitis deminutio em termos políticos, e não
irrelevante: um primeiro-ministro legítimo pode ter a sua capacidade política
severamente constrangida por não ter chefiado o partido no momento da eleição;
foi o caso de Pedro Santana Lopes. Medina encontra-se na mesma situação. É,
portanto, necessário um esforço adicional, político e de comunicação (informação,
propaganda), para lhe devolver por esse meio o que a circunstância política da
chegada ao topo da instituição lhe retirou.
Dada
a importância
da CML no contexto político nacional, o seu presidente é considerado, por
consenso informal na sociedade, ou pelo menos nos media, uma figura política
nacional. Esta câmara tem sido, por isso, um trampolim para cargos políticos
nacionais, quer para autarcas eleitos (Jorge Sampaio, Santana Lopes, António
Costa), quer para candidatos perdedores (Marcelo Rebelo de Sousa).
Sendo
um político
do círculo político íntimo do seu antecessor e actual primeiro-ministro, a
comunicação do seu partido e a dos media (neste caso consciente ou
inconscientemente), Medina começou rapidamente a ser promovido a político de
primeira e, portanto, eventual sucessor de António Costa, caso este tivesse ou
tiver de abandonar o cargo de líder do PS e de primeiro-ministro, em função das
circunstâncias políticas. A capa e sete páginas
(pp.26-32) da E inscrevem-se nesta comunicação. O assunto é referido,
sem indicação de fontes: “depois de ter sucedido a Costa na autarquia, há quem
já o imagine a suceder-lhe no PS e na governação. Medina está em todas as
bolsas de apostas para o futuro do partido e assim continuará se vencer as eleições
[autárquicas] em 2017” (sublinhado meu). E a reportagem termina dizendo que “a
política sempre” “lhe correu no sangue”, perguntando: “Até ser
primeiro-ministro?” Na resposta, Medina não desmente. Antes, o repórter já opinara
no sentido de catapultar o autarca através da sua presença no Jornal das 8 da
TVI: “Para um político jovem e ainda pouco conhecido, o palco televisivo
é precioso para ganhar notoriedade” (p.32; sublinhado meu).
A
reportagem do jornalista Filipe Santos Costa é em estilo
laudatório ou mesmo hagiográfico, como se tenta provar adiante. Resulta do
acompanhamento durante “uma semana” da actividade do autarca, num género comum
que implica o assentimento do próprio. Em casos como este, a agenda dos políticos
que abrem as portas aos repórteres é ou pode ser alterada para servir a
comunicação, mas este texto nada diz sobre o assunto. O “retrato” é de um pragmático
que quer deixar marca através de obras. Comprova-o, como marcador, a palavra “obra/obras”,
que surge 17 vezes no texto (“a sua obra”, “é o dono da obra”; na p.32, a
palavra aparece seis vezes em seis linhas com 35 palavras). A reportagem
denuncia o desejo do próprio repórter em que o autarca possa avançar com muitas
obras: “Por sorte a cidade não está toda assente em história”, o que
permite avançar sem demoras escusadas com a arqueologia do subsolo (sublinhado
meu).
Sendo
objectivo desta análise centrar-se na capa, ficam aqui
apenas alguns elementos do texto da reportagem que permitem avaliar o estilo
laudatório:
- a
reportagem não inclui contraditório político; há apenas uma pequena referência
a uma crítica da oposição, não à acção, mas à atitude do autarca nas
assembleias municipais;
- Apesar
de portuense, Medina é apresentado como um lisboeta convicto que “conhece bem
as ruas da cidade”; os lisboetas são apresentados como o “seu povo” (p.29).
- É
um sonhador, vê muito à frente, é descrito como um líder, apesar de não se usar
a palavra; este líder ainda não é reconhecido como tal, preocupação que a própria
reportagem visa colmatar; Como tantos líderes, não tem paciência para o
processo institucional democrático (“do parlamento nem trouxe saudades”), um
empecilho que prejudica a sua visão de futuro e o seu empenho diário (até mesmo
horário, na reportagem) em obras; por essa razão, o repórter escreve: “É como
se tivesse descoberto em si um urbanista, um arquitecto e mestre de obras, além
de um presidente de câmara” (p.31);
- O
realizador de obra é comparado com o Marquês de Pombal, “mas Medina garante que
não”; a reportagem, porém, desmente o desmentido: numa “photo-opportunity”,
mostra-se a imagem de Medina e do vereador das obras, Manuel Salgado, agindo
sobre um mapa de Lisboa, como o Marquês e vários outros políticos ao longo da
História; o texto confirma: “Medina está debruçado por cima de um mapa de
Lisboa” (p.31).
- A
reportagem omite a data em que Medina se tornou presidente da CML (6 de Abril
de 2015), preferindo referir a data da sua entrada no executivo camarário
(2013), apesar de o texto ser sobre ele na qualidade de presidente da câmara.
Por omissão, acrescenta dois anos à presidência de Medina.
- A
reportagem concreta, em termos de género, substitui outro género, a entrevista,
para acentuar o homem em acção em vez do homem de palavras, o político comum.
Além do texto, as fotografias mostram-no duas vezes a apontar para mapas, uma
vez de capacete em visita a uma obra, uma vez a visitar o local de uma futura
obra, duas vezes nas ruas com populares, uma vez dominando pelo olhar a cidade
de uma janela, uma vez na TVI e uma vez (em onze fotos) sentado; em três das
imagens o autarca usa o smartphone.
- Na
descrição de uma visita a uma futura obra, Medina “martela a importância da
comunicação”. Pode dizer-se, em resumo, que a reportagem confirma-o, quer pelo
conteúdo a respeito do autarca, quer pela sua própria existência, feita com o
próprio Medina, para o dar a conhecer ao país. O lead da reportagem denuncia
essa intenção: “Passámos uma semana com Fernando Medina para o conhecer melhor”(p.26).
Os
textos verbais da capa
A
capa da revista inclui referentes habituais, como o logótipo,
numeração e data, no topo superior esquerdo, e, no canto inferior esquerdo, a
informação sobre o uso de um código individualizado impresso num rectângulo
branco “para ter acesso gratuito ao Expresso Diário” online. Sobre esta informação,
um sinal mais indica três temas adicionais ao principal da capa no interior da
revista.
O
tema da capa encontra-se no canto inferior direito, igualmente sobreposto sobre
a fotografia que a ocupa por inteiro. Os textos são os seguintes:
-
Antetítulo:
“Fernando Medina”
-
Título:
“O homem que gosta de trabalhar nas obras”
-
Pós-título:
“Uma semana nos bastidores da construção da nova Lisboa / Por Filipe Santos
Costa”
O
antetítulo
apresenta o referente da reportagem (e tema central deste número da revista). O
título caracteriza o referente (Medina) por um ângulo, neste caso o gosto pelas
obras. O pós-título objectiva o trabalho do repórter e desenvolve a sua
subjectividade, já pressuposta no título, a respeito da política do autarca.
A
identificação de Medina com Lisboa só aparece vagamente no pós-título,
o que remete para uma dimensão superior à da autarquia. Aliás, Medina não é identificado
como autarca, mas como homem. Este substantivo pode ser
interpretado como indicando ou pressupondo a hipótese, que já vimos
encontrar-se na reportagem, de Medina vir a chefiar o PS e o Governo nacional.
A simplicidade da expressão “O homem”, para mais isolada numa linha do texto,
sugere o conceito de “homem providencial”. Recorde-se que no texto o repórter
coloca a questão “Até ser primeiro-ministro” sem mencionar a necessidade de tal
ocorrer após eleições legislativas. Dir-se-á: isso é óbvio. Mas é o óbvio que
deve ser questionado, porque o óbvio, em análise, não existe. Neste caso, tanto
mais é assim que não é constitucionalmente necessária uma nova eleição para
substituir o primeiro-ministro.
A
expressão
“gosta de trabalhar nas obras” tem uma denotação referencial (a reportagem
afirma até à exaustão que, de facto, Medina gosta de trabalhar nas obras).
Quanto à conotação, a frase sugere que Medina é um homem de acção; que o é por
gosto; que faz obras; que trabalha nas obras. Numa conotação adicional, Medina é
ou é como um homem das obras; mas, dado que o título abre com o artigo
definido, Medina é o homem das obras. Esta conotação ainda acrescenta
uma identificação com o elemento popular: Medina é homem das obras,
homem da construção civil e de pôr a mão na massa.
O
título
está conforme à reportagem nesta tarefa de retirar (aparentemente) o elemento
ideológico da política, de forma a engrandecer o homem providencial que realiza
obra(s).
O
pós-título
indica que o repórter (em rigor a revista) esteve uma semana “nos bastidores da
construção da nova Lisboa”. Refira-se desde logo que a frase não diz que o repórter
ou a revista esteve uma semana com o autarca, sendo ele, efectivamente, o conteúdo
principal da reportagem: a sua presença na TVI e uma reunião camarária, por
exemplo, ocupam uma parte não negligenciável da reportagem, sem terem qualquer
relação com as obras na cidade. A referência aos “bastidores” de obras
substitui a indicação do cerne da reportagem: o acompanhamento de Medina em
diversas actividades, nomeadamente obras.
A última
frase do pós-título é muito mais subjectiva do que objectiva: a “construção da
nova Lisboa” diz directamente que as obras em curso ou previstas são um plano
de conjunto, “a construção”, desde logo com um carácter positivo; mas a frase
vai mais longe e afirma que está em construção “a nova Lisboa”. A frase avalia
o conjunto de obras como dando origem a uma “nova” cidade. O artigo definido “a”,
em vez de “uma”, torna-a definitiva e inquestionável. Tal como o Marquês,
Medina não se limita a promover “umas obras”, mas a levar a cabo um plano de “a
nova Lisboa”. É o desenlace do gosto pelas obras do homem providencial: dar ao
país uma “nova” capital. Esta opinião ideológica é amplamente desenvolvida no
texto da reportagem, sem contraditório; na frase da capa, é e apresentada como
factual, isto é, há uma “nova Lisboa” em “construção” pelo “homem que gosta de
trabalhar nas obras”. Este nexo lógico “o homem” (providencial)—> “obras” —>
“nova Lisboa” é confirmado no lead da reportagem (p.27), que termina
referindo-se “à cidade que ele quer fazer”. O homem de vontade surge novamente,
no verbo “querer”. Este lead confirma que a reportagem é menos sobre os “bastidores
da construção da nova Lisboa” do que sobre Medina em acção para a reportagem: “Passámos
uma semana com Fernando Medina para o conhecer melhor e à cidade que ele quer
fazer”.
Imagem 2
|
A
fotografia da capa
A
capa da revista é preenchida com uma fotografia da
autoria, como as do interior, de António Pedro Ferreira. O Expresso online
publicou não só a capa, como é hábito, mas também a mesma fotografia da capa
sem os textos verbais e na sua versão integral, antes de reenquadrada, com
cortes nas margens esquerda e direita (Imagem 2). Analisaremos aqui a
fotografia tal como publicada na capa (Imagem 1), sublinhando apenas estes
aspectos:
-
a foto original, “ ao baixo” tem uma relação mais
equilibrada entre o elemento no primeiro plano e o fundo, “justificando” a
composição o facto de Medina estar virado para o lado esquerdo.
-
o reenquadramento para a capa fez desaparecer um dos arcos de pedra do edifício
no lado esquerdo e de parte de outro arco no lado direito, o que acentua o
significado abaixo descrito.
Analisemos
a fotografia tal como surge na capa. Ela mostra Medina em primeiro plano. Não
olha para a câmara (isso acontece apenas numa das fotografias do interior).
Deste modo, Medina não se impõe pelo olhar, não é imposto pela revista, é dado
ao observador, como objecto de contemplação para se ir tornando parte do catálogo
icónico do “museu imaginário” da política nacional. Está em plano médio, da
cintura para cima, o que cria uma relação social com o observador: é esta distância
aparente entre o observador e o observado que prevalece nas relações sociais próximas.
Medina veste uma camisa branca e gravata azul. Por opção paradigmática, isso
significa em simultâneo que usa a “farda” dos políticos, mas que está sem
casaco, o que o conota como homem de acção. Acresce que é um homem de mangas
ligeiramente arregaçadas, o que de novo conota o caráter de homem de acção, mas
sem desalinho formal. Apesar de ocupar sensivelmente a metade direita da
imagem, como a sua cabeça se inclina no olhar para o smartphone, ela ocupa a
zona central do enquadramento, principalmente no terço superior do rectângulo
ao alto da capa (Imagem 3).
Imagem 3
|
Este
homem está só na imagem. É o único protagonista, pois não há mais
ninguém (outras pessoas distrairiam a conotação de liderança), e é o único
tema, pois não se vêem obras nem o local é identificável. Os homens
providenciais são amiúde representados como homens sós, o que não significa que
são misantropos enquanto indivíduos ou dirigentes, mas antes que são
auto-suficientes e singulares.
Medina
está
numa zona escura, coberta, dum local que não é possível identificar (os títulos
e a reportagem indiciarão como um local de uma futura obra). O local é tão
escuro que a luz natural ocupa apenas a zona do fundo, após um arco de pedra do
edifício, criando zonas quase negras em redor do autarca, na sua mão esquerda,
no cabelo. Todavia, essa ausência de luz natural forte no local exacto em que
se encontra Medina é compensada pela luz emitida pelo smartphone nas suas mãos,
que incide fortemente na camisa e gravata e principalmente na cara de Medina.
Qualquer pessoa ou objecto que receba uma luz forte torna-se a sua própria
fonte de luz. A luz vem de baixo, o que é infrequente. Não é qualquer um. Chama
a atenção e, entre outras sugestões, traz consigo a de magia. A luz natural por
trás criando o contraste entre claro (fundo) e escuro (primeiro plano) e a luz
do telemóvel que parece irradiar de Medina conotam a ideia de que se está a
arrancá-lo da escuridão (é “ainda pouco conhecido”, dá-se-lo a “conhecer melhor”),
de que ele é luz resgatada da escuridão nacional, de que ele mesmo é fonte de
luz. Em suma, Medina é luz na escuridão. É líder.
A
escolha da imagem de Medina com o smartphone pode ser analisada deste modo:
primeiro, é um elemento referencial, um instrumento de
trabalho importante, tanto mais que no interior, como vimos, há mais duas
fotografias de Medina a usá-lo (no meio da rua e no estúdio da TVI); segundo,
sendo um instrumento de trabalho e comunicação, conota Medina como homem de
trabalho e de acção e como homem em contacto com o mundo, tanto mais que ele
está agir sobre o telemóvel com os polegares; terceiro, o aparelho nas mãos
fornece uma luz intradiegética, integrante da narrativa da imagem, substituindo
eventual luz extradiegética, artificial, para o iluminar num local escuro;
quarto, tendo em conta que o telemóvel é um elemento acessório na imagem devido
à sua posição subalterna de objectivo ou meta da sua acção na imagem, e tendo
em conta que não se vê nenhum foco de luz do smartphone na sua direcção, Medina
surge como que iluminado por fonte indeterminada, como que iluminado por
dentro, ou, numa expressão conotada, como um iluminado, o que de novo
remete para o conceito de homem providencial, de chefe. Acresce que a luz do
mundo (a que forma o fundo) não interfere na figura humana, apenas a do seu
trabalho e destino nas suas mãos, que ele manipula (o telemóvel). O único
vector (indicando acção) na imagem é a do olhar do participante representado
(Medina) em direcção ao smartphone, seguindo em paralelo à gravata (Imagem 4).
Imagem 4
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Resta
referir a composição formada pelo primeiro plano e pelo
fundo. A cabeça e a parte superior do corpo de Medina — o busto — foram
enquadrados de modo a ficarem no meio do arco de pedra do edifício. Deste modo,
a cabeça de Medina não só está no centro superior geométrico como está no
centro do arco, criando como que um círculo em seu redor, o que acentua a sua
posição central e foco da imagem. O círculo, na arte e, portanto, na
fotografia, transmite protecção, calor, eternidade, harmonia. A composição corresponde,
deste modo, à que na escultura e também na pintura é atribuída a uma pessoa notável
(santo, político, artista, etc.) através da sua colocação num nicho. As imagens
em nichos incluem amiúde instrumentos identificadores a personagem, como S. João
de Deus na Basílica de Mafra (Imagem 5, detalhe). No caso do conotado conceito
de Medina no nicho o instrumento é o telemóvel. O sólido arco de pedra sugere,
em resumo, uma protecção de tipo superior. e uma ideia de santidade.
Imagem 5
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Baseada
esta análise
exclusivamente nos elementos verbais e icónicos disponibilizados na revista, não
é possível estabelecer se a fotografia foi preparada; por exemplo, se a posição
do autarca e a acção (usar o smartphone) foram sugeridas pelo fotógrafo.
Interessa apenas avaliar o que é dado a ver, tal como analisado aqui. Preparada
ou não, a fotografia apresenta-se e é recebida pelo observador como um “instantâneo”,
uma fotografia jornalística de um momento de realidade. A arte do fotógrafo e
dos responsáveis da capa (designers, direcção, repórter) está precisamente na
potência de significados adicionais que ela transmite através da linguagem
jornalística de palavras e imagem.
Textos
verbais e fotografia da capa
De
cima para baixo e da esquerda para a direita, o sentido de leitura
apresenta-nos primeiro o que é ideal: o logo da publicação e
Medina, sendo este “santificado” — apresentado como dado adquirido — através da
sua inserção num nicho simbólico; a seguir a foto mostra o que é o real, a
apresentação de Medina como “o homem” que trabalha, “o homem que gosta de
trabalhar nas obras”, que faz coisas, e, por falácia argumentava de
causa-efeito, “o homem” que está a fazer a “construção da nova Lisboa”; esse
elemento do novo, geralmente representado nas imagens em baixo, está sugerido
no telemóvel, o instrumento que recebe o vector do olhar de Medina, o objectivo
do seu trabalho. Este elemento terreno (em baixo) junta-se ao elemento ideal
(em cima) para formar o conceito do homem providencial por vir, que se afirma
ele mesmo em construção pelo seu trabalho, pelas obras, pela “nova Lisboa”, e
que se afirma pelo trabalho da própria revista do Expresso. Esta leitura da imagem de cima para baixo
corresponde à construção linguística da nossa linguagem verbal. A capa da revista E poderia ter como
legenda “Deus Quer, o homem sonha, a obra nasce”, pois é essa, em termos
gerais, a mensagem que transmite.
Consciente
ou inconscientemente, é um conteúdo simultaneamente jornalístico
e de propaganda, que se inscreve no modelo preferido da propaganda numa era de
receptores desconfiados: sob o manto diáfano do jornalismo, a nudez forte da
propaganda.
Eduardo
Cintra Torres
Excelente análise semiótica. Ensino esta componente de comunicação no ensino superior e venho pedir-lhe a sua anuência para partilhar este conteúdo como suporte didactico, com a necessaria referência da fonte como é óbvio. Antecipadamente grato.
ResponderEliminarParabéns professor! Obrigado pelo seu contributo na minha formação. JMaló
EliminarMuito obrigado. Com certeza que autorizo e fico honrado. O texto tem três ou quatro gralhas da minhas responsabilidade, todas facilmente identificáveis, excepto talvez um "argumentava" em vez de "argumentativa". Saudações cordiais. ECT
ResponderEliminarExcelente. Há que descodificar e chamar as coisas pelos nomes: propaganda é propaganda. Bem haja.
ResponderEliminarMuito boa análise, em particular para fins académicos, como oportunamente já foi identificada.
ResponderEliminarNa realidade o jornal analisado funciona como instrumento de propaganda política e o "jornalista" produz um trabalho de promoção de alguém.
Onde se lê Fernando Medina podia estar Francisco dos Anzóis que tudo batia certo.
O sucesso deste jornal é ditado pela qualidade dos seus leitores.
Possivelmente há quem o considere um símbolo, mas não é certamente um símbolo de honestidade.
Poderá ser influenciador e eficaz, sobretudo pela falta de conhecimento e capacidade crítica dos seus leitores.
Salvo melhor opinião, é excelente para limpar vidros.
o fernando medina é um homem inteligente,mas tanta prosa é um pouco exagerado!
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