Eu
também estive lá. Subia-se a um andar alto da Galeria Zé dos Bois, a Anabela
esperava-nos na sua salinha dos feitiços, a luz quebrada de lupanar ou vidente,
ficámos sentados ao quadrado da mesa como numa aula de crianças ou num workshop
universitário. Ela serviu os copos, tropeçou no gelo, whisky e amendoins, vivências
coloniais, e lá começou a contar a história – a sua história. E o que depois se
seguiu é tão mágico e tão comovente que nem dá bem para descrever, só chorar
por dentro ao ver ali, naquele belíssimo texto, nas fotografias antigas ou nos
vídeos de agora, ao ver ali, dizia, o retrato de um país inteiro, contado por
uma filha, em gesto do mais puro amor. Na praia da casa, a família reuniu-se há
pouco, foram dar ao mar. Dar-lhe coisas preciosas e secretas que cada um tinha
de seu, tão íntimo que esta história nem é contada pela Anabela Almeida,
autora, criadora, encenadora e actriz deste sortilégio puro e tão bom. A Anabela
não irá repetir em novos trabalhos algo tão autobiográfico. Razão suplementar
para implorarmos, para exigirmos, novas e mais representações de A Casa da
Praia, em Lisboa e pelo país todo – pois, como disse, é um país que ali está todo,
mais o seu povo. Obrigado, Anabela.
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