Boas Festas.

 

 

 

 

Continuo a mandar e a receber cartões de Natal, agora tenho aqui a caixa dos mails inundada de postais electrónicos, pindéricos mas estrelejantes. É uma alegria e uma tristeza. Tristeza por saber que a maioria desses postais não dizem nada do que querem dizer, que quem me deseja um «Bom Ano» ou «um Natal Feliz» se está bem lixando para o ano que vou ter ou para a felicidade do meu Natal. Mas é bom, pela lembrança, é uma alegria ténue. É bom saber que entrámos no período frenético do cio emocional de Natal, que aquele ou aquela, que não vejo no ano que passou nem verei no próximo ano, me colocaram na sua mailing list dos afectos fátuos. Na maior parte das vezes, por interesse ou no cumprimento de uma tradição vazia de sentido, do real e profundo sentido que deveria ter: desejar ao outro, de coração, ao outro a quem mandamos as Boas Festas, que tenha mesmo umas Boas Festas. Esta batalha campal dos cartões de Natal, com uns a mandarem aos outros votos e mais votos, e os outros a ripostarem à bala com outras tantas retribuições, é bonita de observar, como fenómeno cultural e sentimental.  Que Deus te dê o que me desejas, isso, sim, é  verdadeiro: as pessoas desejam Boas Festas aos outros na expectativa de que nesse gesto haja um reflexo, um ricochete, um espelho das Boas Festas que desejam para si próprias. Mas o facto de precisarem dos outros para viverem Boas Festas não é sintoma de tristeza nem motivo para angústia. É um sinal de enorme e gigante alegria, porque no vendaval dos egoísmos e do vai-e-vem de Boas Festas, há um sentido tremendo de comunhão humana – e isso é muito, muito bom.

          Boas Festas, pois.