terça-feira, 18 de setembro de 2012

Libelo.

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Libelo
De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar – e um barco com nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar?
E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos, uma pró caniço, outra pró queixo, que é pra ele poder se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra pruxar tristeza, e um pouco de pensamento pra pensar até se perder no infinito…
         - Mas o mar está preso em correntes, e é preciso por ele lutar!
De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra – um pedaço bem verde terra – e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um modesto pomar; e um jardim – que um jardim é importante – carregado de flor de cheirar?
E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos pra mexer na terra e arranhar uns acordes no violão quando a noite se faz luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa sem mistério não vale morar…
- Mas a terra foi escravizada, e é preciso por ela lutar!
De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um amigo bem seco, bem simples, desses que nem precisa falar – basta olhar – um desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra briga, um amigo de casa e de bar?
E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à vontade ao amigo?
- Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!
De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma mulhar com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular? E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão do carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o desatino o carrega em sua onda sem rumo?
Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher – as únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo amigo…
(Vinicius de Moraes, Abril de 1950)






D'Arc

1 comentário:

  1. povão! não faças esse arzinho que a culpa tb é tua! mas foste pricipalmente tu, oh 'grande porca' que mais uma vez deste cabo d'isto. desta vez conduzidos pelo grande general engº Zezito que estimou como poucos o monte de esterco e desprendidamente o legou para as gerações vindouras e assim estamos mais uma vez nos braços descaídos e pesados dessa grande rameira mal lavada e ronceirosa que é a nossa terrinha de quando em quando. e agora José? (deixo ao grande AAraujo este presente que espero gostes http://www.youtube.com/watch?)v=cdlybkRv_0M

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