Quando
num livro tão poderoso e tão bom é citado o nome do Malomil, e agradecido o
nome do editor do Malomil, cabe exprimir a honra e venerar o privilégio que foi
ter sido aqui que saiu à luz um dos textos das Manobras
de Guerrilha – Pugilistas, Pokémons &
Génios.
Agora
reunida a colectânea, em edição remasterizada com uma capa soberba de excepcional, o parecer modesto deste
que abaixo assina é que Bruno Vieira Amaral (BVA) se revela um extraordinário
escritor de viagens; sempre o foi, aliás, desde o primevo As Primeiras Coisas. Mas agora leiam uma extensa reportagem sobre a Índia
e dir-me-ão se tenho ou não razão neste juízo apreciativo. Que é parcial, pois
provém de quem há muito admira o talento de BVA. Que é parcial, também, porque
reduzir esse talento ao de um escritor de viagens talvez seja excessivo, excessivamente pouco. Leiam o belo ensaio
sobre fotografia que aqui vai dentro destas Manobras
e concluam comigo sobre a rara e até emocionante sensibilidade de Bruno Vieira Amaral. O resto –
e o resto são as muitas e sólidas leituras, a erudição bem calibrada, o interesse
atento ao quotidiano concreto, a atenção microscópica ao detalhe humano e suburbano, a imensa
nostalgia que irradia de tudo quanto escreve – o resto, dizia, já o sabíamos. Manobras de Guerrilha – Pugilistas, Pokémons
& Génios traz, porém, o conforto da confirmação. O regresso a um porto
seguro, ao cais de pedra de algumas horas da melhor leitura, com quadrinhos biográficos de
grandes vultos (F. Chalana, F. Mercury, Bowie, Muhammad Ali), digressões livrescas e, quase no
final, a retumbante sacanagem de «Ode ao olho do cú»; cita-se aí, nessa pícara ode, uma frase de uma gemida personagem de Rubem Fonseca, que – e a vida tem destas maravilhas coincidentes
– também retive quando li A Grande Arte.
Foi, aliás, segundo creio, a única frase que a memória guardou dessa obra de génio Fonseca, o que diz muito sobre a magreza – ou perversidade? – das minhas escassas lembranças literárias.
António Araújo
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