6.
Eis um trecho do Conto (ou Romance) de Genji (Genji Monogatari), escrito no século XI por uma mulher, Mursaki
Shikibu, e que alguns têm aproximado, quanto à estrutura, da Recherche de Proust.
Poderemos, de facto, admirar e
sentirmo-nos tocados pela espuma de A
Grande Onda sem saber as circunstâncias em que foi elaborada.
Dela
se fizeram muitos milhares de exemplares; o original desenhado e
pintado por Hokusai perdeu-se no próprio acto de impressão, ao ser gravado com
um estilete no bloco de cerejeira, como era próprio desta técnica de reprodução
de xilogravuras em larga escala. A obra original é sacrificada para que, a
partir dela, milhares de cópias floresçam, o que faz com que nas galerias e
nos museus ou nas colecções privadas de todo o mundo não haja, nem possa haver, «o»
exemplar de A Grande Onda. Quanto
muito, existem impressões de melhor ou pior qualidade, dependendo do estado de conservação e da altura em
que foram realizadas, já que com o passar do tempo os tipos de madeira se iam
desgastando, naturalmente.
A cópia considerada mais perfeita, designadamente
quanto à coloração dos céus e à preservação dos contornos, encontra-se no
Metropolitan Museu of Art, em Nova Iorque, e integra a colecção Harvey Mansfield (cf. The Metropolitan Museum of Art Bulletin, Vol. 43, nº 1, Summer 1985, disponível em PDF, aqui).
É interessante compará-la com um dos três
exemplares da colecção do Museu Britânico,
descrito aqui, que pertenceu ao pintor Charles Haslewood Shannon (1863-1937) e em que, nas linhas delidas pelo tempo, se
nota claramente a erosão das décadas ou o cansaço da cerejeira quando recebeu a
tinta. Repare-se, desde logo, na interrupção do contorno da onda do lado
direito da xilogravura; ou, para os mais atentos, no cume do Monte Fuji. A par disso, e até mais importante do que isso, é o esbatimento do céu, em que quase se perdeu a nuvem acastelada, cujo perfil dialoga com as ondas do mar e com o recorte da montanha sagrada (que, por sua vez, surge em duplicado na gravura, com uma das vagas a assemelhar-se à elevação do Fuji).
Curiosamente, as cópias do Museu Britânico e do Metropolitan Museum foram adquiridas pela mesma altura: a primeira em 1937, a segunda em 1936.
Curiosamente, as cópias do Museu Britânico e do Metropolitan Museum foram adquiridas pela mesma altura: a primeira em 1937, a segunda em 1936.
Exemplar do Museu Britânico, 1937, 0710, 0.147
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Exemplar do Metropolitan Museum of Art, Colecção Mansfield
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