Pour faire chier les juifs
Sayid Marcos Tenório, historiador e militante do Partido Comunista do Brasil,
convertido ao Islão, autor de artigos como «Terrorismo
de Israel contra ONGs de Direitos Humanos» e «Os laços do sionismo com o
nazismo», colunista do sítio Brasil 247, sítio de «jornalismo independente, progressista e para todos», comentou na rede social X, as calças de
uma jovem mulher raptada pelo Hamas a 7 de Outubro de 2023. A frase de Tenório reza:
«Isso é marca de merda. Se achou nas calças», a que se segue um emoji de
sorriso. Se Tenório quisesse apenas
humilhar uma mulher imputando-lhe cobardia, a sequência seria a inversa: «Se
achou nas calças. Isso é marca de merda».
Aliás, se quisesse tão-somente chamar-lhe cobarde, bastaria o «Se achou
nas calças», o resto seria supérfluo. Mas não. Tenório quis começar com a merda
para afastar a possibilidade de ser outra coisa – sangue, em resultado de uma
violação sabe Deus como ou com quê. O seu comentário era precisamente uma resposta à suspeita de violação. Além disso, o se achou nas
calças faz da mulher a responsável pelo acto, não esteve à altura do que
lhe sucedeu. Estaria Tenório à altura, se fosse selvática e repetidamente sodomizado?
Ou se lhe metessem o cano de uma metralhadora pelo cu acima?
No entanto, marca de merda tem leituras diferentes,
consoante o duplo sentido do genitivo. E talvez seja por isso que Tenório, historiador
e militante do Partido Comunista do Brasil, adoptou essa ordem. Terá sido Heinz Thilo, médico no campo de
Auschwitz-Birkenau, o primeiro a designá-lo como anus mundi, designação
que posteriormente foi popularizada pela obra do deportado polaco Wieslaw
Kielar, Anus Mundi – cinco anos em Auschwitz. Tenório é tudo menos
inocente. Sabe muito bem o que diz. Sabe que a defecação foi um dos meios
preferidos pelos nazis para humilhar até ao fim: até igualizar o judeu e a
merda. Primo Levi refere em Os que sucumbem e os que salvam que «evacuar
em público era angustiante e impossível: um trauma para o qual a nossa
civilização não nos prepara, uma ferida profunda infligida à dignidade humana,
um atentado obsceno e cheio de pressentimentos; mas também o sinal de uma
malignidade deliberada e gratuita.» O caso do oficial nazi que depois de
alinhar as prisioneiras obrigou uma mulher, sozinha, a defecar em frente de
todas, tendo-a, acto contínuo, abatido a tiro, mostra que compreendeu o valor
objectificante do olhar. Reduz a mulher que defeca em público a seu próprio
produto: o seu interior, a sua verdade está à vista de todos. Nada é senão
aquilo. Por isso, comenta ainda Primo Levi, algumas páginas depois, «antes de
morrer, a vítima deve ser degradada, para que o matador sinta menos o peso da
sua culpa. É uma explicação a que não falta lógica, mas que brada aos céus: é a
única utilidade da violência inútil.» Quem não gostaria de dar razão a Primo
Levi? O emoji de Sayid Marcos Tenório mostra, no entanto, outra coisa,
mostra como a depravação humana resplandece de alegria no mal. A culpa não é
atenuada; é transfigurada numa perversa alquimia.
João Tiago Proença
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