quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Cartas de Bruxelas.



 

                                                                                           Ah! Os ricalhaços!

 


           Segundo a comunicação social, foi afirmado numa manifestação de apoio à causa palestiniana, realizada no Porto, que «Quem quer um Hamas desarmado quer vê-los passados a ferro, assassinados. Quem vive em Gaza não tem escapatória. Quem vive em Israel são os ricalhaços.» Não é de hoje nem de ontem. O judeu e o dinheiro é um tema que enche volumes em bibliotecas. Serve para todos os ressentimentos. Os financeiros judeus era o santo-e-senha do grupo, a bandeira à volta da qual se reunia o rebotalho. O social-democrata austríaco Ferdinand Kronawetter terá dito que o anti-semitismo era o socialismo dos idiotas (Der Antisemitismus ist der Sozialismus der dummen Kerls), usou a expressão para caracterizar a política populista de direita do presidente da câmara municipal de Viena, Karl Lueger, que elaborou uma tipologia, não muito sofisticada, dos judeus: Geldjuden, para os judeus da bolsa e do capital, Betteljuden, para os judeus imigrantes pobres, e Tintenjuden, para os judeus jornalistas. A expressão foi popularizada pelo chefe do SPD alemão, August Bebel. É transparente, demasiado transparente, a cobiça frustrada, o sentimento de ficar à porta que tão rapidamente se transforma em inveja existencial e homicida. Uma inveja que chega a assumir a forma da projecção. Em 7 de Outubro de 1985, o paquete italiano Achille Lauro foi sequestrado por um comando de terroristas da Frente da Libertação da Palestina; andaram de um lado para o outro com o navio até aportarem no Egipto. Mas antes, a 8 de Outubro, depois de anunciarem que iriam executar reféns se as suas exigências não fosse atendidas (a libertação por Israel de 50 prisioneiros), mataram Leon Klinghoffer, um judeu com passaporte americano. Reformado, de cadeira de rodas, 69 anos de idade, foi executado com um tiro na cabeça. Faruq al-Qadumi, à época porta-voz da OLP, afirmou, que talvez tivesse sido a mulher, Marilyn Klinghoffer, uma doente terminal, a matar o marido – para receber o dinheiro do seguro.

Ah! Os ricalhaços!


                                                                                        João Tiago Proença



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