O direito da guerra não deixa margem para dúvidas. Os
beligerantes identificam-se pelo uniforme. Estes comunistas, no entanto, despem
o soldado do que faz dele um militar, e, desse modo, alguém que pode matar sem
que isso constitua um crime. Na imagem, porém, nada liga o soldado a um Estado.
Tudo se passa como se o soldado não tivesse amarras de qualquer espécie. Sem
deixar de aparecer como soldado – atestam-no a arma, o uniforme neutro e,
insidiosamente, o facto de apontar a metrelhadora a um civil inerme. À não
identificação do soldado responde a evidência do civil. O Palestiniano é
transfigurado no bem absoluto – a Humanidade por antonomásia. Sem armas. Realiza-se
nela o estádio final do comunismo, na medida em que libertação implica o
tornar-se rossa. Depois do proletariado, depois dos movimentos de
libertação do terceiro mundo, a revolução anichou-se na pequena Faixa de Gaza. Na
ausência de ligação a uma ordem estatal, o soldado torna-se a figura do mal,
mas de um mal apolítico, um mal moral, um mal metafísico. Sem Estado, a guerra
dissolve-se conceptualmente como actividade humana, inerente à pluralidade das
comunidades políticas. Sobra a violência como forma de relação intrinsecamente
imoral. É o não-dever-ser por excelência. Como tal, a sua supressão restaura metafisicamente
a ordem perturbada. Assim se chega à paz. À paz dos cemitérios. Mas nem neles
existirão judeus. Erradicados da História, regressarão sem nome à natureza.
Como cinza?
João Tiago Proença
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