Para assinalar sete meses passados sobre o dia 7 de Outubro de 2023.
No seu romance de 1793, A loja Invisível, Jean
Paul deixou escrito que a recordação é o único Paraíso de que não podemos ser
expulsos. A transfiguração que o tempo impõe tanto aos bons como aos maus
momentos é sempre indício de uma reconciliação com a vida. E, no entanto,
quando os judeus, expulsos, se punham a caminho, em cada passo, em cada mala, em
cada olhar para trás, a recordação suscitada não tinha imagem, não se demorava
em algo concreto. Havia o pressentimento de uma repetição, a repetição de algo
já feito por antepassados desconhecidos, sujeitos ao mesmo destino abstracto e
absurdo: não um Paraíso mas um martirológio irracional que se acrescenta com o
tempo. O fardo da recordação haveria de ser alijado. Desde 14 de Maio de 1948, os
passos dados nesta Terra já não evocam as expulsões nem as fugas de antanho.
Mas, a partir do dia 7 de Outubro de 2023, os contornos do passado
esbateram-se. Ressurgiu, em parte, a atmosfera amaldiçoada das recordações
antigas. Agora há para onde ir. Por enquanto.
João Tiago Proença
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