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A um conhecido líder de uma bancada parlamentar da nossa praça aprouve falar-nos do actual ciclo político, comparando-o com a “triste sorte do cavalo do inglês”. Os jornais logo aproveitaram a deixa para, em meados do passado mês de Dezembro, lhe dedicarem artigos de primeira página em múltiplas versões online, a que deram o título de “O cavalo do inglês”. E quem, entre nós, nunca ouviu falar da história do cavalo do inglês?
Mas que história é esta digna de comparação com as actuais dificuldades que temos de enfrentar? E de onde vem? E porque havemos de citar, com um provincianismo de brilho no olho, o cavalo do inglês quando temos um luso e lusófono exemplo no alentejano burro que o cigano matou à fome? Desconhecendo eu genealogia mais distante, sei, porém, que tal história é divulgada em Oliver Twist (1836-1839) de Charles Dickens, cujo bicentenário em breve se celebra; Oliver Twist, or, the Parish Boy’s Progress que é, de longe, o romance daquele autor mais traduzido entre nós, pois conta com 17 versões traduzidas, portanto, 17 textos diferentes, que desde 1863 circulam entre nós, visando públicos diversos, em publicação primeiro periódica em folhetim e depois em volume. Esse mesmo, que porventura conhece como o Oliveiros Twist, de Carlos Dickens. E daqui a nada se inclui a competente citação, recorrendo às palavras que a tradutora Fernanda Pinto Rodrigues emprestou a Dickens em 1981, na coleção “Livros de Bolso Europa-América”. Trata-se de um excurso em que o narrador, irónico e crítico, ataca as agruras a que a famigerada “Poor Law”, de 1834, submeteu todos os necessitados de auxílio por falta de meios, condenando-os ou a morrer à fome livremente, porque sem qualquer apoio, ou a ingressar num asilo para, com apoio, de fome morrer lentamente. E serve tal excurso de introdução ao sistema alimentar a que a ama submete as crianças que acolhe, entre as quais se encontra o nosso herói, Oliver Twist. Eis então o que o narrador nos conta:
“Toda a gente sabe a história do outro filósofo experimental que formulou uma grande teoria acerca de um cavalo poder viver sem comer e que a demonstrou tão bem que reduziu a ração do seu próprio cavalo a uma palha por dia e, inquestionavelmente, o teria transformado num animal muito fogoso e vivo, sem comer absolutamente nada, se ele não tivesse morrido exactamente vinte e quatro horas antes da sua primeira e reconfortante refeição de ar.”
(in: Oliver Twist. De Charles Dickens. Tradução de texto integral de Fernanda Pinto Rodrigues. Mem-Martins: Publicações Europa-América, 1981. 20)
Aqui deixo, pois, uma história do cavalo do inglês.
Alexandra Assis Rosa
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