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Começo esta crónica com uma fotografia de um dos meus
ídolos: Johan Cruyff. Não só pelo seu exemplo e inspiração enquanto jogador mas
também pelo seu papel de treinador. A sua estratégia de pensar o futebol desde
as camadas mais jovens deixou marcas profundas nos «seus» Ajax e Barcelona. E
se eu tivesse que resumir Cruyff em duas palavras estas seriam: génio e líder. E
é sobre liderança que irá incidir esta crónica. Geralmente associamos esta
qualidade a grandes comandantes militares e/ou políticos tais como Temístocles
ou Abraham Lincoln. Há muita discussão sobre quais são os atributos de um líder
e como identificá-los. Esta busca pelo líder perfeito tem marcado a Humanidade
ao longo dos tempos. Há várias análises que enfatizam qualidades diferentes mas
há uma característica que eu diria que é constante: a capacidade de pensar por si
próprio e muitas vezes contra-corrente. Esta é a ideia central do texto de William Deresiewicz intitulado «Solitude and Leadership». Nos dias de
hoje com tanta informação e ruído é por vezes muito difícil escapar das muitas análises
que abundam nos media. No fundo, é mais difícil pensarmos por nós próprios.
Esta realidade afecta todas as actividades humanas e o futebol
não é excepção. Mais ainda quando falamos deste desporto ao mais alto nível. Em
relação aos jogadores há por vezes muita discussão sobre quem deve ser capitão.
Deve ser o melhor jogador ou aquele que é reconhecido pelos outros como líder?
Se é certo que se percebe a decisão de Alejandro Sabella de optar por Leo Messi
ninguém tem dúvidas que o «patrão» da equipa é Javier Mascherano, cuja alcunha
diz tudo: El Jefecito. Esta liderança foi evidente ao longo da Copa no seu exemplo de entrega
incondicional, exibições fabulosas e pela sua actuação nos momentos mais
difíceis e tensos. Foi Mascherano quem incentivou o guarda-redes Romero antes
da marcação das grandes penalidades face à Holanda de Louis van Gaal. Ser capaz
de o fazer num momento em que estava em «jogo» uma final mundial é um sinal
claro de quem sabe liderar.
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Voltando à escolha de um capitão, são os jogadores que decidem
tal como no Barcelona? Ou é o treinador como no caso de Mats Hummels do
Borussia Dortmund? Uma das primeiras medidas do novo seleccionador brasileiro Dunga foi a de passar a
braçadeira de capitão a Neymar. Thiago Silva não gostou mas é uma excelente
decisão de Dunga que reforça a equipa. Para percebermos esta opção basta
olharmos para o ex-capitão e a (má) gestão emocional dos jogos do Brasil e em
especial os oitavos-de-final contra o Chile, no fim do qual se isolou e pediu
para ser o último de toda a equipa (mesmo depois do guarda-redes Júlio César) a
marcar um dos penalties. Um dos aspectos mais cruciais para Dunga é ultrapassar
a derrota emocional dos canarinhos e a humilhação em casa.
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A capacidade de liderança é ainda mais crucial quando
falamos de treinadores. Há muitas «teorias» sobre o que deve ser um excelente
treinador. É fundamental ter sido jogador de futebol? E mais ainda um craque?
Há muitos que fazem esta associação mesmo em relação a
bons treinadores argumentando que estes seriam ainda melhores. E se olharmos
para a última equipa que conseguiu vencer o troféu europeu duas vezes seguidas,
o Milan de 1989 e 1990, temos vários exemplos de craques que seguiram esse caminho,
embora com sortes diferentes. Desde Ruud Gullit cuja última equipa treinada foi
o Terek Grozny (clube checheno do qual não tem boas memórias) passando a
dedicar-se ao comentário desportivo a Marco Van Basten que é actualmente treinador-adjunto
do AZ Alkmaar depois de ter estado à frente da selecção laranja sem sucesso. Há
ainda Alessandro Costacurta que depois de ter feito parte da equipa técnica de
Ancelotti no Milan foi treinador durante … catorze jogos no Mantova em 2008.
Com maior sucesso, temos Mauro Tassotti (de quem Luis Enrique não guarda boas
recordações) que é o eterno treinador-adjunto do Milan e o consistente Roberto Donadoni,
treinador do Parma há cinco épocas depois do Cagliari ou do Nápoles e da
selecção italiana de 2006 a 2008.
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Mas são sem dúvida Frank Rijkaard e Carlo Ancelotti que
saltam à vista. O holandês esteve em vários clubes e terminou a sua carreira de
treinador em 2013. Mas foi à frente do Barcelona durante cinco épocas que
atingiu a glória e vários títulos, dos quais uma Liga dos Campeões em 2006. E
depois temos Carlos Ancelotti que venceu, entre outros, mais três Ligas dos
Campeões enquanto treinador: duas pelo seu Milan em 2003 e 2007 (e o «quase» de
2005 face ao Liverpool) e a «Décima» do Real Madrid. Tendo em conta os troféus
de 1989 e 1990 enquanto jogador Ancelotti levantou a taça europeia … cinco
vezes.
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O que torna Ancelotti excepcional? Há quem diga que é a
sua flexibilidade, ou seja, Ancelotti adapta-se ao clube onde está e tenta
tirar o maior proveito da cultura táctica e dos recursos existentes. Há quem diga
também como o agora regressado Jesé que o facto de ter sido jogador faz toda a diferença. Mas há um aspecto crucial na
carreira do treinador italiano que é a sua capacidade de gerir os egos dos seus
jogadores e é muito revelador que não se conheçam atritos significativos com as
estrelas que já treinou. E este Real Madrid é de facto um
conjunto de super-estrelas.
Se olharmos para os treinadores das melhores equipas
europeias e selecções a nível mundial constatamos que há, de facto, muitos que foram
bons jogadores e, em alguns casos, verdadeiros craques como Pep Guardiola. No
entanto, não será exagerado o peso que é dado a este elemento quando avaliamos
a capacidade de liderança de um treinador? Bem temos então de olhar para o nome
incontornável de … José Mourinho. Já tudo se disse sobre este treinador que é
de facto um líder. A sua entrada num meio mediático tão agressivo como o inglês
no Verão de 2004 com a célebre frase «Please don’t call me arrogant, but I’m European
champion and I think I’m a special one» diz tudo sobre Mourinho. Eu não aprecio
o estilo e as tácticas de Mourinho mas a sua qualidade é indubitável. Lembro-me
sempre da final da Liga dos Campeões em 2010 em que o Inter fez um jogo
perfeito contra o Bayern Munique. E ainda há pouco tempo Sir Alex Ferguson elogiava o português dizendo que era um exemplo de mérito e «uma
raridade para quem não foi um jogador de topo». E outro jogador-treinador
também escocês, Graeme Souness, afirmou que ninguém fazia
pressão sobre os árbitros como Mourinho. Sem dúvida que Mourinho pode ser a
excepção à regra mas o certo é que ninguém fica indiferente a este treinador.
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Outra notícia que fez correr muita tinta durante o Natal
e Ano Novo foi a decisão do Atlético Madrid de ir buscar «emprestado» Fernando
Torres ao Milan trocando-o por Alessio Cerci. À primeira vista parece que esta
decisão foi feita mais com o coração do que a razão. Para o Atlético este não é
um jogador qualquer. É o regresso a casa sete anos e meio depois de um herói colchonero: El Niño. Torres saiu de
Madrid para o Liverpool onde «explodiu». No entanto, a ida para o Chelsea
(apesar dos troféus) e em particular estes meses no Milan não lhe correram bem.
El Niño disse-o claramente: «tenho saudades do jogador que fui».
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Mas esta é uma excelente decisão por parte dos dirigentes
e treinador do Atlético de Madrid. Como explica o cronista Sid Lowe, mesmo que Torres não volte aos seus dias de
glória a decisão do clube de o ir buscar num momento em que o Atlético está em
alta cimenta a nação colchonera. Mas
há outro aspecto que me impressiona muito. Esta foi também uma decisão de
Simeone que deu garantias de ficar no Atlético pelo menos até ao final da próxima época. É a
aposta de um treinador que tem tido propostas de clubes milionários e que será
de certeza um dia treinador da Albiceleste.
Simeone já está no coração dos adeptos rojiblancos
pelo modo como percebeu a identidade do clube. E não é só pelo facto de ter
sido jogador. Basta vê-lo durante um jogo no Vicente Calderón e os seus pedidos
de apoio ao público, que lhe responde de forma inequívoca. E concordo com Sid
Lowe que se Simeone for capaz de fazer «regressar» Torres à sua glória deixará um legado inesquecível.
A capacidade de Simeone como treinador é evidente pelo
modo como transformou os seus jogadores. Por exemplo, Arda Turan passou a ser
um criativo trabalhador e Koke é, sem
dúvida, parte do futuro do meio-campo espanhol. Para além de jogadores como Juanfran que acreditam que só Simeone é capaz de fazer Torres
voltar aos bons velhos tempos, ouvimos o mesmo de Fabio Capello.
Simeone percebeu o que está em jogo e liderou o regresso
daquele que foi o seu capitão rojiblanco. A resposta dos colchoneros ao seu líder e ao seu herói foi
impressionante: o Vicente Calderón chegou às 45 000 pessoas.
Assim sabe bem regressar a casa.
Raquel
Vaz-Pinto
Sem sombra de dúvida que o Mourinho é um treinador competente e que é um gajo que tem a sua piada se, ao contrário do que faz a imprensa portuguesa, não levarmos a sério as suas declarações. Todas as suas declarações públicas são feitas com reserva mental, com o único objectivo de satisfazer interesses seus e/ou do seu clube. No início da sua carreira este tipo de actuação, nomeadamente por ser novidade e por se desconhecer a sua forma de actuar, foi bastante eficaz, sobretudo ao nível de motivação de jogadores e adeptos.
ResponderEliminarPorém, ao fim de tantos anos acho que actualmente ninguém - com excepção da imprensa portuguesa, repita-se - leva à letra o que ele diz.
Ao fim de 10 anos já cansa, por exemplo, ouvir a cada época que os árbitros querem prejudicar a sua equipa e que o calendário foi feito de forma a favorecer os adversários.
Também é bom não esquecer os seus comportamentos que ultrapassaram os limites do mínimo ético e que em Portugal foram vistos como actuações heróicas. Lembre-se a este propósito e a título de exemplo a espera que fez a um árbitro no final de um jogo junto ao carro deste, ou a pressão que exerceu sobre o árbitro internacional Anders Frisk que o levou a abandonar a arbitragem, (http://www.maisfutebol.iol.pt/internacional-frisk/520a7fe43004bc615fd0216c.html), isto para não falar no modo como tratou Casillas, mostrando neste episódio que não tem qualquer pudor em "sacrificar" um ser humano para atingir os seus objectivos.
No que concerne ao Ancelotti concordo inteiramente com a sua análise. E também neste ponto é importante fazer a comparação com o que dizia Mourinho e a imprensa portuguesa que o repetia. Na altura a sua saída do Real deveu-se ao facto, segundo a sua narrativa, que os jogadores passavam mais tempo ao espelho do que a jogar futebol e que era impossível fazer mais do que ele fez com um grupo de primas-donas como eram os jogadores do Madri... Afinal, Ancelotti, com basicamente os mesmos jogadores, mostrou que era, por um lado, possível ganhar e, em segundo lugar, que era possível ganhar ser necessário adoptar as estratégias de uma equipa da 2.ª divisão.
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