quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Santiago




Santiago de Compostela

Fotografia de António Araújo




Santiago


Escrevo pela tua mágoa, sentado diante da chuva,
numa arcada de Santiago, entre pombos que nunca
leram Cunqueiro, nem Ferrín, nem os antigos
vates cansados do passado, nem atravessaram


as neves de Ribadavia ou os areais de Villagarcía
a meio do Outono, quando os carvalhos mais escuros
emudecem entre os ribeiros. Imagino que chegas
a esta praça uns meses depois, entre os velhos


granitos das ruas e as arcadas do crepúsculo – é
a velha Galiza caída sobre o lado esquerdo do mar,
rouca, frequentando as bibliotecas e os caminhos
que nunca terminam, esperando as romarias,


dançando nos bosques, observando as ruínas.
Mesmo assim escrevo pela tua mágoa, escrevo
há muito por ela, pelos seus passos em ruas estranhas,
como uma consolação imperfeita, cardíaca, lunar.



Francisco José Viegas 




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