Saiu há pouco Némesis, de Misha Glenny, um
interessantíssimo livro-reportagem sobre a vida de «Nem da Rocinha», que durante
anos foi o «dono» da principal favela do Rio. O livro de Glenny não tem o
fulgor de outras obras, como o impressionante testemunho Abusado, de Caco Barcellos (não publicado entre nós…). Aliás, Antônio Francisco Bonfim Lopes, «Nem
da Rocinha», não foi sequer um típico «dono de morro»; longe disso, o que até talvez o
torne uma personagem mais singular do que os seus comparsas no crime a alta
escala. Némesis recomenda-se – e muito
– como um exemplo de reportagem minuciosa, sendo um guia informado pelos
labirintos do tráfico de coca, percorridos a um ritmo alucinante graças à
mestria narrativa de Misha Glenny. Talvez percebamos melhor do que falamos ao
ver a imagens do ouro que os traficantes do Complexo do Alemão trazem ao pescoço. Símbolos de poder,
marcas de ostentação, estas correntes milionárias são também grilhetas, num
certo sentido. Mesmo quando teve oportunidade de escapar da favela, rumo à
clandestinidade e ao anonimato, Nem da Rocinha foi incapaz de fazê-lo. Para o
bem ou para o mal, estava aprisionado ao morro onde cresceu. Por uma pesada corrente
de ouro, pó – e sangue.
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