Perante a minha
surpresa com a velocidade do pôr-do-sol em Salvador da Bahia, um verdadeiro
ocaso em fast-forward, uma amiga nativa dizia-me que ali o sol não se punha.
Suicidava-se.
Anda lá perto a
sensação que dá o entardecer na passagem à hora de Inverno: o dia que se vai
num repente, um tombo do astro a que falta, hélas, o mesmo astral.
Para consolar os
espíritos, saia então Le
Soir, de Mel Bonis.
Compositora formidável
de fim de século, não só compôs a rodos como conseguiu que lhe publicassem as
partituras -- feito propriamente extraordinário quando não eram assinadas por
um homem. Quase tão extraordinário como o melodrama da história desta mulher,
que bem podia ter inspirado Os Maias do Eça. Casada com um
homem 50 anos mais velho, apaixona-se por alguém da sua idade, com quem terá um
filho que manterá secreto durante 25 anos. É esse jovem que, convidado para uma
soirée-concerto na casa da mãe, cuja identidade, porém, ele desconhecia, calha
apaixonar-se pela filha “legítima” de Mel – sua meia-irmã. Outro amor
recíproco, portentoso e agora catastrófico de impossível, que deixou toda a
gente de rastos com o desgosto.
Mas ide em paz enquanto
há castanhas, bom Inverno e boa sorte.
Manuela Ivone Cunha
Adorei este Le Soir. E interessei-me pela história desta mulher.
ResponderEliminarO romantismo trágico no seu esplendor. Caído no anonimato mais profundo.
José Liberato