Segóvia é uma cidade da Comunidade Autónoma de Castela e Leão, capital de
província e declarada Património da Humanidade pela UNESCO.
Nela avultam os seus belíssimos alcazar e aqueduto romano:
São numerosas as igrejas românicas. Distingue-se a Igreja de San Millan
construída no Século XII. Que nos revela uma enorme surpresa.
Um fresco de São Cristóvão cinocéfalo! Ou seja, com cabeça de cão.
Já qui mencionei representações de São Cristóvão com cabeça de cão. Em especial no Oriente e no contexto da Igreja Ortodoxa. Mas é o primeiro que encontro em plena Europa Ocidental e no centro da Cristandade. Esta imagem relaciona-se com o mito, também justificado pelo seu gigantismo, de que São Cristóvão pertencia, antes da conversão, a tribos meio animais e mesmo canibais.
Edward Wilson-Lee no seu recente livro “A torre dos segredos”, sobre Luís de Camões e Damião de Góis, aborda o tema.
Segundo Luís de Camões, o s navegadores portugueses teriam ficado muito
chocados com os deuses indianos muitas vezes com traços animalescos ou sendo
figuras híbridas de animal e ser humano. Se lermos as estrofes 47 e 48 do Canto
VII dos Lusíadas vemos registadas estas impressões:
47
Ali estão das deidades as figuras
Esculpidas em pau e em pedra fria;
Vários de gestos, vários de pinturas,
A segundo o Demónio lhe fingia:
Vêem-se as abomináveis esculturas,
Qual a Quimera em membros se varia:
Os Cristãos olhos, a ver Deus usados
Em forma humana, estão maravilhados.
48
Um na cabeça cornos esculpidos,
Qual Júpiter Amon em Líbia estava;
Outro num corpo rostos tinha unidos,
Bem como o antigo Jano se pintava;
Outro com muitos braços divididos
A Briareu parece que imitava;
Outro fronte canina tem de fora,
Qual Anúbis Menfítico se adora.
A tese de Wilson-Lee é que se trata de um manifesto exagero porque também
existiam na Igreja cristã representações com características animalescas. Cita
os exemplos das imagens dos evangelistas representados por animais e o da
Igreja de San Millan em Segóvia, onde existe este São Cristóvão cinocéfalo.
Não muito longe, Medina del Campo é a cidade onde em 26 de Novembro de 1504
morreu Isabel a Católica.
A Colegiada de San Antolin, um dos principais monumentos da cidade, adquiriu
a sua estrutura actual no Século XV. Foi elevada a Colegiada pelo Papa Sixto IV
em 1480, a pedido dos Reis Católicos.
À entrada, um fresco muito deteriorado de São Cristóvão, de grandes
proporções como habitualmente:
José Liberato
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