domingo, 20 de agosto de 2023

São Cristóvão pela Europa (226).

 


 

Dediquei há dois anos vários posts à cidade de Veneza.

Voltei agora e encontrei mais imagens de São Cristóvão.

A começar por um dos mais icónicos monumentos da cidade: o Palácio Ducal mais conhecido como Palácio dos Doges.




A Sala do Grande Conselho é uma das mais imponentes do Palácio.

Era onde reunia o órgão legislativo da República e onde se elegia o doge.

Merece a pena mencionar o muito complexo (e exótico) processo de eleição do doge, conforme nos é apresentado pela escritora Jan Morris (1926-2020).

Sorteavam-se nove membros do Conselho. Esses nove escolhiam 40 eleitores, mas cada um tinha de ser aprovado por sete. Destes 40 sorteavam-se 12. Estes 12 escolhiam 25. Entre os 25 sorteavam-se nove. Estes 9 escolhiam 45. Dos 45 sorteavam-se 11, estes escolhendo 41.

Os 41 reuniam-se e elegiam por maioria de 25 o doge. Tudo se passava evidentemente no universo da aristocracia veneziana, mas com o objectivo de limitar a influência de cada família em particular. Imagino, contudo, que as grandes famílias apenas tiveram de se adaptar ao sistema.

A Sala do Grande Conselho ardeu em 1577 e teve de ser parcialmente refeita.

Ponto crucial da sala é a imensa tela da autoria de Tintoretto (1518-1594), O Paraíso. Trata-se de uma das maiores telas jamais pintada com uma largura de quase 23 metros contendo cerca de 500 figuras.

Foi o resultado de um concurso público ganho aliás por Veronese. Tendo este sido surpreendido pela morte, entrou em cena Tintoretto, o filho e a sua escola.

O escritor Robert Dessaix (nascido em 1944) ironiza acerca da tela e opina que o Paraíso de Tintoretto não é propriamente muito apetecível.




Entre as centenas de santos e bem-aventurados é possível divisar o nosso São Cristóvão:

 



Apresenta-se de uma maneira original. Não há Menino Jesus, talvez por o próprio Jesus Cristo estar representado adulto no centro da tela. Ele próprio transporta o globo celeste encimado pela cruz. Ajuda Raquel, a figura bíblica, e várias crianças a atravessar um rio. Uma destas crianças é uma filha do pintor.

 

Noutra área do Palácio, uma imagem de madeira pintada e dourada do Século XVIII representa o nosso Santo

 


E, cume da presença de São Cristóvão no Palácio, o famosíssimo fresco de Tiziano (1488/1490-1576), paradigma de muitas representações do Santo no mundo inteiro, pintado em 1523-1524 num autêntico vão de escada nos aposentos privados do doge:

 

 

Veneza está na linha do horizonte.

 

Ticiano faz-nos lembrar a belíssima Basílica Santa Maria Gloriosa dos Frades em Veneza. Nela, avultam outra obra-prima de Tiziano, a Assunção da Virgem, recentemente restaurada, e o monumento em sua memória, erigido pelos Austríacos num acto político:

 



E no coro, o cadeiral em madeira tem numa imagem de São Cristóvão:

 


                                                               Fotografias de 28 de Julho de 2023

 

                                                               José Liberato

 

 


3 comentários:

  1. Espectacular! "o famosíssimo fresco de Tiziano (1488/1490-1576) é de facto a mais bela de todas as que já nos apresentou.

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    1. Muito obrigado pelo comentário. Tiziano está realmente a um plano superior.

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  2. Numa palavra " Lindo ", a tela do nosso Santo, calculo que seja enorme é das mais bem conseguidas que já vi.
    Quanto à nomeação do doge, confusa mas interessante e muito democrática para a época.
    Como sempre interessante a sua partilha, obrigado.
    Um abraço...

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