Dediquei há dois anos
vários posts à cidade de Veneza.
Voltei agora e encontrei
mais imagens de São Cristóvão.
A começar por um dos mais
icónicos monumentos da cidade: o Palácio Ducal mais conhecido como Palácio dos Doges.
A Sala do Grande Conselho
é uma das mais imponentes do Palácio.
Era onde reunia o órgão
legislativo da República e onde se elegia o doge.
Merece a pena mencionar o
muito complexo (e exótico) processo de eleição do doge, conforme nos é
apresentado pela escritora Jan Morris (1926-2020).
Sorteavam-se nove membros
do Conselho. Esses nove escolhiam 40 eleitores, mas cada um tinha de ser
aprovado por sete. Destes 40 sorteavam-se 12. Estes 12 escolhiam 25. Entre os 25
sorteavam-se nove. Estes 9 escolhiam 45. Dos 45 sorteavam-se 11, estes
escolhendo 41.
Os 41 reuniam-se e
elegiam por maioria de 25 o doge. Tudo se passava evidentemente no universo da
aristocracia veneziana, mas com o objectivo de limitar a influência de cada
família em particular. Imagino, contudo, que as grandes famílias apenas tiveram
de se adaptar ao sistema.
A Sala do Grande Conselho
ardeu em 1577 e teve de ser parcialmente refeita.
Ponto crucial da sala é a
imensa tela da autoria de Tintoretto (1518-1594), O Paraíso. Trata-se de
uma das maiores telas jamais pintada com uma largura de quase 23 metros
contendo cerca de 500 figuras.
Foi o resultado de um
concurso público ganho aliás por Veronese. Tendo este sido surpreendido pela
morte, entrou em cena Tintoretto, o filho e a sua escola.
O escritor Robert Dessaix
(nascido em 1944) ironiza acerca da tela e opina que o Paraíso de Tintoretto
não é propriamente muito apetecível.
Entre as centenas de santos e bem-aventurados é possível divisar o nosso São Cristóvão:
Apresenta-se de uma maneira original. Não há Menino Jesus, talvez por o próprio Jesus Cristo estar
representado adulto no centro da tela. Ele próprio transporta o globo celeste
encimado pela cruz. Ajuda Raquel, a figura bíblica, e várias crianças a atravessar
um rio. Uma destas crianças é uma filha do pintor.
Noutra área do Palácio, uma imagem de madeira pintada e dourada do Século XVIII representa o nosso Santo
E, cume da presença de
São Cristóvão no Palácio, o famosíssimo fresco de Tiziano (1488/1490-1576), paradigma
de muitas representações do Santo no mundo inteiro, pintado em 1523-1524 num
autêntico vão de escada nos aposentos privados do doge:
Veneza está na linha do
horizonte.
Ticiano faz-nos lembrar a
belíssima Basílica Santa Maria Gloriosa dos Frades em Veneza. Nela, avultam
outra obra-prima de Tiziano, a Assunção da Virgem, recentemente restaurada, e o
monumento em sua memória, erigido pelos Austríacos num acto político:
E no coro, o cadeiral em madeira tem numa imagem de São Cristóvão:
Fotografias de 28 de
Julho de 2023
José Liberato
Espectacular! "o famosíssimo fresco de Tiziano (1488/1490-1576) é de facto a mais bela de todas as que já nos apresentou.
ResponderEliminarMuito obrigado pelo comentário. Tiziano está realmente a um plano superior.
EliminarNuma palavra " Lindo ", a tela do nosso Santo, calculo que seja enorme é das mais bem conseguidas que já vi.
ResponderEliminarQuanto à nomeação do doge, confusa mas interessante e muito democrática para a época.
Como sempre interessante a sua partilha, obrigado.
Um abraço...