sexta-feira, 10 de julho de 2015

Justiça.





 
 
Já falei aqui do escândalo dos manuais escolares em Portugal. Há quem lute contra isto, quem tenha coragem de defender… a aplicação daquilo que há muitos e muitos anos está na lei, em sucessivos pareceres do Conselho Nacional de Educação. Existe um movimento, caso não saibam. Chama-se Reutilizar.org. É um paliativo contra uma situação vergonhosa que se arrasta ano após ano, governo após governo, sem que ninguém, à direita ou à esquerda, tenha a coragem de lhe pôr cobro, indo contra interesses instalados num sector que movimenta milhões. Milhões de euros pagos por si, por mim, por milhares de pais e encarregados de educação. Todos os anos, em Setembro, chega a factura. Gorda e vultuosa. Só um dos (vários) livros da minha filha mais velha, aluna do 10º ano, custou mais de 40 euros (!). Em cada Setembro, uma família com dois ou três filhos gasta 400 ou 500 euros em livros e material escolar. Não seria altura de acabar com isto? Para mais, em tempo de crise e cortes nos rendimentos das famílias?
O Reutilizar.org apresentou queixa ao Provedor de Justiça. A ver vamos. A lei que estabelece que os manuais escolares vigoram por um período de seis anos não é cumprida. Diz o Reutilizar.org e digo-o eu, por experiência própria. Há sempre, mas sempre, um motivo para não cumprir a lei. Alteração de «programas», mudança das «metas curriculares», tudo serve para justificar a entrada no mercado de novos manuais escolares – e a saída, do bolso dos portugueses, de milhares de euros que vão direitinhos para as editoras que monopolizam este sector chorudo. Já que os sucessivos governos não tiveram coragem de acabar com isto – e, pelo contrário, até ajudam à festa com constantes alterações de programas e curricula – esperemos que o Senhor Provedor faça aquilo que lhe dá o nome: Justiça.
 
 
António Araújo
 

4 comentários:

  1. Uma luta que vale a pena. Talvez valha a pena enviar uma exposição à Comissão de Igualdade Direitos e Garantias da AR e, já agora, aos lideres dos gabinetes parlamentares.

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  2. Completamente de acordo. Situação iniqua. O meu filho mais novo acaba agora o 12º ano. Vou entregar os livros dele daqui a poucos dias à Associação de Pais do Liceu Pedro Nunes, que costumam pedir. Este monopólio editorial tem pura e simplesmente de ser arrasado de uma vez por todas.
    Maria Teresa Mónica

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  3. E, como projecto diferente na área, existe a reler.org que permite às famílias e instituições venderem e comprarem manuais usados, com garantias e fatura.

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  4. Ola,

    Pois. Ja me cansei de refutar sofistas que pretendem protestar contra esta iniciativa de bom senso em nome, calcule-se, do "direito" dos autores de manuais viverem dos seus trabalhos (sabemos que normalmente os autores de manuais escolares são professores que fazem este trabalho, por prazer e liberalidade, fora das suas horas de trabalho). Ou ainda, economistas de trazer por casa que acham que pode haver aqui um atentado às regras de concorrência. Como se a General Motors ou a Volvo fossem protestar contra os sucateiros ou contra o mercado de segunda mão...

    Existe um principio antigo, julgo que ja vem nos elementos de Euclides, que diz que a estupidez, quando se desenvolve, tende a fazê-lo de forma exponencial...

    Abraço

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