Rita,
então tu julgavas que eu não ia ver o filme que me deste? Pois vi, e vi ontem, parva. O êxtase
é muito, e aqui o partilho. Muchos hijos,un mono y un castillo foi das coisas mais divertidas e comoventes que me
entraram pelo espírito nos últimos e confinados meses. O filme, um documentário rodado por
Gustavo Salmerón durante 14 anos (será possível?), tem uma protagonista
hegemónica, retumbante e esmagadora: a sua mãe. Julita Salmerón, assim se chama
o portento (numa das entrevistas a propósito do filme, o realizador diz que o
pai é também co-protagonista, mas coitado dele). Bigger than life, telúrica, torrencial o que quiserem, Julita Salmerón é
Espanha por uma pena (o filme, aliás, começa com ela a beber chocolate quente e a comer bolachas, melhor era impossível). Depois, subimos por ali acima – muitos filhos,
um macaco, um castelo – e descemos em voo picado até à crise de 2008 e à hipoteca
devastadora. Uma montanha-russa emocional trazida com imensa mestria por Gustavo
Salmerón, sobre a qual choveram prémios atrás de prémios, todos mais que
merecidos. Está ali Espanha inteira, em casas atafulhadas de objectos (morte a ti, Marie Kondo!), cada
qual trazendo uma recordação da vida de uma mulher poderosa – ou, como lá
dizem, tremenda. Sobre o filme
choveram prémios. É bom que sobre ele também chova a sua atenção. Quando um
documentário nos faz rir e chorar, em doses variáveis, talvez a culpa seja
nossa – porque o documentário, esse, é perfeito e sem mácula. Quanto a ti,
Rita: obrigado, dos abismos do meu coração.
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